Doenças inflamatórias intestinais: reconhecimento

Doenças inflamatórias intestinais: reconhecimento

Introdução

Como identificar e quando encaminhar pacientes com suspeita de Doença de Crohn ou Retocolite Ulcerativa? Sintomas comuns — diarreia persistente, perda ponderal, dor abdominal e fadiga — podem mascarar quadros variados. Este texto, voltado para profissionais de saúde, resume abordagem diagnóstica, estratégias de tratamento e critérios práticos de monitorização e encaminhamento na prática clínica.

1. Avaliação inicial e diagnóstico

Anamnese e exame físico

Procure história de sintomas crônicos (>6 semanas), retossangramento, urgência fecal, perda de peso, febre intermitente e manifestações extraintestinais (artrite, lesões cutâneas, uveíte). No exame, avalie sinais de desidratação, massa abdominal, e alterações perianais (fístulas, abscessos) — importantes para estratificar risco.

Exames laboratoriais e biomarcadores

  • Hemograma: anemia, leucocitose.
  • Velocidade de hemossedimentação / PCR: inflamação sistêmica.
  • Calprotectina fecal: sensível para atividade intestinal; útil para distinguir doença inflamatória de funcional.
  • Função hepática e eletrolitos para avaliar toxicidade e estado nutricional.

O uso sequencial de PCR e calprotectina auxilia no seguimento e na decisão de investigação invasiva.

Endoscopia, biópsia e imagem

A colonoscopia com biópsias é padrão-ouro para diagnóstico e diferenciação entre Doença de Crohn e Retocolite Ulcerativa. Para investigação do intestino delgado, prefira imagem por ressonância magnética (enterografia) ou TC enterográfica quando indicado; a ultrassonografia abdominal/intestinal é uma alternativa útil e acessível em seguimento.

Para orientação prática em atenção primária e triagem, consulte recursos locais e protocolos de encaminhamento, como o material sobre doenças inflamatórias intestinais na atenção primária.

2. Objetivos terapêuticos e estratégias

Princípios

Os objetivos são controlar inflamação, induzir e manter remissão, prevenir complicações e preservar qualidade de vida. A escolha terapêutica deve considerar extensão e gravidade da doença, localização (colo vs intestino delgado), presença de complicações (fístulas, estenoses) e fatores do paciente (idade, gravidade, comorbidades).

Escala terapêutica

  • 5‑ASA: útil sobretudo na Retocolite Ulcerativa leve‑moderada de côlon esquerdo ou extensa.
  • Corticoides: eficazes para indução de remissão; evitar uso prolongado e considerar esquema de desmame.
  • Imunossupressores (azatioprina, 6‑mercaptopurina, metotrexato): manter remissão e steroid‑sparing.
  • Terapias biológicas (anti‑TNF, anti‑integrinas, anti‑IL‑12/23): indicadas em doença moderada a grave, falha terapêutica ou complicações. Monitorização de níveis e anticorpos (therapeutic drug monitoring) é recomendada quando disponível.
  • Cirurgia: indicada em complicações (abscesso, perfuração, fístula complexa, estenose sintomática) ou doença refratária.

Para orientações clínicas e algoritmos de manejo ambulatorial, veja o material sobre diagnóstico e manejo ambulatorial e a revisão sobre diagnóstico, monitoramento e terapias personalizadas.

Nutrição e suporte

A intervenção nutricional é componente-chave: correção de déficits, avaliação de desnutrição e suplementação (ferro, vitaminas) quando necessário. Dietas específicas (p.ex. baixa em FODMAPs, SCD) ainda têm evidência limitada e devem ser individualizadas junto a equipe de nutrição. Discuta adesão e educação terapêutica — a comunicação para melhorar adesão impacta diretamente resultados clínicos (técnicas de adesão).

3. Monitorização da atividade da doença e critérios de encaminhamento

Parâmetros de monitorização

  • Avaliação clínica periódica: frequência de evacuações, dor abdominal, sangramento, sinais sistêmicos.
  • Biomarcadores: calprotectina fecal para atividade intestinal; PCR para inflamação sistêmica.
  • Exames hematológicos e bioquímicos: hemograma, eletrólitos, função hepática, monitorização de drogas (TOX, níveis séricos quando indicado).
  • Imagem/endoscopia: repetir colonoscopia para avaliar cicatrização mucosa quando objetivo terapêutico exigir (terapia de ponta ou dúvida diagnóstica).

Sinais de alerta para encaminhar com prioridade

Encaminhar para gastroenterologia ou emergência quando presente:

  • Quadro de febre alta, taquicardia, leucocitose intensa ou suspeita de megacólon tóxico.
  • Sangramento maciço, instabilidade hemodinâmica ou anemia aguda.
  • Dor abdominal intensa com massa palpável (possível abscesso) ou suspeita de perfuração.
  • Perda ponderal progressiva, recusa alimentar, falha de terapias de primeira linha.
  • Complicações perianais (fístulas complexas, abscessos) — frequentemente requerem avaliação multidisciplinar com cirurgia.

Estabeleça fluxo de encaminhamento local e protocolos de urgência; guias nacionais (GEDIIB) oferecem recomendações práticas para triagem e manejo inicial.

Referências e recursos práticos

As diretrizes da GEDIIB (consensos para Doença de Crohn e Retocolite Ulcerativa) e documentos internacionais como o 2º Consenso Europeu de Enfermagem em DII (2018) são úteis para padronizar condutas locais. Consulte também os consensos brasileiros específicos para pediatria e manejo cirúrgico quando aplicável.

Integre esses protocolos com as rotinas de atenção primária e ambulatória para otimizar reconhecimentos precoces, reduzir atraso diagnóstico e melhorar transições para terapias avançadas.

Fechamento e recomendações práticas

Na prática clínica: 1) suspeite de Doença de Crohn ou Retocolite Ulcerativa em pacientes com diarreia crônica e sinais sistêmicos; 2) use calprotectina e PCR para priorizar investigação; 3) implemente monitorização objetiva (biomarcadores, imagem, endoscopia) para ajustar terapias, incluindo terapias biológicas quando indicadas; 4) encaminhe prontamente diante de sinais de gravidade ou complicações. O manejo ideal é multidisciplinar — gastroenterologista, cirurgião, nutricionista, enfermeiro e suporte psicossocial — e deve ser guiado por consensos e protocolos locais.

Leve em conta recursos locais e adapte o plano terapêutico ao paciente, documentando metas e indicadores de resposta. Para material complementar e fluxos de trabalho em atenção primária e ambulatória, veja os links internos mencionados ao longo do texto.

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