Intoxicações exógenas e antídotos: guia prático para profissionais de saúde
Intoxicações exógenas exigem avaliação rápida e decisões baseadas em protocolos claros. Este artigo resume reconhecimento clínico, medidas imediatas, antídotos prioritários e referências práticas para o atendimento em serviços de urgência e atenção primária.
Intoxicações exógenas — reconhecimento e primeiros passos
Avaliação inicial e suporte vital
Ao receber um paciente intoxicado, priorize via aérea, respiração e circulação. Colete história focada (substância, via, tempo desde a exposição, dose estimada, co-ingestões), sinais vitais e exame neurológico. Solicite monitorização cardíaca e laboratoriais iniciais incluindo glicemia, eletrólitos, função hepática e gasometria arterial conforme quadro clínico.
Descontaminação imediata
A descontaminação é indicada caso a via e o tempo desde a ingestão sejam favoráveis: o carvão ativado reduz absorção de muitas substâncias quando administrado precocemente; a lavagem gástrica é restrita a ingestões massivas e realizadas em ambiente seguro. Avalie riscos da aspiração e contraindicações antes de proceder.
Antídotos essenciais e indicações
Paracetamol — N-acetilcisteína
O paracetamol é causa comum de intoxicação potencialmente hepatotóxica. Utilize curva de Rumack–Matthews com concentração sérica para decidir sobre a N-acetilcisteína. Idealmente, inicie o antídoto nas primeiras 8–10 horas quando indicado e continue conforme protocolos locais, monitorando enzimas hepáticas e coagulograma.
Organofosforados — atropina e pralidoxima
Organofosforados e carbamatos produzem excesso de estímulo colinérgico (sialorréia, broncorreia, bradicardia, miose, fasciculações). O tratamento combinado com atropina (repetir até controle da broncorreia/taquipneia) e pralidoxima para reativar a acetilcolinesterase é a base do manejo; suporte ventilatório pode ser necessário.
Outros antídotos de alto impacto
- Intoxicação por cianeto: considerar hidroxocobalamina quando indicado.
- Benzodiazepínicos: suporte; flumazenil é restrito (risco de convulsões em usuários crônicos ou em co-ingestão com antidepressivos tricíclicos).
- Agrotóxicos: além de antídotos específicos, priorize descontaminação e suporte hemodinâmico.
Abordagem por classes de substâncias e sinais de gravidade
Agrotóxicos e pesticidas
As manifestações variam conforme a classe (colinérgicos, herbicidas, bipiridíneos). Além do quadro tóxico agudo, considere riscos ocupacionais e acidentais em idosos e em contextos de polifarmácia. Em atenção primária, identificar sinais de insuficiência respiratória ou instabilidade hemodinâmica indica encaminhamento urgente.
Medicamentos e co-ingestões
Levante uso crônico de medicamentos (antidepressivos, antipsicóticos, anticoagulantes) que possam agravar o quadro; em idosos, a polifarmácia aumenta risco de intoxicação e interações — medidas de prevenção e revisão medicamentosa são estratégias essenciais na prática clínica (veja recomendações sobre polifarmacia em idosos para reduzir eventos adversos: polifarmácia e prevenção de quedas em idosos).
Protocolos, documentação e articulação com serviços especializados
Trabalhe sempre com protocolos locais e nacionais para garantir segurança do paciente. Em muitos hospitais, há fluxos estabelecidos para intoxicações graves — inclua esses procedimentos no prontuário e comunique serviço toxicológico quando necessário. Para suporte institucional e padronização de condutas, consulte materiais de referência e protocolos clínicos (ex.: protocolos clínicos e diretrizes).
Em cenários com suspeita de infecção concomitante ou sintomas que possam ser confundidos com intoxicação, mantenha critérios para uso racional de antimicrobianos e siga orientações de prescrição responsável: uso racional de antibióticos na atenção primária.
Recursos e referências práticas
Para decisões rápidas, contate o centro de intoxicações local e consulte fontes confiáveis: a Associação Americana de Centros de Controle de Intoxicações (Poison Control) fornece orientações práticas imediatas (poison.org), a Organização Mundial da Saúde aborda prevenção e impacto das intoxicações globalmente (who.int — prevenção de intoxicações), e as equipes de saúde ocupacional e NIOSH/CDC têm materiais sobre segurança química e manejo de exposições (CDC/NIOSH).
Orientações práticas e atualização
Resumo das ações imediatas: 1) ABCs e monitorização; 2) coleta de história e identifique a substância; 3) aplicar descontaminação adequada (carvão ativado, lavagem gástrica quando indicada); 4) administrar antídotos específicos (N-acetilcisteína para paracetamol; atropina e pralidoxima para organofosforados); 5) comunicar serviço toxicológico e documentar condutas. Atualize-se regularmente em diretrizes locais e literatura para otimizar desfechos.
Para ampliar seu conhecimento e integrar práticas seguras no atendimento, utilize as referências institucionais e os protocolos citados acima. Em caso de dúvida clínica imediata, consultar um centro de controle de intoxicações é imprescindível para decisões pontuais e seguras.