Dor crônica inespecífica: abordagem multimodal prática

Dor crônica inespecífica: abordagem multimodal prática

Introdução

Como otimizar o manejo de um paciente adulto com dor crônica não específica? Pacientes chegam ao consultório com dor persistente sem causa estrutural clara e frequentemente com baixa funcionalidade e alta utilização de medicamentos. A literatura e protocolos recentes apontam que a melhor resposta clínica vem de uma abordagem multimodal que articula reabilitação, educação e farmacoterapia racional.

Diagnóstico e avaliação clínica

Anamnese dirigida e sinalizadores de alarme

Antes de classificar a dor como não específica, documente história detalhada (início, características, fatores de melhora/piora, impacto funcional, sono, humor) e exclua causas red flags (perda progressiva de força, déficit sensitivo novo, sinais sistêmicos, história oncológica, febre persistente). Use exame físico focado e exames básicos conforme suspeita clínica.

Avaliação funcional e metas

Registre objetivos funcionais compartilhados (ex.: caminhar X minutos, trabalhar Y horas) e utilize medidas simples de resultado (escala numérica de dor, questionários de função ou atividades de vida diária). Estabeleça metas graduais; a redução da dor absoluta é menos realista do que a melhora da função e qualidade de vida.

Componentes da abordagem multimodal

Reabilitação física: estrutura e evidência

A reabilitação física deve ser individualizada: programas de exercícios aeróbicos moderados, treino de força para grupos musculares relevantes, treino de controle motor e estratégias de condicionamento gradativo (pacing). Técnicas de fisioterapia (terapia manual, exercícios supervisionados) e intervenções para sono e relaxamento complementam o plano. Estudos mostram melhora na dor e na qualidade de vida e redução do consumo de analgésicos quando a reabilitação é central no tratamento. Para pautas práticas de avaliação e reabilitação em dor musculoesquelética, veja recursos como dor crônica musculoesquelética: avaliação, tratamento e reabilitação.

Educação do paciente e adesão

A educação do paciente visa explicar mecanismos da dor, ajustar crenças disfuncionais, treinar técnicas de autocontrolo (pacing, higiene do sono, atividades graduais) e negociar metas realistas. Intervenções educacionais combinadas com apoio motivacional aumentam a adesão ao plano terapêutico. Integre estratégias de educação terapêutica e adesão em consultas rotineiras — materiais e estruturas podem ser consultados em educação terapêutica e adesão em doenças crônicas.

Intervenções psicológicas e não farmacológicas

Terapia cognitivo-comportamental e técnicas de manejo do estresse demonstram redução da intensidade dolorosa e melhor enfrentamento. Intervenções combinadas (fisioterapia + CBT) têm maior efeito do que cada componente isolado. Protocolos locais e documentos técnicos podem orientar a implementação multidisciplinar (Protocolo Clínico de Dor Crônica).

Farmacoterapia racional

Adote uma estratégia de farmacoterapia racional baseada em avaliação de benefícios/risco e integrada às intervenções não farmacológicas. A escada analgésica da OMS ainda orienta priorizar analgésicos não opioides e adjuvantes adequados antes de considerar opioides para dor crônica não oncológica, sempre com monitorização e plano de desmame quando possível (ver discussão em fontes de referência sobre tratamento da dor).

  • Primeira linha: analgésicos simples (paracetamol) e anti-inflamatórios não esteroidais para indicações específicas e por períodos limitados, considerando comorbidades e risco GI/renal/cardiovascular.
  • Adjuvantes: antidepressivos (duloxetina, amitriptilina) e anticonvulsivantes (gabapentina, pregabalina) quando houver componente neuropático ou comorbidades que se beneficiem desses fármacos.
  • Opioides: avaliar criteriosamente; usar somente em casos selecionados, por tempo limitado, com plano de monitorização, objetivos funcionais claros e documentação. Diretrizes locais e materiais sobre prescrição segura são essenciais — consulte recomendações práticas em prescrição segura de opioides em dor crônica.

Evite polifarmácia analgésica sem alvo claro e reavalie periodicamente a necessidade de cada medicamento. Protocolos de revisão e desprescrição são ferramentas úteis para segurança do paciente.

Organização do cuidado e comunicação

O manejo ideal exige equipe multidisciplinar (clínico, fisioterapeuta, psicólogo, farmacêutico) com comunicação estruturada e planos de seguimento. Ferramentas de coordenação, registros de metas funcionais e checklists reduzem consultas redundantes e melhoram adesão. Recursos práticos sobre abordagem clínica da dor crônica e sua integração em rotinas assistenciais podem ajudar: abordagem prática da dor crônica.

Implementação prática em consulta

  • Realize avaliação inicial completa com identificação de sinais de alarme.
  • Negocie metas funcionais específicas e mensuráveis.
  • Prescreva exercício terapêutico com dose inicial baixa e progressão planejada.
  • Ofereça material educativo e encaminhe para psicologia quando indicado.
  • Adote farmacoterapia racional: escolha fármacos com propósito, revise em 4–12 semanas e evite opioides prolongados sem reavaliação.

Para uma síntese prática sobre manejo multimodal em atenção primária e recomendações de encaminhamento, a atualização do protocolo estadual e revisões de literatura geral sobre avaliação e tratamento da dor são leituras úteis (dor crônica — revisão e tratamento da dor — visão geral).

Fechamento: ao abordar a dor crônica não específica em adultos, priorize metas funcionais, combine reabilitação física e educação do paciente, e use a farmacoterapia racional como complemento, não como base única. A prática clínica exige individualização, comunicação da equipe e revisão periódica das estratégias terapêuticas para melhorar resultados e reduzir riscos.

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