Avaliação de quedas em idosos na atenção primária
Introdução
Quais pacientes com história de queda precisam de investigação imediata? As quedas em idosos são uma das principais causas de lesões, hospitalizações e morte na população idosa, com impacto físico, psicológico e econômico. Na atenção primária é possível identificar riscos com ferramentas simples e implantar medidas de prevenção de quedas de baixo custo e alto impacto. Este texto orienta a triagem e as intervenções práticas para o consultório.
Por que avaliar quedas na atenção primária?
A avaliação precoce reduz risco de recorrência, fraturas e institucionalização. Estudos e revisões apontam que quedas implicam perda de função, medo de cair e custos elevados — dados resumidos em relatórios acadêmicos como o estudo da Universidade de Coimbra e revisões clínico-práticas. Para recomendações clínicas gerais, consulte fontes consolidadas, por exemplo o Manual MSD sobre quedas em idosos e análises de adesão em atenção primária (USP).
Triagem prática na consulta
1. História clínica focalizada
Pergunte sempre sobre: ocorrência e características da queda, local e hora, atividade realizada, sintomas prévios (tontura, síncope), lesões resultantes e limitações subsequentes. Documente história de quedas anteriores e fatores de risco intrínsecos como idade avançada, distúrbios da marcha, problemas visuais, déficits cognitivos, depressão e distúrbios do sono.
- Fatores intrínsecos: histórico de quedas, alteração do equilíbrio, polipatologias, déficits sensoriais.
- Fatores extrínsecos: iluminação insuficiente, tapetes soltos, falta de corrimão, calçados inadequados.
2. Exame físico e testes rápidos
Realize avaliação objetiva:
- Medir pressão arterial em decúbito e ortostatismo (investigar hipotensão postural).
- Avaliar marcha e equilíbrio: teste Timed Up and Go (TUG), 4-stage balance test ou avaliação da velocidade de marcha.
- Exame neurológico básico e avaliação visual; triagem cognitiva com Mini-Cog ou testes rápidos conforme rotina local.
- Revisão medicamentosa: identifique benzodiazepínicos, sedativos, antidepressivos, antihipertensivos em excesso e fármacos anticolinérgicos.
Registre também fatores ambientais observáveis e solicite avaliação domiciliar quando possível — adaptação do ambiente reduz risco de quedas.
3. Avaliação de risco e encaminhamentos
Classifique risco (baixo, moderado, alto) conforme história e testes. Encaminhe para fisioterapia quando houver alterações de marcha/balance ou força; para oftalmologia se comprometimento visual; e para avaliação farmacológica quando houver polimedicação. Ferramentas locais e protocolos de clínica podem ser integrados à consulta (veja materiais de avaliação e intervenção no ambulatório).
Intervenções eficazes e simples na APS
Intervenções multifatoriais mostram maior eficácia. Priorize medidas de fácil implementação:
- Programas de exercício físico: exercícios de força, equilíbrio e marcha (grupos comunitários ou fisioterapia) reduzem quedas e melhoram função. Promova programas adaptados à capacidade do idoso.
- Revisão de medicamentos: revisar a necessidade de psicotrópicos e antihipertensivos, considerando desprescrição quando indicado.
- Suplementação com vitamina D: em pacientes com deficiência ou alto risco de fratura, de acordo com avaliação clínica.
- Adaptações ambientais: remoção de tapetes soltos, melhoria da iluminação, instalação de barras de apoio e corrimãos — instruções simples que famílias podem executar em casa.
- Educação do paciente e cuidador: calçados adequados, estímulo à atividade física regular e atenção ao risco associado à polimedicação.
Para protocolos de intervenção e materiais práticos, consulte guias de prevenção e conteúdos específicos da nossa clínica: avaliação e intervenção, prevenção em ambulatório e recomendações de fisioterapia integradas em programas de fisioterapia e adaptações ambientais. Fontes acadêmicas complementares incluem o repositório da USP sobre adesão às recomendações na atenção primária: tese sobre adesão.
Desafios de adesão e como superá-los
Aderência a intervenções de prevenção de quedas é um dos maiores obstáculos. Barreiras comuns: resistência a mudar a rotina, subestimação do risco, limitações financeiras e acesso reduzido a programas de exercício. Estratégias práticas:
- Utilize comunicação centrada no paciente e objetivos compartilhados; documente metas funcionais.
- Ofereça alternativas locais: grupos comunitários, atividades em centros de saúde ou exercícios domiciliares orientados.
- Monitore adesão em retorno curto e ajuste intervenções. Recursos educacionais simples aumentam engajamento.
Discussões sobre adesão e implementação são abordadas em estudos sistemáticos e teses; para contexto sobre impacto social e econômico veja o relatório da Universidade de Coimbra: Estudo Geral — avaliação das quedas.
Encerramento: orientações práticas para o consultório
Resumo de ações imediatas que você pode implementar hoje:
- Na triagem inicial, pergunte por quedas nos últimos 12 meses e registre detalhes; faça TUG ou avaliação de marcha.
- Cheque pressão ortostática e revise medicamentos potencialmente nocivos; programar desprescrição quando seguro.
- Indique programas de exercício físico voltados a força e equilíbrio; considere encaminhamento para fisioterapia.
- Oriente familiares sobre adaptações ambientais simples (iluminação, corrimãos, retirar obstáculos).
- Agende retorno breve para reavaliação de adesão e progresso funcional; integre plano com equipe multidisciplinar.
Implementar estas etapas na atenção primária reduz eventos adversos e melhora qualidade de vida. Para materiais práticos, guias locais e protocolos de consultório, veja também: prevenir quedas no consultório e avaliação e prevenção prática. Para referência clínica resumida sobre estratégias e evidências, o Manual MSD oferece síntese prática: MSD Manual.