Abordagem da fadiga crônica na atenção primária: diagnóstico e conduta inicial

Abordagem da fadiga crônica na atenção primária: diagnóstico e conduta inicial

A fadiga crônica é uma queixa frequente na atenção primária e exige avaliação sistemática para distinguir causas tratáveis de quadros primariamente funcionalmente incapacitantes, como a síndrome da fadiga crônica (encefalomielite miálgica). Este texto sintetiza os pontos-chave para anamnese, exames iniciais e estratégias terapêuticas práticas, voltadas para clínicos que atendem pacientes adultos no Brasil.

Fadiga crônica: avaliação inicial

A história clínica deve explorar duração (≥6 meses sugere quadro crônico), padrão (piora com esforço ou repouso), impacto funcional, padrão de sono, alterações de humor, uso de medicações, consumo de álcool e drogas, e sinais de alarme (febre persistente, perda de peso, déficits neurológicos). Inclua triagem para transtornos psiquiátricos, pois depressão e ansiedade são causas comuns — consulte orientações sobre promoção da saúde mental na atenção primária quando houver suspeita.

Hipóteses diagnósticas mais frequentes

  • Transtornos psiquiátricos (depressão, ansiedade).
  • Distúrbios do sono, incluindo apneia do sono.
  • Endocrinopatias: hipotireoidismo, insuficiência adrenal.
  • Doenças infecciosas pós-agudas (por exemplo, mononucleose) e quadros pós-infecciosos.
  • Doenças autoimunes e reumatológicas.
  • Deficiências nutricionais: anemia ferropriva, baixa vitamina D e B12.
  • Efeito colateral de medicações ou abuso de substâncias.
  • Condições metabólicas, como diabetes mal controlado — ver manejo do diabetes tipo 2.

Exames laboratoriais essenciais

A investigação inicial deve ser orientada pela suspeita clínica, mas um painel básico inclui:

  • Hemograma completo: avaliar anemia, incluindo sinais de anemia microcítica sugestiva de anemia ferropriva (veja manejo da anemia ferropriva).
  • TSH e T4 livre para triagem de hipotireoidismo.
  • Glicemia de jejum e hemoglobina glicada para despistar diabetes.
  • Função renal e hepática (ureia, creatinina, transaminases).
  • Eletrólitos séricos.
  • Ferritina, transferrina ou TIBC quando houver suspeita de deficiência de ferro.
  • Vitamina B12 e 25-hidroxivitamina D para acompanhar sintomas de cansaço e dores.
  • Cortisol matinal se houver suspeita de insuficiência adrenal.

Exames adicionais (anticorpos ANA, sorologias, marcadores inflamatórios) são solicitados conforme os achados clínicos. Diretrizes e revisões clínicas sobre encefalomielite miálgica e síndrome da fadiga crônica podem orientar avaliações específicas (BMJ Best Practice, MSD Manual).

Conduta inicial e estratégias terapêuticas

Depois de excluir causas orgânicas tratáveis, o manejo na atenção primária deve ser multifatorial e centrado no paciente:

  • Educação clínica: explicar a diferença entre fadiga e fadiga patológica, expectativas realistas de recuperação e importância do autocuidado.
  • Higiene do sono e avaliação de apneia do sono: orientar rotina de sono e encaminhar para polissonografia quando indicado.
  • Intervenções físicas graduais: programas de exercício progressivo e reabilitação, com estratégia de pace/ritmo para evitar exacerbações.
  • Avaliação e tratamento nutricional: corrigir deficiências como anemia ferropriva ou baixa vitamina D; considerar suplementação conforme exames.
  • Abordagem psicológica: psicoterapia cognitivo-comportamental quando houver componente depressivo/ansioso ou para manejo de coping.
  • Revisão de medicações: ajustar fármacos que possam contribuir para sonolência ou fadiga.
  • Encaminhamento: para especialidades (reumatologia, endocrinologia, neurologia, sono) se sinais de alarme ou falta de resposta às medidas iniciais.

Programas de adesão e acompanhamento estruturado aumentam a efetividade das intervenções; ferramentas de apoio podem ser úteis na atenção primária (estratégias de adesão terapêutica).

Quando suspeitar de encefalomielite miálgica (síndrome da fadiga crônica)

Se houver fadiga severa e persistente acompanhada de intolerância ao esforço, disfunção cognitiva e sono não reparador, considere avaliação específica para encefalomielite miálgica; orientações clínicas detalhadas podem ser consultadas em revisões especializadas (revisão sobre fadiga crônica e fibromialgia).

Considerações finais sobre fadiga crônica

Na atenção primária, o objetivo é identificar causas tratáveis, minimizar incapacidades e coordenar cuidados. Um algoritmo prático inclui anamnese direcionada, exames básicos (hemograma, função tireoidiana, glicemia, ferritina, vitaminas), correção de déficits detectados e intervenções não farmacológicas (sono, exercício gradativo, psicoterapia). Mantenha seguimento periódico e reavalie a necessidade de encaminhamento. Para aprofundar o manejo em diferentes frentes, consulte recursos práticos e diretrizes (BMJ Best Practice, MSD Manual e Projeto Diretrizes) e os materiais de apoio do nosso blog sobre saúde mental, anemia ferropriva e manejo do diabetes.

Leitura complementar externa: MSD Manual – síndrome da fadiga crônica, BMJ Best Practice – encefalomielite miálgica, Projeto Diretrizes – diagnóstico e tratamento da fadiga crônica.

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