Intoxicações exógenas e antídotos: guia prático para profissionais

Intoxicações exógenas e antídotos: guia prático para profissionais

Intoxicações exógenas exigem avaliação rápida, raciocínio clínico organizado e decisões terapêuticas claras. Este guia sintetiza diagnóstico, medidas imediatas, antídotos essenciais e princípios de monitorização, com foco em aplicações práticas para atendimento em urgência e atenção primária.

Intoxicações exógenas: reconhecimento rápido

Na suspeita de intoxicação, priorize ABC (vias aéreas, respiração e circulação), avaliação do nível de consciência e busca ativa por sinais específicos (midríase, miose, sudorese, secreções, arritmias). A anamnese deve tentar identificar agente, via de exposição, tempo e quantidade. Quando possível, resgate embalagens, receitas ou relatos de testemunhas.

Quadros clínicos e sinais orientadores

  • Depressão respiratória e miose: suspeitar de opioides (Naloxona é antídoto).
  • Taquicardia, hipertensão e agitação: considerar estimulantes (cocaína, anfetaminas).
  • Boca seca, midríase e delírio: padrão anticolinérgico.
  • Sudorese, salivação, miose e diarreia: padrão colinérgico (organofosforados — Atropina e Pralidoxima indicados).

Diagnóstico e exames úteis

Além da anamnese e exame físico, solicite exames direcionados: glicemia capilar é obrigatória; gasometria arterial quando houver comprometimento ventilatório; eletrólitos, função renal e hepática; ECG em suspeita de cardiotóxicos; dosagens toxicológicas quando disponíveis para confirmar agente. A monitorização contínua do paciente é essencial até resolução dos sinais.

Medidas imediatas: descontaminação e suporte

Intervenções iniciais incluem:

  • Descontaminação: lavagem cutânea se exposição dérmica; carvão ativado em janela adequada (avaliar risco de aspiração); evitar indução de vômito rotineiramente.
  • Suporte ventilatório: oxigenação e intubação se necessário; monitorização da gasometria.
  • Suporte hemodinâmico: reposição volêmica, vasopressores conforme protocolo de choque (ver protocolos locais e protocolo de sepse quando houver suspeita de disfunção orgânica associada).

Antídotos essenciais

Conhecer indicações, doses e riscos dos antídotos é crucial. A seguir, os mais frequentes e como integrá‑los ao manejo:

Naloxona

Antídoto para intoxicação por opioides com depressão respiratória. Administrar IV/IM/subcutâneo em bolus e repetir conforme resposta, com monitorização por potencial recidiva. Para estratégias de prevenção de óbitos por overdose e orientações sobre disponibilidade comunitária, consulte material da CDC.

Acetilcisteína

Tratamento de escolha para intoxicação por paracetamol — iniciar conforme tempo desde a ingestão e dosagem sérica (curva de Rumack–Matthews). O esquema pode ser endovenoso ou oral; monitorizar função hepática. Revisões clínicas detalham eficácia e regimes de administração (consultar revisão).

Flumazenil

Antagonista dos benzodiazepínicos — uso restrito: considerar em cenários selecionados (paciente sem risco de convulsões por coingestão de estimulantes ou antidepressivos tricíclicos) e com monitorização contínua.

Atropina e Pralidoxima

Base do tratamento nas intoxicações por organofosforados (pesticidas): Atropina para controlar secreções e bradicardia; Pralidoxima para reverter fosforilação da acetilcolinesterase quando indicada. A intervenção precoce reduz mortalidade.

Tratamento sintomático e suporte

Além do antídoto específico, trate convulsões com benzodiazepínicos (avaliar risco/benefício do Flumazenil), corrija distúrbios eletrolíticos, controle arritmias conforme ACLS e forneça analgesia quando indicada, seguindo princípios de prescrição segura. Em muitos casos, o manejo envolve equipe multiprofissional e internação para observação.

Prevenção e educação

Prevenção inclui rotulagem adequada, armazenamento seguro, educação sobre riscos de medicamentos e produtos químicos, e políticas de saúde pública. Para dados epidemiológicos e recomendações globais sobre prevenção de envenenamentos, veja a WHO.

Na prática clínica, articule a atenção com serviços sociais, verifique interações medicamentosas e promova o uso racional de antimicrobianos e outras medicações — há material prático no portal sobre uso racional de antibióticos.

O que lembrar na rotina clínica

  • Priorizar suporte ventilatório e hemodinâmico; antídoto é complemento, não substituto do suporte.
  • Documentar tempo de exposição e sinais neurológicos; retestar e monitorizar até estabilidade.
  • Comunicar ao serviço de toxicologia regional ou centro de intoxicações quando disponível e notificar eventos relevantes.
  • Capacitar equipes sobre descontaminação, prevenção de exposição ocupacional e administração de antídotos.

Para aprofundar o manejo em situações clínicas relacionadas (suporte hemodinâmico, triagem e cuidados iniciais), consulte conteúdo complementar e protocolos locais e nacionais. Recursos internos recomendados: materiais sobre manejo de sepse e choque, uso racional de antibióticos e prescrição segura de analgésicos.

Referências e leituras adicionais (selecionadas): WHO — fact sheet sobre envenenamentos; CDC — prevenção e naloxona; revisão sobre Acetilcisteína em paracetamol (PubMed Central).

Resumo prático

Na suspeita de intoxicação exógena, aja com rapidez: estabilize o paciente, identifique o agente sempre que possível, realize descontaminação adequada e administre antídoto específico quando indicado. A integração entre suporte clínico, monitorização e prevenção é a base para reduzir complicações e mortalidade.

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