Abordagem prática da dor lombar aguda na APS

Abordagem prática da dor lombar aguda na APS

Introdução

Você atende pacientes com dor lombar aguda toda semana? Esta é uma das maiores causas de perda de produtividade e de busca por serviços na Atenção Primária à Saúde. A maioria dos episódios é inespecífica e tende a melhorar em 4–6 semanas, mas a prática clínica na APS deve focar em alívio rápido, mobilização precoce e prevenção da cronificação.

1. Diagnóstico na atenção primária

Na consulta inicial, faça anamnese dirigida e exame físico focalizado para diferenciar lombalgia inespecífica de causas graves. A regra prática é: identificar sinais de alerta (red flags) — infecção, fratura, tumor, síndrome da cauda equina ou déficit neurológico progressivo — que justificam investigação e encaminhamento urgente.

Principais passos

  • Tempo de início, mecanismo, irradiação para membros e acompanhamento de sintomas sistêmicos.
  • Avaliar força, sensibilidade, reflexos e sinal de SLR (elevação da perna estendida) quando indicado.
  • Evitar exames de imagem rotineiros em casos inespecíficos sem red flags; imagem só se suspeita de causa específica ou se sintomas persistirem além de 6 semanas.

Para um roteiro prático de consulta e exame, veja o material complementar sobre anamnese e exame físico em anamnese e exame físico e o foco em avaliação neurológica.

2. Tratamento farmacológico: princípios práticos

O manejo farmacológico inicial deve priorizar segurança e eficácia. As diretrizes nacionais e revisões recomendam:

  • AINEs (anti-inflamatórios não esteroides) como primeira escolha para controle de dor em pacientes sem contraindicações; sempre avaliar risco GI, renal e interações medicamentosas.
  • Paracetamol pode ser usado como adjuvante, embora evidências de eficácia sejam limitadas comparado a AINEs.
  • Opioides devem ser reservados para casos selecionados, por curto período e com plano de reeavaliação e desmame; consultar diretrizes sobre prescrição segura de opioides em dor crônica quando necessário (prescrição segura de opioides).
  • Relaxantes musculares podem ajudar em episódios com espasmo significativo, mas uso deve ser temporal e avaliado caso a caso.

Considere sempre interação medicamentosa e ajuste em pacientes idosos ou com doença renal/hepática — aqui um recurso prático sobre ajuste de doses pode ser útil: ajuste de dose na insuficiência hepática.

3. Intervenções não farmacológicas

A fisioterapia e a atividade orientada são pilares do tratamento. Evidências mostram que intervenções precoces reduzem tempo de incapacidade e custos.

Recomendações práticas

  • Incentivar mobilização precoce e retorno às atividades dentro dos limites da dor.
  • Prescrever exercícios terapêuticos individualizados e progressivos; encaminhar para fisioterapia quando houver limitação funcional ou dor persistente.
  • Educação do paciente sobre a natureza benigna na maioria dos casos de lombalgia inespecífica e estratégias de autocuidado.

Protocolos locais para encaminhamento à fisioterapia e estudos sobre custo-efetividade podem ser consultados, por exemplo, em trabalhos disponíveis no repositório acadêmico (estudo Distrito Federal) e em revisões sistemáticas (revisão UFMG).

4. Abordagem biopsicossocial e educação

Adotar uma perspectiva biopsicossocial é essencial. Fatores psicológicos (ansiedade, catastrofização), ocupacionais e sociais influenciam o risco de cronificação. Identifique yellow flags e ofereça intervenções breves ou encaminhamento para apoio psicossocial quando indicado.

Mensagens-chave para orientar o paciente

  • Explicar que a maioria melhora em semanas e que manter-se ativo ajuda na recuperação.
  • Definir metas funcionais (retorno ao trabalho, caminhar X minutos) e plano de acompanhamento.
  • Fornecer materiais educativos e, quando possível, referir a programas de reabilitação multidisciplinar.

5. Encaminhamento e sinais de alerta

Encaminhe para avaliação especializada ou emergência se identificar:

  • Déficit motor progressivo ou perda sensitiva compatível com síndrome da cauda equina.
  • Sinais sistêmicos (febre, perda de peso inexplicada), história de câncer, uso prolongado de corticoterapia ou trauma significativo — suspeita de infecção, neoplasia ou fratura.
  • Dor que não melhora após semanas de tratamento conservador com piora funcional.

Diretrizes nacionais (Ministério da Saúde) orientam o manejo na Atenção Primária e quando encaminhar, disponíveis em linhas de cuidado oficiais: linha de cuidado dor lombar.

Seguimento e prevenção da cronificação

Agende reavaliação em 2–6 semanas segundo evolução; reforce exercícios e estratégias psicossociais. Para pacientes com dor persistente ou recorrente, consulte material sobre avaliação e reabilitação da dor lombar crônica.

Fechamento com orientações práticas

Na APS, um caminho prático para a dor lombar aguda combina avaliação cuidadosa para excluir red flags, uso racional de anti-inflamatórios não esteroides quando indicado, estímulo à fisioterapia e à atividade, e abordagem biopsicossocial para reduzir risco de cronificação. Use protocolos locais de encaminhamento e recursos educacionais, monitore função e sintomas, e restrinja opioides a situações selecionadas com plano claro de acompanhamento.

Leitura complementar e referências: diretrizes do Ministério da Saúde e revisões disponíveis nos repositórios acadêmicos citados acima para fundamentar práticas locais e fluxos de encaminhamento.

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