Diretrizes atuais para diagnóstico e tratamento da faringoamigdalite
A faringoamigdalite é a inflamação simultânea da faringe e das amígdalas e representa uma das causas mais comuns de dor de garganta na prática clínica. Pode ser viral ou bacteriana; entre as causas bacterianas, o estreptococo do grupo A (EBHGA) é a mais relevante clinicamente por aumentar o risco de complicações supurativas e não supurativas. A seguir, um guia prático, baseado em evidências, para diagnóstico, conduta terapêutica e prevenção.
Diagnóstico da faringoamigdalite
O diagnóstico baseia‑se em história clínica e exame físico. Sinais e sintomas sugestivos incluem dor de garganta de início agudo, febre, odinofagia, exsudato amigdaliano e linfonodos cervicais aumentados. A diferenciação entre etiologia viral e bacteriana é essencial para evitar uso desnecessário de antibióticos.
Critérios clínicos e triagem
O uso de escores clínicos (por exemplo, Centor/McIsaac) ajuda a estimar a probabilidade de faringoamigdalite por EBHGA e orientar a necessidade de testes complementares. Em pacientes com baixa probabilidade clínica, manejo sintomático e vigilância podem ser suficientes.
Teste rápido de antígeno (TRA) e cultura
O teste rápido de antígeno (TRA) da orofaringe fornece resultado em minutos e facilita decisões terapêuticas imediatas; sua sensibilidade é inferior à da cultura, mas sua especificidade é alta. A cultura de orofaringe continua sendo o padrão‑ouro para identificação do EBHGA, com tempo de resposta de 18–48 horas, e é indicada quando o TRA é negativo em indivíduos com alta suspeição clínica.
Para pacientes com apresentação atípica ou imunossuprimidos, testes moleculares multiplex (PCR) podem ajudar no diagnóstico diferencial entre vírus e bactérias; veja mais sobre indicações e interpretação em nossa página sobre testes multiplex PCR para infecções respiratórias.
Tratamento da faringoamigdalite
O tratamento depende da etiologia:
Faringoamigdalite viral
O manejo é sintomático: analgésicos/antipiréticos (paracetamol, AINEs quando apropriado), hidratação, repouso vocal e medidas locais (gargarejos com solução salina morna, pastilhas em adultos). Antivirais específicos são raramente indicados, exceto quando identificada etiologia viral passível de terapia (por exemplo, influenza em janela terapêutica).
Faringoamigdalite bacteriana por EBHGA e antibioticoterapia
- Penicilina V oral: 500 mg duas vezes ao dia por 10 dias (adultos) é escolha clássica pela eficácia e baixo custo. Ajustar posologia em crianças conforme peso.
- Amoxicilina: 50 mg/kg/dia em dose única ou dividida por 10 dias é alternativa bem tolerada, frequentemente usada em pediatria.
- Macrolídeos (azitromicina): reservados para pacientes com alergia à penicilina; considerar o padrão local de resistência antes do uso.
A duração completa do esquema é importante para erradicar o patógeno e reduzir risco de complicações como abscesso periamigdaliano e febre reumática. Em contexto de manejo racional de antimicrobianos, recomenda‑se seguir protocolos locais e a abordagem de gestão de antibióticos e resistência bacteriana para minimizar prescrições desnecessárias.
Quando avaliar para internação ou intervenção
Sinais de gravidade — dificuldade respiratória, disfagia importante com recusa alimentar, suspeita de abscesso periamigdaliano (desvio de úvula, trismus), sinais sistêmicos de sepse — exigem avaliação hospitalar urgente e, possivelmente, drenagem cirúrgica. Crianças muito pequenas, imunossuprimidos e pacientes com comorbidades significativas merecem baixo limiar de encaminhamento.
Exames point‑of‑care e acompanhamento
Em unidades básicas e ambulatórios, testes point‑of‑care como TRA e mensuração de PCR ou outros biomarcadores ajudam na tomada de decisão. Consulte nosso material sobre testes point‑of‑care (CRP, troponina, HbA1c) para entender limitações e aplicabilidade desses exames na prática clínica.
Prevenção e orientações para pacientes
- Higiene das mãos e etiqueta respiratória; evitar compartilhamento de utensílios.
- Isolamento relativo enquanto houver febre alta e nos primeiros 24 horas de antibiótico em casos bacterianos.
- Educação sobre adesão ao tratamento e sinais de alarme que exigem reavaliação.
Para diferenciação entre infecções virais e bacterianas em períodos epidêmicos (por exemplo, influenza), é útil alinhar condutas com diretrizes locais e materiais de referência — veja a revisão sistemática/consenso disponível em PMC7105079 e orientações para leigos em Estratégia Med. Informações de saúde pública sobre streptococcus do grupo A estão disponíveis nos Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA: CDC – Group A Streptococcus.
Resumo e orientações práticas
1) Avalie risco clínico com escores (Centor/McIsaac). 2) Em suspeita moderada/alta, realize TRA e, se necessário, cultura; considere PCR multiplex em casos atípicos. 3) Antibiótico apenas quando indicado: penicilina V ou amoxicilina são as opções de primeira linha para EBHGA; macrolídeos em alergia comprovada. 4) Oriente pacientes sobre medidas sintomáticas e sinais de alarme. 5) Integre práticas de stewardship antimicrobiano para reduzir resistência.
Leitores que desejarem aprofundar a parte laboratorial e o papel dos testes moleculares podem consultar nosso texto sobre testes multiplex PCR. Profissionais interessados em protocolos de racionalização de antimicrobianos encontrarão recomendações práticas em gestão de antibióticos, e equipes de atenção primária podem revisar fluxos de triagem usando testes point‑of‑care para apoio à decisão.
Se desejar, posso adaptar este texto em versão resumida para pacientes ou em checklist clínico para uso em prontuário eletrônico.