Infecção por Helicobacter pylori: diagnóstico, tratamento e prevenção
A infecção por Helicobacter pylori é altamente prevalente no mundo e está associada a gastrite crônica, úlcera péptica e risco aumentado de câncer gástrico. Este texto, escrito por um profissional de saúde, explica de forma direta as vias de transmissão, os métodos diagnósticos, as opções terapêuticas atuais e as medidas práticas de prevenção, com indicações úteis tanto para clínicos quanto para pacientes.
Helicobacter pylori: como ocorre a transmissão
A transmissão do H. pylori ocorre principalmente por via fecal-oral e oral-oral. Condições de saneamento inadequadas, superlotação e hábitos de higiene deficientes favorecem a disseminação, especialmente em crianças. A reinfecção em adultos é incomum em ambientes com saneamento adequado.
Helicobacter pylori: sinais clínicos e quando investigar
Muitos pacientes são assintomáticos. Quando presentes, os sinais mais comuns são dor ou queimação epigástrica, náuseas, empachamento pós-prandial e perda de apetite. Indicações para investigação incluem história de úlcera péptica, anemia por deficiência de ferro sem causa aparente, linfoma MALT suspeito ou presença de sinais de alarme (perda de peso rápida, vômitos persistentes, sangramento digestivo).
Helicobacter pylori: diagnóstico
Os métodos diagnósticos são classificados em invasivos e não invasivos. Entre os não invasivos, destacam-se:
- Teste respiratório com ureia (urea breath test): sensível e específico para infecção ativa e indicado para confirmação de erradicação após tratamento.
- Antígeno em fezes: também indicado para diagnóstico e para controle de cura; útil quando o teste respiratório não está disponível.
- Testes sorológicos: detectam anticorpos, mas não distinguem infecção ativa de passada — não são recomendados para confirmar cura.
Nos exames invasivos, a endoscopia digestiva alta com biópsia permite diagnóstico histológico, teste rápido de urease e cultura/antibiograma quando indicado (por exemplo, em falhas de tratamento ou suspeita de resistência).
Para diferenciação com outras causas de dor abdominal e diarreia inflamatória, exames como a calprotectina fecal podem ser úteis no contexto de doenças inflamatórias intestinais, embora não substituam os testes específicos para H. pylori.
Quando investigar o risco de câncer gástrico
Pacientes com antecedentes familiares suspeitos de síndromes hereditárias ou alto risco devem ser avaliados com maior cuidado; orientações sobre rastreio genético e aconselhamento podem ser integradas ao manejo quando indicado.
Helicobacter pylori: tratamento
O objetivo terapêutico é erradicar a bactéria para curar úlceras, reduzir recidivas e diminuir o risco de câncer gástrico. A escolha do esquema deve considerar resistência local a macrolídeos, histórico de uso prévio de antibióticos e alergias.
- Terapia tripla padrão: inibidor da bomba de prótons (IBP) + claritromicina + amoxicilina (ou metronidazol) por 10–14 dias — opção quando a resistência à claritromicina é baixa.
- Terapia quádrupla com bismuto: IBP + bismuto + tetraciclina + metronidazol por 10–14 dias — indicada em regiões com alta resistência à claritromicina ou após falha terapêutica.
- Soluções de resgate: baseadas em cultura e antibiograma quando disponíveis, ou em esquemas com antibióticos diferentes dos previamente usados.
Adesão ao tratamento, uso correto do IBP e evitar interrupções são fundamentais para sucesso. Após 4 a 8 semanas do término da terapia (e após suspensão de IBP por tempo adequado), recomenda-se confirmar a erradicação com teste respiratório ou antígeno fecal.
A resistência antimicrobiana é um problema crescente; portanto, políticas locais de vigilância e escolha racional de antibióticos são essenciais. Pesquisas sobre o papel do microbioma intestinal e interações medicamentosas também estão em desenvolvimento e podem influenciar decisões futuras.
Medidas de prevenção e orientações práticas
- Higiene das mãos e saneamento básico são medidas eficazes para reduzir transmissão.
- Evitar compartilhamento de talheres e utensílios em locais com alta prevalência.
- Tratamento adequado dos casos diagnosticados para reduzir complicações como úlcera e risco de câncer gástrico.
- Aconselhamento sobre abandono do tabagismo e controle de AINEs quando há história de úlcera.
Para reforçar condutas clínicas, versões atualizadas de diretrizes e recomendações brasileiras podem ser consultadas nas páginas da Sociedade Brasileira de Endoscopia Digestiva (SOBED) e da Associação Brasileira de Gastroenterologia (ABG). Para contexto epidemiológico e orientações globais, veja o resumo da Organização Mundial da Saúde.
O que lembrar na prática clínica
Investigar e tratar o Helicobacter pylori quando indicado reduz sintomas, previne recidivas de úlcera e contribui para a prevenção do câncer gástrico em populações de risco. Use testes não invasivos (teste respiratório ou antígeno fecal) para diagnóstico e confirmação de erradicação; escolha o regime terapêutico com base na resistência local e no histórico do paciente; confirme a cura e oriente sobre medidas de higiene e acompanhamento.
Se houver falha terapêutica, considerar cultura com antibiograma ou esquemas de resgate. Mantenha-se atualizado com as diretrizes nacionais e com a literatura sobre resistência e novas abordagens terapêuticas.