Microbioma ocular: impacto na saúde ocular e práticas clínicas

Microbioma ocular: impacto na saúde ocular e práticas clínicas

O microbioma ocular — a comunidade de bactérias, fungos e vírus que coloniza a superfície ocular — é cada vez mais reconhecido como determinante da saúde ocular e da resposta inflamatória local. Compreender sua composição, fatores que alteram seu equilíbrio e as implicações clínicas traz vantagens práticas para oftalmologistas e para a atenção primária.

Microbioma ocular: composição e diversidade

Composição microbiana da superfície ocular

As espécies mais frequentemente identificadas incluem Staphylococcus epidermidis, Corynebacterium spp. e Propionibacterium acnes, mas a população microbiana varia com idade, higiene, uso de lentes de contato e comorbidades sistêmicas. A diversidade e o equilíbrio dessa comunidade protegem contra a colonização por patógenos oportunistas e ajudam a modular a imunidade local.

Fatores que alteram o equilíbrio

Uso prolongado de lentes de contato, higiene inadequada das pálpebras, uso repetido e indiscriminado de colírios antibióticos e alterações sistêmicas (como doenças metabólicas) são causas frequentes de disbiose ocular. Essas alterações podem aumentar o risco de ceratite microbiana, conjuntivite e agravar a síndrome do olho seco.

Microbioma ocular: implicações clínicas

Conjuntivite e ceratite

O desequilíbrio do microbioma ocular facilita a sobrecrescimento de patógenos causadores de conjuntivite e de ceratite. Na abordagem clínica, além do diagnóstico microbiológico quando indicado, é essencial considerar intervenções que preservem a microbiota com estratégias de higiene e prescrição criteriosa de antimicrobianos.

Síndrome do olho seco

Alterações na comunidade microbiana da superfície podem perpetuar inflamação e sintomas de olho seco. Estudos mostram associação entre baixa diversidade microbiana e sinais inflamatórios na córnea e conjuntiva, o que abre espaço para intervenções que visem restaurar equilíbrio microbiano em conjunto com terapias lubrificantes e anti-inflamatórias.

Risco associado ao uso de lentes de contato

As lentes modificam o microambiente ocular, favorecendo biofilmes e espécies potencialmente patogênicas. Educação sobre cuidados, substituição correta e uso de soluções apropriadas reduz o risco de complicações; para protocolos locais de triagem e orientação na atenção primária, veja recomendações sobre saúde ocular na atenção primária.

Integrando o conhecimento do microbioma ocular na prática

Modulação microbiana e terapias emergentes

Pesquisas iniciais testam probióticos tópicos e prebióticos para modular a microbiota ocular e reduzir inflamação. Ainda que promissora, a aplicação clínica exige evidência robusta antes de rotinas formais; enquanto isso, intervenções simples como higiene palpebral e correção de fatores de risco permanecem centrais.

Prescrição criteriosa de antibióticos

O uso indiscriminado de antibióticos tópicos altera a microbiota e pode selecionar resistência. A prescrição deve ser guiada por apresentação clínica, gravidade, exame e, quando indicado, cultura. Protocolos práticos sobre prescrição racional e redução de danos podem ser consultados em materiais sobre prescrição racional de antibióticos.

Relação com outros microbiomas e saúde sistêmica

Interações entre microbioma oral, cutâneo e ocular sugerem que práticas integradas de saúde e controle de inflamação sistêmica influenciam a superfície ocular. Revisões sobre microbioma oral e suas relações sistêmicas ajudam a contextualizar essas conexões: microbioma oral e saúde sistêmica.

Recomendações práticas para clínicos

  • Valorizar anamnese detalhada: higiene palpebral, uso de lentes, episódios prévios de infecção e uso de colírios.
  • Priorizar medidas não farmacológicas: higiene das pálpebras, orientação sobre lentes e lubrificação para síndrome do olho seco.
  • Reservar antibióticos tópicos para indicações bem estabelecidas e considerar cultura em casos graves ou com mau prognóstico.
  • Monitorar sinais de ceratite e encaminhar precocemente quando houver risco de comprometimento visual.
  • Acompanhar evidências sobre probióticos/prebióticos oculares antes de adotá-los rotineiramente.

Para suporte de leitura e evidência, consulte estudos e revisões recentes: artigo na Revista Brasileira de Oftalmologia (RBOf, 2025), revisão sobre antibioticoprofilaxia em oftalmologia (InfectoCast) e diretrizes latino-americanas sobre alergia ocular (ResearchGate).

Aplicações clínicas e recomendações finais

O reconhecimento do papel do microbioma ocular abre oportunidades para prevenir infecções, reduzir inflamação e individualizar cuidados. Na prática, priorize medidas de higiene ocular, educação ao paciente, uso racional de antimicrobianos e encaminhamentos oportunos. Mantenha-se atualizado nas diretrizes e pesquisas para incorporar, de forma segura, novas intervenções microbiota‑alvo.

* Alguns de nossos conteúdos podem ter sido escritos ou revisados por IA. Fotos por Pexels ou Unsplash.