Hanseníase na atenção primária

Hanseníase na atenção primária

Introdução

Você reconhece sinais precoces de hanseníase no atendimento da atenção primária à saúde? A detecção precoce é o principal fator que evita incapacidades e interrompe a cadeia de transmissão. No Brasil, a hanseníase segue como desafio de saúde pública — por isso equipes da APS precisam dominar diagnóstico, tratamento e estratégias de educação em saúde.

1. Identificação e diagnóstico precoce na APS

Na prática clínica diária, busque ativamente por:

  • manchas cutâneas com alteração de sensibilidade (hipoestesia ou anestesia);
  • espessamento de nervos periféricos ou dor/paresia em território nervoso;
  • áreas com diminuição de pelos e suor.

O diagnóstico é essencialmente clínico, complementado por exame neurológico e dermatológico. Testes simples de sensibilidade (monofilamento ou pinça), inspeção de nervos superficiais e registro de grau de incapacidade devem fazer parte da avaliação inicial. Quando houver dúvida, complementos como baciloscopia ou biópsia podem ser solicitados conforme o protocolo local.

Siga as diretrizes oficiais do país — o Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas (PCDT) 2022 reúne critérios diagnósticos, classificação e fluxos de atenção.

2. Tratamento e seguimento: o que a APS precisa assegurar

O tratamento padrão gratuito pelo SUS é a poliquimioterapia (PQT) com rifampicina, dapsona e clofazimina, em esquemas de 6 a 12 meses conforme a classificação paucibacilar ou multibacilar. Pontos práticos para a APS:

  • iniciar PQT no nível primário sempre que houver diagnóstico confirmado, com supervisão mensal de doses;
  • monitorar adesão e efeitos adversos; abandonar tratamento aumenta risco de resistência, incapacidades e transmissão;
  • reconhecer e tratar precocemente reações hansênicas (neurites, reações tipo 1 e tipo 2) — corticoterapia para neurite ativa e abordagem específica para ENL, com encaminhamento quando necessário;
  • avaliar e documentar o grau de incapacidade no início, ao final do tratamento e em seguimento, com orientações para prevenção de lesões e reabilitação.

Para decisões terapêuticas e fluxos de referência, utilize o PCDT e alinhe práticas locais ao Plano Nacional: a Estratégia Nacional para Enfrentamento da Hanseníase 2024-2030 orienta prioridades programáticas e ações na APS.

Checklist prático para consulta inicial

  • registro de sinais e sensibilidade das lesões;
  • palpação e descrição de nervos periféricos (local e consistência);
  • avaliação funcional de mãos, pés e olhos;
  • orientação sobre esquema terapêutico e importância da adesão;
  • identificação e rastreamento de contatos domiciliares.

3. Educação em saúde e redução do estigma

A educação em saúde é estratégia central para promover adesão, inclusão social e busca ativa por casos. Ações recomendadas na APS:

  • campanhas comunitárias e escolares que explicam sinais, tratamento gratuito e ausência de motivo para exclusão social (ex.: campanhas como o ‘Janeiro Roxo’);
  • treinamento de agentes comunitários para identificação precoce e encaminhamento;
  • apoio psicossocial e integração com serviços de saúde mental quando necessário — a abordagem integrada aumenta adesão e reduz prejuízos sociais;
  • material educativo simples para pacientes e contatos, com informações sobre autocuidado dos nervos e pele.

Para intervenções que melhorem adesão e autocuidado, consulte recursos sobre promoção de adesão terapêutica e integração com saúde mental, disponíveis para apoiar a rotina da APS: estratégias de adesão em doenças crônicas e abordagem integrada em saúde mental.

4. Capacitação e integração de serviços

Capacitar profissionais da APS é essencial: cursos modulares, como o oferecido pela Fiocruz/UNA-SUS, são recursos práticos para qualificação de equipes. A formação deve incluir diagnóstico clínico, manejo de reações, reabilitação e comunicação com a comunidade — ferramentas que fortalecem a vigilância ativa.

Considere também articular serviços de odontologia, enfermagem e reabilitação na rede local para prevenção de lesões e manejo de sequelas (veja modelos de integração em atenção primária em temas correlatos como o uso racional de antimicrobianos): uso racional de antimicrobianos na APS e integração saúde bucal e APS.

Para formação, consulte o curso específico: Hanseníase na Atenção Primária (Fiocruz/UNA-SUS).

5. Fluxos de vigilância, contatos e indicadores

Atue com rastreamento de contatos e registro adequado dos casos para monitoramento epidemiológico. Encaminhe para serviços especializados quando houver:

  • perda progressiva de função neural apesar de tratamento;
  • reação hansênica grave (ENL) que exige manejo especializado;
  • ulcerações crônicas ou necessidade de reabilitação protética/ortopédica.

Fechamento e orientações práticas para equipes

Na atenção primária, a combinação de diagnóstico precoce, início correto da poliquimioterapia, educação em saúde e capacitação contínua reduz o impacto da hanseníase. Adote rotinas locais: triagem ativa em áreas vulneráveis, uso de checklists na primeira consulta, agendamento de retornos mensais e articulação com redes de reabilitação. Use o PCDT e a Estratégia Nacional como referência de protocolos e organize formação local com materiais como o curso da Fiocruz para manter a equipe atualizada.

Pequenas mudanças na rotina da APS — busca ativa, orientação clara ao paciente e registro sistemático — têm grande impacto na prevenção de incapacidades e na eliminação da doença como problema de saúde pública.

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