Doenças inflamatórias intestinais: diagnóstico, monitoramento e terapias personalizadas
Doenças inflamatórias intestinais (DII) — sobretudo a Doença de Crohn e a colite ulcerativa — são enfermidades crônicas com impacto sistêmico e risco de complicações ao longo da vida. Diagnóstico precoce, monitoramento objetivo e escolha de terapias individualizadas reduzem internações, cirurgia e perda de qualidade de vida. Esta revisão prática reúne evidências atuais e recomendações aplicáveis à prática clínica. (ver revisão clínica: Scielo).
Diagnóstico das doenças inflamatórias intestinais
Avaliação clínica e histórico
Investigue padrão e duração da diarreia, presença de sangue nas fezes, dor abdominal, perda ponderal, febre e manifestações extraintestinais (artrite, lesões cutâneas, uveíte). Em pediatria, avalie crescimento e maturação puberal. História de tabagismo, uso prévio de AINEs e antecedentes familiares orientam suspeita e postura terapêutica.
Exames laboratoriais e biomarcadores
Hemograma, proteína C-reativa (PCR) e velocidade de hemossedimentação (VHS) ajudam a triagem da atividade inflamatória, mas não substituem exames específicos. A calprotectina fecal é um marcador não invasivo sensível para inflamação intestinal e útil no monitoramento; para detalhes práticos sobre o uso da calprotectina na atenção primária consulte o nosso guia: calprotectina fecal em DII.
Endoscopia e exames de imagem
Colonoscopia com biópsias mucosas é padrão-ouro para diagnóstico e diferenciação entre Doença de Crohn e colite ulcerativa. A endoscopia digestiva alta é indicada quando há suspeita de comprometimento gástrico ou duodenal. Para avaliar extensão e complicações (estenoses, fístulas, abscessos), utilize ressonância magnética enterográfica ou ultrassonografia abdominal com Doppler conforme disponibilidade.
Monitoramento das doenças inflamatórias intestinais
Ferramentas de atividade e avalição objetiva
Índices clínicos (CDAI, Mayo/UCDAI) são úteis, mas convém complementar com biomarcadores (calprotectina fecal, PCR) e endoscopia quando houver discrepância clínica. A monitorização por imagem (ressonância magnética ou ecoendoscopia) é indicada para detectar complicações estruturais sem expor o paciente a radiação desnecessária.
Detecção precoce de complicações
Programas de vigilância devem priorizar pacientes com história de fístulas, estenoses recorrentes ou uso prolongado de corticosteroides. Em rotina ambulatorial, a combinação calprotectina fecal + exame de imagem dirigida reduz necessidade de colonoscopias desnecessárias.
Terapias personalizadas para doenças inflamatórias intestinais
Terapêutica médica: estratégias baseadas no risco
O tratamento é escalonado conforme severidade, extensão e fatores de risco para complicações. Em linhas gerais:
- Aminossalicilatos: úteis na indução e manutenção da remissão da colite ulcerativa leve a moderada.
- Imunossupressores (azatioprina, 6-mercaptopurina, metotrexato): indicados para manutenção em pacientes dependentes de corticosteroide ou como estratégia de redução de imunobiológicos.
- Biológicos e terapias alvo: inibidores do TNF (infliximabe, adalimumabe), anti-integrinas (vedolizumabe) e inibidores de interleucinas (ustekinumabe) tornaram-se centrais no manejo de doença moderada a grave; escolha depende do perfil de doença, comorbidades e resposta prévia (veja revisão: Scielo).
Abordagem cirúrgica
Cirurgia é indicada em complicações (perfuração, hemorragia maciça, estenose sintomática, fístulas complexas) ou em colite ulcerativa refratária, quando colectomia pode ser curativa. Planejamento cirúrgico multidisciplinar reduz morbidade e melhora desfechos funcionais.
Nutrição, microbiota e terapias complementares
Suporte nutricional é crucial, especialmente em crianças e pacientes com má absorção. A nutrição enteral exclusiva pode induzir remissão na Doença de Crohn pediátrica. A intervenção sobre a microbiota intestinal é campo ativo; para discutir impacto do microbioma e estratégias dietéticas, consulte também o texto sobre microbioma e autoimunidade: microbioma intestinal e manejo clínico. Suplementação de vitamina D mostra correlação com melhor controle inflamatório em algumas séries; recomenda-se monitorizar níveis e tratar conforme deficiências documentadas. Para orientações práticas de nutrição personalizada, veja nosso conteúdo sobre nutrição e microbioma: nutrição personalizada e microbioma. Também vale revisar recomendações e evidências em bases regionais (BVS Saúde).
Síntese prática para doenças inflamatórias intestinais
– Suspeite de DII em diarreia persistente, sangue nas fezes, perda de peso ou manifestações extraintestinais; confirme com colonoscopia e biópsias quando indicado.
– Use calprotectina fecal e PCR para monitorização não invasiva e para orientar necessidade de endoscopia.
– Escolha terapias com base no risco individual: aminossalicilatos na colite leve; imunossupressores e biológicos em doença moderada a grave; considerar perfil de resposta ao biológico prévio.
– Integre nutricionista e equipe multidisciplinar (gastroenterologista, cirurgião, psicólogo) no plano terapêutico; avalie vitamina D e suporte nutricional quando necessário.
– Consulte diretrizes nacionais e locais para padronização de condutas e protocolos de vigilância (por exemplo, orientações da GEDIIB: GEDIIB).
Para aprofundar diagnóstico por biomarcadores e trânsito intestinal, biobancos e pesquisa translacional estão transformando a prática — acompanhe atualizações e protocolos regionais para manter a conduta alinhada às melhores evidências e otimizar o cuidado ao paciente.