O que é MAFLD: critérios, fibrose e manejo clínico
MAFLD (doença hepática associada à disfunção metabólica) descreve o acúmulo de gordura no fígado relacionado a alterações metabólicas — como obesidade, resistência à insulina e dislipidemia — que aumentam o risco de progressão para fibrose hepática e complicações cardiovasculares. A terminologia substitui o termo histórico NAFLD (doença hepática gordurosa não alcoólica) para enfatizar a ligação com o metabolismo e orientar uma abordagem integrada entre fígado e comorbidades.
MAFLD: definição e por que importa
MAFLD é comum e potencialmente progressiva. Não se trata apenas de gordura no fígado (esteatose hepática); é sinal de um distúrbio metabólico que pode evoluir para fibrose hepática, cirrose e aumentar o risco de eventos cardiovasculares. Reconhecer MAFLD permite estratificar risco, priorizar avaliação de fibrose e integrar manejo com diabetes, hipertensão e dislipidemia.
MAFLD: critérios diagnósticos
O diagnóstico de MAFLD exige evidência de esteatose hepática por imagem (ultrassom, elastografia), por biomarcadores ou por biópsia, associada a sinais de disfunção metabólica. Na prática clínica, isso inclui:
- Esteatose hepática confirmada por exame de imagem ou histologia.
- Presença de sobrepeso/obesidade, diabetes tipo 2 ou pelo menos dois critérios de disfunção metabólica (circunferência abdominal aumentada, hipertensão ou uso de anti-hipertensivos, triglicerídeos elevados, HDL baixo, glicemia de jejum alterada ou marcadores de resistência à insulina).
A definição pode variar conforme diretrizes e populações, mas o objetivo clínico é identificar pacientes com esteatose e risco metabólico relevante para iniciar acompanhamento e intervenções.
Fibrose hepática: avaliação e estratificação de risco
A progressão para fibrose é o principal determinante do prognóstico. Avaliar fibrose é essencial para decidir encaminhamentos e intensidade do acompanhamento. As ferramentas mais usadas são:
FIB-4, scores e esteatose
Testes não invasivos como FIB-4 e NAFLD Fibrosis Score usam idade e exames de sangue para estratificar risco. São úteis como triagem inicial para identificar quem precisa de avaliação adicional.
Elastografia e FibroScan
Elastografia (por exemplo, FibroScan) mede rigidez hepática e quantifica esteatose e fibrose sem biópsia. É indicado quando scores sanguíneos sugerem risco aumentado de fibrose significativa.
Biópsia hepática
A biópsia permanece o padrão-ouro para diagnosticar NASH (esteato-hepatite não alcoólica) e quantificar fibrose, porém é reservada para casos em que o resultado alterará conduta ou quando há dúvida após testes não invasivos.
Manejo clínico da MAFLD
O tratamento é multifatorial, com foco em reduzir gordura hepática, melhorar resistência à insulina e prevenir progressão da fibrose. Os pilares incluem:
Perda de peso e dieta
- Perda de 5–10% do peso corporal costuma reduzir esteatose hepática e inflamação; metas realistas e acompanhamento profissional aumentam a adesão.
- Padrões alimentares como a dieta mediterrânea, com frutas, verduras, grãos integrais, proteínas magras e gorduras monoinsaturadas, beneficiam o fígado e o perfil metabólico.
- Reduzir bebidas açucaradas e carboidratos refinados ajuda a controlar glicemia e triglicerídeos.
Atividade física
Recomenda-se ao menos 150 minutos por semana de atividade aeróbica moderada, combinada com treinamento de força duas vezes por semana, para melhorar sensibilidade à insulina e reduzir gordura hepática.
Controle das comorbidades
- Controle glicêmico em diabetes tipo 2 reduz risco de progressão. Alguns antidiabéticos têm efeito benéfico no fígado; a escolha deve considerar peso e comorbidades.
- Tratamento de dislipidemia (incluindo estatinas quando indicadas) visa reduzir risco cardiovascular sem contraindicar uso por doença hepática estável.
- Controle da hipertensão contribui para saúde global e deve ser parte do plano terapêutico.
Opções farmacológicas e terapias emergentes
Não existe, hoje, uma medicação única que cure MAFLD para todos. Algumas intervenções estudadas incluem vitamina E em grupos selecionados, agonistas de GLP-1 que reduzem peso e gordura hepática, e agentes em estudo que atuam sobre inflamação e fibrose (por exemplo, moduladores de PPARs). A prescrição deve ser individualizada e respaldada por evidência e diretrizes atuais.
Cuidados práticos e educação
- Consultas regulares para monitorar peso, função hepática e sinais de progressão de fibrose.
- Educação terapêutica com nutricionista e educador físico melhora adesão a mudanças de estilo de vida.
- Rever uso de suplementos, suplementos herbais e medicamentos com potencial hepatotóxico.
Para apoio prático na mudança de hábitos e prevenção de complicações, materiais do próprio blog podem ser úteis — por exemplo, orientações sobre nutrição prática para prevenção cardiovascular, metas e adesão em metas glicêmicas e adesão no diabetes tipo 2 e intervenções em prevenção de quedas em idosos quando a mobilidade for um aspecto a ser considerado no plano de atividade física.
Riscos e acompanhamento: o que monitorar
Pacientes com MAFLD têm maior risco de fibrose avançada, cirrose e eventos cardiovasculares. O acompanhamento deve incluir avaliações periódicas de função hepática, triagem de fibrose (scores e elastografia quando indicado) e controle rigoroso de glicemia, pressão arterial e lipídios. Encaminhamento para hepatologia, endocrinologia ou cardiologia deve ser considerado conforme grau de fibrose e comorbidades.
MAFLD: recomendações práticas finais
Se houver suspeita ou diagnóstico de MAFLD, passos imediatos recomendados:
- Solicitar avaliação inicial de fibrose (FIB-4 e/ou elastografia) e exames laboratoriais básicos.
- Iniciar plano de perda de peso com suporte nutricional e prescrição de atividade física progressiva.
- Controlar comorbidades: glicemia, pressão arterial e dislipidemia.
- Discutir, com o médico, opções farmacológicas quando indicadas e acompanhar pesquisas sobre terapias emergentes.
- Buscar materiais educativos sobre nutrição e adesão terapêutica disponíveis no blog, por exemplo nas páginas sobre nutrição prática e adesão terapêutica em doenças crônicas, para apoio contínuo.
Abordar MAFLD exige visão integrada: a identificação precoce de esteatose hepática e estratificação da fibrose, aliados ao controle da resistência à insulina e das comorbidades, são essenciais para reduzir complicações e melhorar prognóstico. Profissionais devem priorizar diagnóstico multidisciplinar e planos individualizados; pacientes devem saber que mudanças de estilo de vida e acompanhamento regular são as intervenções de maior impacto no momento.