Como orientar a triagem e manejo da apneia obstrutiva do sono na atenção primária
Introdução
A apneia obstrutiva do sono (AOS) é frequente e associada a pior qualidade de vida, sonolência diurna e maior risco cardiovascular. Na atenção primária, o objetivo é identificar pacientes com suspeita de AOS de forma eficiente e iniciar medidas que reduzam sintomas e riscos enquanto se organiza o diagnóstico e o encaminhamento apropriado. A integração com a saúde cardiovascular ajuda a priorizar casos e a orientar intervenções. Para apoio em discussões com pacientes e equipes, consulte: saúde cardiovascular.
Triagem eficiente na atenção primária
STOP-BANG e escala de sonolência
Use ferramentas validadas para triagem rápida. O STOP-BANG é simples, sensível e facilmente aplicado em rotina clínica, avaliando ronco, sonolência, apneias observadas, hipertensão, IMC, idade, circunferência cervical e sexo. Complementar com a escala de Epworth ajuda a estratificar impacto funcional. Documente história de sono (ronco, pausas respiratórias, despertares, sonolência diurna) e comunique de forma clara que AOS é uma condição com potenciais consequências clínicas além do ronco.
- Incorpore o STOP-BANG nas fichas de triagem para pacientes com queixa de sono ou ronco.
- Registre sonolência e qualidade do sono para orientar necessidade de encaminhamento.
- Explique ao paciente a relação entre AOS e risco de hipertensão e eventos cardíacos.
Avaliação diagnóstica e encaminhamentos
Polissonografia, HSAT e decisão clínica
A polissonografia completa em laboratório é o padrão-ouro, mas testes domiciliares simplificados (HSAT) são alternativa custo-efetiva em pacientes com alta probabilidade clínica e baixa comorbidade. A escolha depende de disponibilidade local, comorbidades e necessidade de monitorização adicional. Encaminhe para avaliação especializada nos casos de dúvida diagnóstica, sintomas severos ou presença de comorbidades significativas.
- Documente sinais sugestivos (ronco, apneias observadas, sonolência) e fatores de risco (hipertensão, obesidade, diabetes).
- Considere HSAT em pacientes com quadro típico sem comorbidades complexas.
- Encaminhe para polissonografia quando houver suspeita de patologia associada ou quando HSAT não for indicado.
Para integrar orientações sobre fatores cardiometabólicos no manejo, consulte: dieta cardiovascular.
Manejo inicial na atenção primária
Intervenções que podem começar no consultório
Medidas iniciais podem reduzir sintomas e aumentar a adesão ao tratamento especializado:
- Perda de peso e atividade física: redução de 5–10% do peso pode melhorar significativamente a AOS.
- Higiene do sono e medidas posicionais: evitar decúbito dorsal em casos position-dependent; orientar higiene do sono consistente.
- Dispositivos orais (MAD) para AOS leve a moderada quando CPAP não é tolerado e conforme avaliação odontológica.
- Tratamento das comorbidades (hipertensão, diabetes, dislipidemia) que potencializam o risco cardiovascular.
- Esclarecimento sobre CPAP/APAP: explicar benefícios, desafios de adesão e papel da equipe para suporte técnico e ajuste.
Discuta com o paciente como a AOS pode agravar a hipertensão e demais riscos cardíacos; use o recurso cardiovascular quando necessário.
Acompanhamento, adesão e qualidade de vida
O seguimento regular é determinante para resultados. Estruture monitorização e suporte multidisciplinar:
- Avalie adesão ao tratamento (horas de uso de CPAP, conforto da máscara) e ofereça suporte técnico.
- Reavalie pressão arterial, glicemia, lipídios e peso periodicamente.
- Use questionários simples para monitorar sonolência e qualidade do sono nas consultas de rotina.
- Encaminhe para nutricionista, fisioterapeuta respiratório e serviço de sono quando indicado.
Incluir orientação sobre nutrição anti-inflamatória e dieta cardiovascular pode favorecer perda de peso e redução do risco cardiometabólico.
Aspectos especiais e situações clínicas
- Idosos: maior prevalência e comorbidade; ajuste de metas e atenção à tolerabilidade de terapias.
- Mulheres pós-menopausa: apresentação atípica; mantenha alto índice de suspeita.
- Pacientes com diabetes ou hipertensão: manejo integrado é essencial para reduzir riscos combinados.
- Gestantes: AOS na gravidez exige avaliação especializada e acompanhamento próximo.
Telemedicina e inovações no cuidado do sono
A telemedicina facilita acompanhamento remoto de adesão, ajuste de dispositivos e educação do paciente, especialmente para quem tem dificuldade de deslocamento. A integração de dados de CPAP e questionários eletrônicos contribui para decisões clínicas ágeis. Veja orientações práticas em: telemedicina na prática clínica.
Aplicações práticas para a prática clínica
- Adote o STOP-BANG em pacientes com ronco ou sonolência e registre na prontuário.
- Realize avaliação cardiometabólica básica (PA, IMC, circunferência do pescoço, glicemia quando disponível).
- Encaminhe para polissonografia ou HSAT conforme perfil clínico e disponibilidade local.
- Inicie aconselhamento sobre perda de peso, exercício e higiene do sono desde a primeira consulta.
- Ofereça alternativas para quem não tolera CPAP (MAD, terapia posicional) e planeje suporte para aumento de adesão.
- Integre a avaliação de AOS às ações de redução de risco cardiovascular e educação do paciente.
Resumo prático
Na atenção primária, priorize triagem objetiva (STOP-BANG + Epworth), documente sinais e fatores de risco, escolha teste diagnóstico conforme disponibilidade (polissonografia ou HSAT) e inicie intervenções de estilo de vida e suporte às terapias desde o consultório. Promova acompanhamento regular, suporte multidisciplinar e uso de telemedicina quando indicado. Essas ações reduzem sintomas, aumentam adesão e contribuem para a redução do risco cardiovascular associado à apneia obstrutiva do sono.