Fadiga crônica na atenção primária: avaliação prática

Fadiga crônica na atenção primária: avaliação prática

Introdução

Paciente com cansaço persistente que não melhora com repouso: o que fazer na consulta de atenção primária? A fadiga crônica é uma queixa frequente e multifatorial que compromete a qualidade de vida. Este texto traz critérios de avaliação, diferenciação diagnóstica e condutas práticas para o manejo inicial e o encaminhamento adequado.

Avaliação clínica: como estruturar a consulta

Anamnese dirigida

Faça perguntas abertas, seguidas de itens direcionados. Avalie duração, padrão diário, fatores agravantes/amelhorantes, impacto funcional e sintomas associados (dor, distúrbios do sono, alterações do humor, febre, perda de peso). Identifique sinais de síndrome da fadiga crônica (post-exertional malaise, cognição alterada) e fatores secundários como hipotireoidismo, anemia ou uso de medicamentos sedativos.

  • Tempo de evolução: >6 semanas merece investigação estruturada; considere abordagem mais ampla se >6 meses.
  • Impacto funcional: trabalho, autocuidado, sono e exercício.
  • Revisão medicamentosa: opioides, anticolinérgicos, benzodiazepínicos, estatinas em alguns contextos.
  • Avaliação psicossocial: sinais de depressão, ansiedade, estresse ocupacional ou burnout.

Exame físico e triagem inicial

Exame completo para excluir causas orgânicas (cardiorrespiratória, neurológica, reumatológica). Busque sinais de doenças sistêmicas ou déficits nutricionais. Utilize escalas simples para triagem de sono e humor quando disponíveis.

Exames complementares e diferenciação diagnóstica

Solicite exames básicos conforme a suspeita clínica para excluir causas tratáveis:

  • Hemograma completo (anemia), TSH (hipotireoidismo), glicemia, função renal e hepática.
  • Vitamina D e perfil de ferro se história sugestiva; teste de PCR ou VHS apenas se houver suspeita inflamatória.
  • Avaliação do sono: triagem para apneia ou insônia; se indicado, encaminhe para polissonografia. Consulte materiais sobre distúrbios do sono — triagem e manejo para orientar investigação.

É importante distinguir fadiga crônica como sintoma de várias condições de uma entidade específica e complexa: a síndrome da fadiga crônica / ME-CFS. Para orientação sobre critérios e manejo dessa síndrome, veja o conteúdo específico em me/cfs — síndrome da fadiga crônica.

Conduta prática no manejo inicial

Plano individualizado e tratamento da causa

Trate condições identificadas (anemia ferropriva, hipotireoidismo, distúrbios do sono, depressão). Revisione medicamentos que possam contribuir para a fadiga e avalie a necessidade de ajustes ou deprescrição.

Abordagem multidisciplinar

O manejo efetivo costuma ser multidisciplinar, envolvendo médico de atenção primária, enfermeiro, fisioterapeuta, psicólogo e, quando necessário, reumatologista ou neurologista. Integre intervenções farmacológicas e não farmacológicas com foco na função e qualidade de vida. Para estratégias de educação e adesão, veja educação terapêutica e adesão no consultório.

Promoção de atividade física e reabilitação

A promoção de atividade física deve ser gradual e adaptada: programas de exercício progressivo supervisionado, com metas funcionais realistas. Evite prescrições intensas sem monitorização em pacientes com intolerância ao esforço (compatível com ME-CFS). Recursos de reabilitação e manejo da dor crônica podem ser complementares — ver abordagem integrada da dor crônica.

Intervenções psicossociais e sono

Terapia cognitivo-comportamental, técnicas de manejo do estresse e estratégias de higiene do sono são componentes centrais. Considere encaminhamento para psicoterapia quando houver transtorno de ansiedade ou depressão com impacto funcional.

Quando encaminhar e sinais de alerta

Encaminhe para investigação especializada se houver:

  • Sinais de doença orgânica progressiva (perda de peso significativa, febre noturna, adenomegalia importante).
  • Alterações neurológicas focais, comprometimento cognitivo rápido ou suspeita de doença autoimune ativa.
  • Suspeita de ME-CFS com intolerância ao esforço marcada — pode demandar avaliação por centro especializado.

Educação ao paciente: mensagens práticas

  • Explique que fadiga pode ter múltiplas causas; o objetivo inicial é identificar causas tratáveis e melhorar função.
  • Oriente sobre higiene do sono, rotina de atividade física gradual, fracionamento de tarefas e prioridades energéticas (pacing).
  • Reforce a importância da adesão ao plano terapêutico e do retorno para reavaliação; use materiais de educação em saúde adaptados à realidade do paciente.

Referências e leituras recomendadas

Para suporte de diretrizes e revisão de evidências, consulte o Projeto Diretrizes: Fadiga Crônica — Diagnóstico e Tratamento, que traz protocolos práticos. Estudos sobre impacto da fadiga em profissionais da atenção básica durante a pandemia ampliam a compreensão do fenômeno no contexto da atenção primária (veja artigo na Revista Brasileira de Medicina do Trabalho). Para abordagem contínua em fibromialgia (frequente causa de fadiga secundária), confira revisão disponível em repositório acadêmico (Revista Interdisciplinar em Saúde).

Material complementar no blog: avaliação prática de distúrbios do sono, estratégias de educação terapêutica e cuidados integrados em dor crônica e reabilitação, além do conteúdo específico sobre ME/CFS — síndrome da fadiga crônica.

Na prática diária de atenção primária, adote uma abordagem sistemática: identificar causas tratáveis, planejar intervenções funcionais, promover atividade física adequada e articular um tratamento multidisciplinar quando necessário. Essas medidas otimizam resultados e reduzem o impacto da fadiga na qualidade de vida dos pacientes.

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