Angina de Ludwig: diagnóstico, tratamento e prevenção
A angina de Ludwig é uma celulite bacteriana profunda do assoalho oral que pode evoluir rapidamente para obstrução das vias aéreas e sepse. Na prática, trata‑se de uma emergência otorrinolaringológica e odontológica: o quadro costuma surgir a partir de uma infecção odontogênica em molares inferiores e progride pelos espaços submandibulares, sublinguais e submentonianos. Reconhecimento precoce e tratamento imediato reduzem morbidade e mortalidade.
Angina de Ludwig: causas e fatores de risco
Infecção odontogênica
A origem mais comum é um abscesso dentário de dentes posteriores inferiores. A flora é polimicrobiana, com anaeróbios e streptococos orais frequentes. A disseminação ocorre pelos planos fasciais do pescoço, favorecida por drenagem inadequada ou atraso no tratamento odontológico.
Imunossupressão e comorbidades
Pacientes com diabetes mellitus, desnutrição, uso de imunossupressores ou abuso de álcool têm maior risco de evolução agressiva. O controle glicêmico e a avaliação de fatores sistêmicos são essenciais na abordagem inicial.
Angina de Ludwig: sinais e sintomas
O quadro clínico costuma progredir em dias e inclui:
- Inchaço doloroso submandibular e sublingual, frequentemente bilateral;
- Dificuldade para falar (fala com a boca cheia) e para engolir (disfagia);
- Salivação excessiva e voz abafada;
- Febre, taquicardia e sinais sistêmicos quando há evolução para sepse;
- Sinais de obstrução das vias aéreas: estridor, uso de musculatura acessória e dessaturação.
Obstrução das vias aéreas
O edema do assoalho da boca pode deslocar a língua para cima e para trás, reduzindo o calibre da orofaringe. Avaliar prontamente risco de comprometimento das vias aéreas e preparar ventilação/traqueostomia se necessário.
Angina de Ludwig: diagnóstico
O diagnóstico é clínico, apoiado por exames que avaliam extensão da infecção e gravidade:
- Tomografia computadorizada (TC) de pescoço: define coleções, extensão cervical e risco de mediastinite;
- Hemograma e marcadores inflamatórios: leucocitose, PCR e lactato quando há suspeita de sepse;
- Hemoculturas e cultura do material drenado: orientam ajuste de terapia antimicrobiana.
Uma anamnese dirigida e exame físico detalhado são cruciais — veja orientações práticas sobre anamnese e exame físico em consultório em Guia prático de anamnese e exame físico.
Angina de Ludwig: tratamento emergencial
Manter as vias aéreas
Priorize a segurança das vias aéreas. Em pacientes com sinais de obstrução, planeje intubação endotraqueal por equipe experiente ou traqueostomia de urgência. A intubação pode ser difícil; tenha equipamento para via aérea difícil e equipe de otorrinolaringologia disponível.
Antibióticos de amplo espectro
Inicie terapia intravenosa empírica cobrindo anaeróbios e streptococos orais, ajustando conforme cultura e sensibilidade. A prescrição deve seguir princípios de segurança e stewardship; recomendações práticas estão em Prescrição segura e uso racional de antibióticos e em orientações sobre uso racional de antimicrobianos para evitar resistência.
Drenagem cirúrgica e odontológica
Drenagem incisional das coleções purulentas e exodontia do dente origem são passos fundamentais para controle da infecção. Em presença de abscesso localizado, a intervenção precocemente reduz chance de extensão para mediastino.
Monitorização e suporte
Monitorar sinais vitais, balanço hídrico e glicemia; em casos sépticos, seguir protocolos de sepse para suporte hemodinâmico. A integração com equipes de cirurgia bucomaxilofacial, otorrinolaringologia e infectologia melhora desfecho.
Angina de Ludwig: complicações importantes
Complicações potenciais incluem mediastinite descendente, trombose séptica, aderências cicatriciais no pescoço e sepse grave. Identificar sinais de piora e encaminhar para centro terciário quando necessário.
Angina de Ludwig: prevenção e cuidados
Higiene oral e acompanhamento odontológico
Prevenir cáries e tratar infecções dentárias precocemente é a medida mais eficaz. Recomende consultas odontológicas regulares e orientação em higiene oral, especialmente em pacientes com diabetes ou imunossupressão.
Controle de comorbidades
O controle glicêmico em diabéticos e a avaliação nutricional reduzem risco de evolução grave. Para profissionais, estratégias de adesão e educação do paciente são essenciais — veja materiais sobre adesão terapêutica em Adesão terapêutica e educação em consulta.
Angina de Ludwig: orientações finais
Angina de Ludwig é uma emergência odontológica e otorrinolaringológica. Qualquer paciente com dor dental associada a inchaço submandibular, dificuldade para engolir ou alteração da voz deve ser avaliado imediatamente. Iniciar antibiótico IV, manter via aérea e promover drenagem cirúrgica são as medidas que salvam vidas. Para referência clínica e revisão sobre o tema, consulte a monografia na NCBI/StatPearls (StatPearls: Ludwig angina) e material de revisão disponível em fontes médicas confiáveis, como a página de resumo médico (Ludwig’s angina — revisão) e artigos indexados no PubMed (Pesquisa PubMed: Ludwig’s angina).
Se você é profissional de saúde, avalie o risco de evolução e considere internação em unidade com suporte de via aérea e cirurgia bucomaxilofacial. Pacientes devem ser orientados a procurar atendimento diante dos primeiros sinais de infecção dental. Para casos com suspeita de sepse ou deterioração rápida, encaminhe conforme protocolos locais e atualize antibioticoterapia com base em culturas.
Leitura complementar interna recomendada: Guia prático de anamnese e exame físico, Prescrição segura: analgésicos e antibióticos e Uso racional de antibióticos.