O que é o Homa-ir: cálculo, interpretação e implicações clínicas

HOMA-IR (homeostatic model assessment of insulin resistance) é uma ferramenta prática para estimar a resistência à insulina a partir de medidas de glicose e insulina em jejum. Não substitui métodos de referência, como o clamp euglicêmico, mas é amplamente usado em pesquisa e como auxílio na prática clínica para avaliar risco cardiometabólico, resposta a intervenções e monitorização em programas preventivos.

O que é o Homa-ir

O HOMA-IR integra a relação entre secreção de insulina pelas células β e a sensibilidade periférica e hepática à insulina. Em pacientes com resistência à insulina, a insulina em jejum tende a aumentar para manter a glicemia estável; com piora da disfunção, a glicose de jejum também pode elevar-se, favorecendo evolução para pré-diabetes e diabetes tipo 2.

Homa-ir e resistência à insulina

O índice é especialmente útil quando se busca uma estimativa rápida do estado metabólico em pacientes com obesidade, síndrome metabólica ou histórico familiar de diabetes tipo 2. Deve ser interpretado dentro do contexto clínico, incluindo medicações, estado inflamatório, função hepática e composição corporal.

Como calcular

Existem duas fórmulas usuais, dependendo das unidades de glicose:

  • Glicose em mg/dL e insulina em μU/mL: HOMA-IR = (glicose de jejum (mg/dL) × insulina de jejum (μU/mL)) / 405
  • Glicose em mmol/L e insulina em μU/mL: HOMA-IR = (glicose de jejum (mmol/L) × insulina de jejum (μU/mL)) / 22,5

Para rotinas brasileiras, recomenda-se o uso de glicose em mg/dL. As amostras devem ser colhidas após jejum de 8–12 horas, em condições laboratoriais padronizadas, para reduzir variabilidade.

Interpretação prática dos valores

A interpretação não é universal e varia por população e método laboratorial. Em termos práticos:

  • Valores próximos de 1 costumam indicar sensibilidade insulínica preservada em indivíduos sem fatores de risco.
  • Valores acima de ~2,0–2,5 em populações não diabéticas são frequentemente considerados sugestivos de resistência à insulina, especialmente quando acompanhados de obesidade, dislipidemia ou hipertensão.

Sempre leve em conta idade, sexo, composição corporal, presença de doença hepática gordurosa, uso de medicamentos (por exemplo corticosteroides ou inibidores de SGLT2) e condições agudas que alterem a resposta insulinérgica.

Limitações e interferências

Fatores que reduzem a confiabilidade do HOMA-IR incluem:

  • Jejum inadequado ou coleta incorreta de glicose/insulina de jejum
  • Variabilidade intraindividual e diferenças entre ensaios laboratoriais de insulina
  • Condições clínicas que alteram secreção ou ação da insulina (gravidez, pancreatopatias, insuficiência hepática, infecção aguda)
  • Uso de medicamentos que modifiquem glicemia ou insulinemia
  • Variações populacionais por etnia, idade e massa corporal

Por esses motivos, o HOMA-IR nunca deve ser o único elemento para decisões diagnósticas e terapêuticas complexas.

Quando solicitar o Homa-ir

Considere solicitar o HOMA-IR em situações como:

  • Pacientes com obesidade, síndrome metabólica ou glicemia de jejum alterada para avaliar resistência à insulina em estágio inicial
  • Pessoas com histórico de diabetes tipo 2 na família ou risco cardiovascular elevado
  • Casos de SOP (síndrome dos ovários policísticos) quando houver suspeita de resistência insulínica
  • Monitorização de resposta a intervenções dietéticas, exercício ou terapias que visem melhorar a sensibilidade à insulina

Implicações clínicas e manejo

O HOMA-IR pode orientar decisões em prevenção e estratificação de risco, sem, no entanto, substituir avaliação clínica ampla. Aplicações práticas:

  • Avaliação de risco: valores elevados sinalizam maior probabilidade de progressão para DM2 e risco cardiovascular aumentado.
  • Estratificação de intervenções: apoiar indicação de mudanças de estilo de vida (redução de peso, dieta adequada, atividade física) e considerar terapias farmacológicas quando indicadas.
  • Monitorização: acompanhar tendências do HOMA-IR em programas de prevenção e tratamento para avaliar resposta.

Integre o HOMA-IR com glicose de jejum, insulina de jejum, perfil lipídico, função hepática, marcadores inflamatórios e avaliação clínica (peso, circunferência da cintura, pressão arterial). Para alinhar metas terapêuticas, consulte guias sobre metas glicêmicas e manejo do DM2, por exemplo: metas glicêmicas realistas e manejo do DM2 – diagnóstico, metas e acompanhamento.

Orientação ao paciente

Explique ao paciente que o HOMA-IR estima o quanto a insulina está sendo eficaz para controlar a glicose. Valores elevados indicam que o organismo precisa produzir mais insulina para manter a glicemia, o que pode demandar mudanças no estilo de vida e, eventualmente, tratamento farmacológico. Oriente sobre dieta, exercício, controle do peso e a importância de discutir os resultados em consulta, trazendo informações sobre medicações, hábitos e histórico familiar.

Resumo prático e ações recomendadas

  • Use o HOMA-IR como ferramenta auxiliar para estimar resistência à insulina, não como diagnóstico isolado.
  • Padronize coleta de glicose de jejum e insulina de jejum antes do cálculo.
  • Combine HOMA-IR com outros marcadores e avaliação clínica para decisões sobre prevenção e manejo do diabetes tipo 2 e risco cardiovascular.
  • Adote intervenções de estilo de vida como primeira linha e monitore tendência do índice para avaliar resposta.

Consulta rápida

  • Definição: estimativa de resistência à insulina a partir de glicose e insulina em jejum.
  • Fórmulas: mg/dL (divisor 405) ou mmol/L (divisor 22,5).
  • Interpretação: valores mais altos sugerem resistência à insulina; considerar contexto clínico.
  • Limitações: não é diagnóstico definitivo; inflamação, medicações e comorbidades afetam resultados.

Para aprofundar metas e acompanhamento em pacientes com risco metabólico, veja também: metas glicêmicas – adesão. O HOMA-IR é uma ferramenta útil quando integrada a uma avaliação clínica completa, orientando intervenções seguras e eficazes.

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