Menopausa prática: diagnóstico, terapia hormonal e alternativas
Menopausa: o que é e impactos na saúde
A menopausa corresponde à cessação permanente da função ovariana e à redução dos níveis de estrogênio. Para muitas mulheres, sintomas como calorões (fogachos), sudorese noturna, alterações do sono, mudanças de humor e atrofia vaginal surgem anos antes da última menstruação e podem persistir por muito tempo. Além dos sintomas imediatos, a menopausa influencia a saúde óssea, aumentando o risco de osteoporose e fraturas, e altera fatores metabólicos que podem elevar o risco cardiovascular. A avaliação individualizada é essencial para balancear benefícios e riscos das opções terapêuticas.
Avaliação clínica prática na menopausa
A avaliação médica deve ser centrada na paciente, com história detalhada e exame físico direcionado. Pontos importantes a considerar:
- Sintomas: frequência, intensidade e impacto na rotina;
- História reprodutiva e uso prévio de hormônios;
- Antecedentes pessoais e familiares de câncer de mama, doença cardiovascular e osteoporose;
- Fatores de risco para tromboembolismo venoso (TEV) e comorbidades (hipertensão, diabetes, dislipidemia, obesidade);
- Medicações em uso que possam interagir com a terapia hormonal;
- Preferências e objetivos da paciente em relação a tratamento e qualidade de vida.
Exames complementares devem ser solicitados conforme a indicação clínica: dosagens laboratoriais quando houver dúvida diagnóstica, densitometria óssea para avaliação da saúde óssea e checagem de fatores cardiovasculares. Para pacientes com sintomas de sono, a investigação de distúrbios do sono pode guiar intervenções não hormonais eficazes.
Terapia hormonal (TH): indicação, riscos e benefícios
A terapia hormonal é a opção mais eficaz para o alívio de sintomas vasomotores moderados a graves e para tratar a atrofia urogenital. A indicação depende de idade, tempo desde a menopausa, presença de comorbidades e preferências da paciente. Pontos-chave:
- Indicações principais: alívio de calorões, sudorese noturna, insônia relacionada a sintomas vasomotores e tratamento de atrofia vaginal quando necessário;
- Idade e tempo desde a menopausa: maior benefício e menor risco quando iniciada em mulheres mais próximas do início da menopausa (geralmente até 10 anos após a última menstruação ou por volta dos 60 anos), salvo contraindicações;
- Contraindicações absolutas: câncer de mama ativo ou suspeito, TEV recente, AVC ou infarto recentes, doença hepática grave e sangramento uterino inexplicado;
- Riscos: leve aumento do risco de TEV (dependendo da via e do regime), possível aumento relativo do risco de câncer de mama associado à duração e tipo de TH e risco de hiperplasia endometrial se estrogênio for usado sem proteção em mulheres com útero intacto;
- Benefícios adicionais: proteção óssea, melhoria da qualidade de vida e redução significativa dos fogachos.
Tipos de terapia hormonal
A terapia hormonal pode ser formulada por diferentes vias e combinações; a escolha deve considerar risco individual e preferência:
- Estrogênio sistêmico: via oral ou transdérmica (adesivos/gel). A via transdérmica pode apresentar menor impacto no fígado e menor risco de TEV em pacientes suscetíveis;
- Progestagênio: indicado para mulheres com útero preservado, para prevenção da hiperplasia endometrial; pode ser administrado de forma contínua ou cíclica;
- Estrogênio local vaginal: cremes, comprimidos ou anéis de uso vaginal para tratar atrofia vaginal com mínima exposição sistêmica, útil para dor na relação sexual e secura;
- Terapias combinadas: estrogênio mais progestagênio para proteção endometrial quando indicado.
A escolha da dose, via e duração deve ser revista periodicamente. A monitorização clínica e a vigilância de sintomas adversos são essenciais.
Alternativas não hormonais na menopausa
Quando a terapia hormonal é contraindicada ou não desejada, existem opções eficazes não hormonais e medidas de estilo de vida que reduzem sintomas e melhoram a qualidade de vida:
- Fármacos com eficácia para fogachos: certos SSRIs/SNRIs, antidepressivos e gabapentina; a escolha depende da tolerância e de possíveis interações medicamentosas;
- Clonidina e outros agentes podem ajudar, mas com efeitos colaterais que devem ser monitorados;
- Terapias comportamentais: terapia cognitivo-comportamental (TCC), técnicas de manejo do estresse, biofeedback e higiene do sono podem reduzir a frequência e a intensidade dos calorões e melhorar o sono;
- Exercício físico regular e práticas como ioga e treino de resistência ajudam na saúde óssea, no humor e no controle do peso;
- Suplementos e fitoestrógenos têm evidência limitada e inconsistente; sempre discutir com o médico antes de iniciar;
- Tratamentos locais para sintomas geniturinários: estrogênios vaginais em baixa dose ou lubrificantes são opções seguras para a maioria das pacientes com atrofia vaginal.
Medidas de nutrição e controle de fatores de risco cardiovascular também fazem parte do manejo; para orientações práticas sobre dieta e risco cardiovascular consulte conteúdos sobre nutrição prática para risco cardiovascular e, para questões específicas sobre saúde cardíaca, leia sobre mulheres e doenças cardiovasculares.
Segurança, riscos e monitoramento
Antes de iniciar qualquer tratamento é essencial discutir riscos e estratégias de monitoramento:
- Tromboembolismo venoso (TEV): risco aumentado com algumas formas de TH sistêmica; considerar vias transdérmicas quando apropriado;
- Câncer de mama e endométrio: risco associado varia conforme dose, duração e tipo de hormônio; proteção endometrial com progestagênio é necessária se o útero estiver presente;
- Riscos cardiovasculares: avaliar fatores como pressão arterial, tabagismo, diabetes e dislipidemia antes de iniciar TH;
- Monitoramento: consultas periódicas para avaliar resposta, ajustar dose/via e investigar sintomas de alerta (sangramento vaginal anormal, dor torácica, dispneia, dor na panturrilha).
Considerações específicas
Algumas situações exigem abordagem diferenciada:
- Mulheres com útero intacto: usar progestagênio para proteção endometrial quando houver estrogênio sistêmico;
- Histerectomia prévia: a TH com estrogênio isolado pode ser considerada quando indicada;
- Histórico ou câncer de mama ativo: TH sistêmica geralmente contraindicada; discutir alternativas não hormonais e opções locais para sintomas urogenitais com equipe oncológica;
- Alto risco de TEV: priorizar alternativas não hormonais ou vias com menor risco.
Como preparar a consulta: orientações práticas
Para uma tomada de decisão compartilhada eficiente, leve à consulta:
- Lista de sintomas com frequência, intensidade e impacto;
- Histórico pessoal e familiar relevante (câncer de mama, TEV, doenças cardíacas, osteoporose);
- Lista de medicamentos em uso e preferências sobre hormônios, via e duração do tratamento;
- Metas de tratamento: alívio de fogachos, melhora do sono, preservação da saúde óssea, bem-estar sexual.
Próximos passos na menopausa
Transforme o conhecimento em ação com este roteiro prático:
- Agende avaliação médica para discutir sintomas e objetivos;
- Solicite avaliação de risco personalizada, incluindo densitometria óssea quando indicada;
- Converse sobre opções de terapia hormonal (dose, via, necessidade de progestagênio) e alternativas não hormonais;
- Adote medidas de estilo de vida (exercício, sono adequado, alimentação) que favoreçam a saúde óssea e cardiovascular;
- Defina um plano de monitoramento periódico e sinais de alerta para retorno imediato.
Uma abordagem individualizada, baseada em evidência e em conversa aberta entre paciente e equipe de saúde é a melhor estratégia para melhorar a qualidade de vida na menopausa. A tomada de decisão compartilhada garante que riscos, benefícios e preferências pessoais sejam considerados de forma equilibrada.