O que é NAFLD e NASH: sinais, FibroScan e opções de tratamento

Doenças hepáticas relacionadas ao acúmulo de gordura são uma das principais manifestações do desequilíbrio metabólico contemporâneo. Este texto, voltado a médicos e pacientes, explica de forma prática o que é NAFLD e NASH, como reconhecer sinais, interpretar exames como o FibroScan (elastografia) e quais medidas terapêuticas e de acompanhamento são indicadas.

O que são NAFLD e NASH

NAFLD (doença hepática gordurosa não alcoólica) refere-se ao acúmulo de gordura no fígado em ≥5% dos hepatócitos, na ausência de consumo alcoólico significativo. O espectro vai desde esteatose simples até a forma inflamatória e potencialmente progressiva, a NASH (esteato-hepatite não alcoólica). A distinção clínica importante é a presença de inflamação e lesão hepatocelular em NASH, frequentemente acompanhada por fibrose, que eleva o risco de cirrose e carcinoma hepatocelular.

É importante que pacientes saibam que muitos casos são assintomáticos; a suspeita costuma surgir em avaliações de rotina para obesidade, diabetes tipo 2, dislipidemia ou por alteração de exames hepáticos.

Fatores de risco e epidemiologia

Os fatores de risco estão intimamente ligados à síndrome metabólica. Entre os principais aparecem:

  • obesidade, especialmente adiposidade central;
  • diabetes tipo 2 e resistência à insulina;
  • dislipidemia (colesterol LDL elevado, triglicerídeos altos);
  • hipertensão arterial;
  • história familiar e predisposição genética;
  • sedentarismo e alimentação rica em açúcares simples e gorduras refinadas;
  • história de obesidade na infância.

Estima-se prevalência global de NAFLD em torno de 25–30%, com maior frequência em indivíduos com obesidade e diabetes. Nem todos progridem para NASH; entretanto, quando ocorre inflamação persistente, a fibrose pode avançar e aumentar risco de complicações hepáticas e cardiovasculares.

Para reforçar intervenções alimentares no contexto metabólico, veja nutrição prática para prevenção cardiovascular.

Sinais, sintomas e diagnóstico

A maioria dos pacientes com NAFLD/NASH não apresenta sintomas específicos. Quando presentes, os sinais são inespecíficos: fadiga, desconforto no hipocôndrio direito ou sensação de plenitude pós-prandial. O diagnóstico diferencial deve excluir causas como hepatites virais, doença hepática alcoólica significativa, etiologias autoimunes ou medicamentos tóxicos.

Pilares do diagnóstico:

  • Exames laboratoriais: ALT e AST podem estar normais ou discretamente elevadas; a relação AST/ALT não é isoladamente diagnóstica.
  • Imagem inicial: ultrassonografia é o exame de rastreio mais usado para detectar esteatose, porém não diferencia fibrose.
  • Scores não invasivos: FIB-4 e NAFLD fibrosis score ajudam a estratificar risco de fibrose avançada e a decidir necessidade de avaliação complementar.
  • Elastografia (FibroScan): permite estimar rigidez hepática e quantidade de gordura (CAP) sem biópsia.
  • Biópsia hepática: padrão-ouro para confirmar NASH e quantificar fibrose, indicada quando há incerteza diagnóstica ou necessidade de confirmação histológica para decisões terapêuticas.

Para aspectos de função cerebral em doença hepática, há material sobre encefalopatia hepática mínima.

Avaliação de fibrose com FibroScan

O FibroScan é uma técnica de elastografia que mede a rigidez hepática em kilopascais (kPa) e utiliza CAP para estimar esteatose. É uma ferramenta útil para estratificar fibrose (baixo, indeterminado, alto risco) e para monitorar evolução ao longo do tempo, em conjunto com FIB-4 e dados clínicos.

Interpretação e limitações do FibroScan

Os pontos a considerar na interpretação incluem influência da inflamação aguda, esteatose grave, edema e obesidade, que podem alterar valores; em alguns pacientes com muito tecido subcutâneo, a precisão diminui e pode ser necessário utilizar sondas específicas ou complementar com ressonância magnética com elastografia. A leitura deve ser integrada ao quadro clínico e a exames bioquímicos.

Tratamento e manejo

O tratamento é multidisciplinar, com foco na redução de fatores metabólicos e na perda de peso sustentável. Não existe, atualmente, uma única droga universal aprovada para todo o espectro de NAFLD/NASH; porém intervenções combinadas têm demonstrado benefícios clínicos e histológicos.

Medidas não farmacológicas

  • Perda de peso: meta realista de 7–10% do peso corporal em 6–12 meses costuma melhorar inflamação e fibrose em muitos pacientes.
  • Atividade física: exercícios aeróbicos e de resistência reduzindo gordura hepática e melhorando resistência à insulina.
  • Intervenções dietéticas: padrão mediterrâneo, redução de açúcares simples e controle calórico; ajuste nutricional em diabéticos para manter bom controle glicêmico.

Tratamento de comorbidades e farmacologia

Tratar diabetes, dislipidemia e hipertensão é essencial, pois eventos cardiovasculares são a principal causa de morte nesses pacientes. Em relação a fármacos com evidência:

  • Pioglitazona: mostrou melhora histológica em pacientes com NASH (com e sem diabetes) — avaliar risco de ganho de peso, edema e efeitos a longo prazo.
  • Vitamina E: evidência de melhora histológica em NASH não diabético em estudos com 800 UI/dia; considerando potenciais riscos, sua indicação deve ser individualizada.
  • Agentes anti-obesidade e agonistas de GLP‑1: demonstram redução de peso e melhora metabólica; estudos indicam benefício em redução de esteatose e possibilidade de impacto na fibrose, dependendo do agente e da dose.
  • Fármacos antifibróticos e outras drogas direcionadas a vias metabólicas e inflamatórias estão em desenvolvimento; uso restrito a contextos com evidência e, quando disponível, a indicação de hepatologista.

Vacinação (hepatite A/B, influenza, pneumococo) é recomendada conforme orientações locais para reduzir riscos adicionais em pacientes com doença crônica (vacinação de adultos com comorbidades).

Complicações, monitoramento e prognóstico

Progressão para fibrose avançada, cirrose e hipertensão portal é possível em pacientes com NASH. O risco de carcinoma hepatocelular aumenta em estágios avançados. Além disso, o risco cardiovascular é elevado; por isso, o acompanhamento deve incluir avaliação periódica de função hepática, glicemia, perfil lipídico e repetição de elastografia quando indicado.

Abordagem prática na clínica

  • Triagem: use FIB-4 ou NAFLD fibrosis score em pacientes com obesidade, diabetes ou dislipidemia para decidir encaminhamento.
  • Estratificação: em risco intermediário/alto, realizar FibroScan e, se necessário, encaminhar ao hepatologista.
  • Integração multidisciplinar: coordene cuidados entre atenção primária, hepatologia, endocrinologia, nutricionista e equipe de atividade física.
  • Monitoramento: repetir exames laboratoriais e elastografia conforme risco e resposta terapêutica.

Conteúdos relacionados à avaliação da fibrose e à integração cardiometabólica estão disponíveis em fibrose: sinais, avaliação e opções antifibóticas e promoção de saúde cardiovascular na prática clínica.

O que fazer agora: orientações para NAFLD e NASH

Passos práticos imediatos

  • Procure avaliação médica se tiver obesidade, diabetes tipo 2 ou dislipidemia, mesmo sem sintomas.
  • Solicite testes de função hepática e calcule FIB-4/NAFLD fibrosis score para estratificar risco.
  • Considere FibroScan para avaliação não invasiva de fibrose e esteatose quando indicado.
  • Inicie plano integrado de perda de peso (meta 7–10%), dietoterapia e exercício com suporte profissional.
  • Trate comorbidades (controle glicêmico, dislipidemia, hipertensão) para reduzir risco cardiovascular e progressão hepática.

NAFLD e NASH respondem bem, em muitos casos, a intervenções no estilo de vida e ao manejo adequado das comorbidades. A decisão sobre uso de medicamentos específicos deve ser individualizada e, quando necessário, tomada em conjunto com hepatologista. Para pacientes, buscar acompanhamento regular e aderir às mudanças prescritas é a melhor estratégia para preservar a função hepática e a saúde geral.

* Alguns de nossos conteúdos podem ter sido escritos ou revisados por IA. Fotos por Pexels ou Unsplash.