Neuropatia periférica induzida por quimioterapia: guia prático de triagem, manejo e reabilitação

Neuropatia periférica induzida por quimioterapia: guia prático de triagem, manejo e reabilitação

A neuropatia periférica induzida por quimioterapia (NPiQ) é uma complicação frequente em pacientes expostos a agentes quimioterápicos neurotóxicos. A condição compromete qualidade de vida, mobilidade e adesão ao tratamento oncológico. Este guia direto apresenta orientações práticas para triagem precoce, diagnóstico diferencial, manejo farmacológico e não farmacológico, além de estratégias de reabilitação que visam reduzir déficits funcionais.

O que é neuropatia periférica induzida por quimioterapia e por que ela ocorre?

A NPiQ resulta de danos aos nervos periféricos causados por agentes como platinados (cisplatina, oxaliplatina), taxanos (paclitaxel, docetaxel), vinca-alcaloides e outras classes. Os sintomas costumam ser bilaterais com distribuição distal e envolvem predominantemente fibras sensoriais, podendo também afetar fibras motoras e autonômicas. Aspectos relevantes:

  • Sintomas comuns: parestesias, formigamento, dor neuropática em queimação, sensação de picadas, hipersensibilidade tátil e desequilíbrio.
  • Curso temporal: alguns pacientes apresentam sintomas durante o tratamento; outros desenvolvem neuropatia de início tardio, semanas a meses após a quimioterapia.
  • Impacto funcional: redução da tolerância ao exercício, maior risco de quedas, dificuldade em atividades da vida diária e potencial impacto na continuidade da quimioterapia.

Importante: a NPiQ pode coexistir com outras neuropatias (diabetes, deficiência de vitamina B12, alcoolismo, neuropatias hereditárias). Avaliação clínica e exames complementares ajudam a excluir causas alternativas.

Triagem e diagnóstico: quando suspeitar de neuropatia periférica induzida por quimioterapia

A triagem deve iniciar antes do primeiro ciclo e ser repetida a cada ciclo ou quando surgirem sintomas novos. Componentes essenciais:

  • Anamnese dirigida: agente quimioterápico, dose acumulada, tempo de exposição, início e progressão dos sintomas.
  • Exame neurológico: avaliação de sensibilidade (percepção de vibração com diapasão, teste de propriocepção), sensibilidade ao toque (monofilamento de Semmes‑Weinstein), força muscular, tônus, coordenação, marcha e equilíbrio.
  • Instrumentos padronizados: uso de escalas validadas (por exemplo, NPSI) e do Common Terminology Criteria for Adverse Events (CTCAE) para classificar gravidade e orientar decisões terapêuticas.
  • Exames complementares: quando indicado, estudos de condução nervosa e eletromiografia; em muitos casos a avaliação clínica e testes simples de função sensorial são suficientes para monitoramento.

Diferencie sempre NPiQ de causas metabólicas, nutricionais e tóxicas. Para referências clínicas sobre triagem de dor e função, veja leituras relacionadas em dor lombar aguda e manejo de dor crônica inespecífica (dor lombar aguda, dor crônica inespecífica).

Manejo farmacológico e não farmacológico na neuropatia periférica induzida por quimioterapia

O tratamento deve ser individualizado conforme severidade, envolvimento funcional e terapia antineoplásica em curso.

Abordagem farmacológica

  • Duloxetina: evidência favorável para dor neuropática relacionada à quimioterapia; é frequentemente considerada opção de primeira linha quando não houver contraindicação.
  • Antiepilépticos e outros antidepressivos: gabapentina e pregabalina podem reduzir dor neuropática em alguns pacientes; antidepressivos tricíclicos são alternativa em casos selecionados, sempre avaliando comorbidades e interações medicamentosas.
  • Ajustes na quimioterapia: em neuropatia progressiva ou grave, discutir com a equipe oncológica redução de dose, extensão do intervalo ou troca de agente para equilibrar eficácia oncológica e toxicidade neurológica.

Intervenções não farmacológicas

  • Fisioterapia e reabilitação: programas de fortalecimento, treino proprioceptivo e reeducação da marcha reduzem risco de queda e melhoram funcionalidade.
  • Treino de equilíbrio e prevenção de quedas: tai chi, exercícios de equilíbrio e estratégias de adaptação domiciliar aumentam segurança e independência.
  • Nutrição e suplementação: avaliar e corrigir deficiências (por exemplo, vitamina B12) somente quando indicadas; suplementação sem indicação comprovada não é recomendada sem orientação médica.

Consulte leituras adicionais sobre manejo multimodal da dor e reabilitação em posts relacionados (manejo dor crônica inespecífica).

Reabilitação prática na neuropatia periférica induzida por quimioterapia

A reabilitação visa restaurar função, reduzir déficits sensoriais e prevenir complicações. Componentes-chave:

  • Treinamento balanceado: exercícios específicos para equilíbrio, fortalecimento de membros inferiores e treino de marcha com foco na biomecânica.
  • Modalidades sensoriais: treino proprioceptivo e, quando adequado, estímulos vibratórios controlados para dessensibilização e melhora da percepção sensorial.
  • Atividades funcionais: adaptação de atividades diárias, retorno progressivo ao trabalho e ao lazer com metas mensuráveis.

A reabilitação idealmente envolve equipe multiprofissional: fisioterapeuta, médico de reabilitação, nutricionista, enfermeiro e oncologista. Para estratégias integradas de manejo de dor e função, veja também a abordagem à dor lombar aguda (dor lombar aguda).

Monitoramento, prevenção e suporte ao paciente com neuropatia por quimioterapia

Medidas práticas para reduzir impacto da NPiQ:

  • Avaliações regulares: reavaliação neurológica a cada ciclo ou sempre que houver alteração nos sintomas.
  • Educação do paciente: reconhecimento precoce de sinais de alerta, cuidados para prevenção de quedas e orientações sobre ergonomia doméstica.
  • Coordenação multidisciplinar: alinhamento entre oncologia, neurologia, reabilitação e atenção primária para ajustar tratamento e proteger função.
  • Vigilância de interações: monitorar interações entre analgésicos, antidepressivos/antiepilépticos e quimioterápicos; avaliar função renal e hepática conforme necessário.

Para aspectos relacionados à fadiga e anemia associadas ao tratamento, consulte conteúdos relevantes (fadiga crônica, anemia ferropriva).

O que pacientes podem fazer hoje sobre neuropatia periférica induzida por quimioterapia

  • Comunicar imediatamente qualquer dormência, formigamento, alteração de sensibilidade ou dor à equipe oncológica.
  • Manter atividade física supervisionada: exercícios adaptados para preservar força e equilíbrio, sob orientação profissional.
  • Participar da reabilitação: comprometer-se com o plano estabelecido pela equipe multiprofissional e estabelecer metas realistas.
  • Adotar medidas de segurança doméstica: evitar tapetes soltos, usar calçados adequados e instalar barras de apoio quando necessário.

Para dicas práticas sobre dor e qualidade de vida, veja leituras relacionadas em dor torácica e manejo da dor crônica (dor torácica, dor crônica inespecífica).

O que a evidência atual orienta sobre o manejo da neuropatia periférica induzida por quimioterapia

Diretrizes recentes destacam a individualização do tratamento, priorizando função e qualidade de vida sem comprometer a terapia antineoplásica. Pontos práticos:

  • Respeitar preferências do paciente e comorbidades ao selecionar terapias farmacológicas.
  • Usar analgésicos orais com monitorização de efeitos adversos, especialmente em idosos ou pacientes com função renal/hepática reduzida.
  • Implementar reabilitação precoce e supervisionada para melhorar propriocepção e equilíbrio.

Resumo prático para a prática clínica

  • Realizar triagem neurológica sistemática antes, durante e após a quimioterapia.
  • Iniciar manejo farmacológico quando indicado, preferindo tratamentos com evidência para dor neuropática relacionada à quimioterapia e monitorando interações medicamentosas.
  • Integrar reabilitação física (fisioterapia, treino de equilíbrio) como parte do plano terapêutico.
  • Educar o paciente sobre prevenção de quedas, sinais de alerta e necessidade de comunicar alterações precocemente.

Leituras relacionadas

Orientações finais sobre neuropatia periférica induzida por quimioterapia

Para minimizar déficits funcionais associados à neuropatia periférica induzida por quimioterapia, adote uma estratégia multifacetada: triagem precoce, manejo farmacológico criterioso (por exemplo, considerar duloxetina quando apropriado), reabilitação integrada (fisioterapia, treino de equilíbrio) e educação ativa do paciente. A coordenação entre oncologia, neurologia, reabilitação e atenção primária é essencial para otimizar desfechos e preservar qualidade de vida. Em dúvidas sobre condutas específicas, consulte guidelines atualizados e discuta o caso em equipe multidisciplinar.

Observação: este texto destina-se a profissionais de saúde e leigos informados; prescrição de medicamentos e intervenções deve ser sempre realizada por médico responsável, considerando risco-benefício e contexto clínico individual.

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