Anamnese neurológica: guia prático para profissionais de saúde
A anamnese neurológica orienta o raciocínio clínico e define quais testes e exames complementares são necessários. Este guia apresenta uma sequência objetiva — identificação, história da doença atual, antecedentes, exame físico geral e exame neurológico direcionado — com ênfase em sinais de alarme, avaliação cognitiva e encaminhamentos apropriados.
Exame neurológico: passo a passo essencial
O exame neurológico deve ser funcional e orientado pela queixa principal. Antes de iniciar, confirme sinais vitais e nível de alerta. Registre déficit focal, início súbito, evolução temporal e fatores precipitantes.
Escala de Coma de Glasgow e nível de consciência
Use a Escala de Coma de Glasgow para objectivar o nível de consciência (olhar, resposta verbal e motora). Avalie orientação em tempo, espaço e pessoa; alterações agudas indicam necessidade de avaliação de emergência e exames de imagem.
Nervos cranianos
Avalie visão (acuidade e campos), movimentos oculares, simetria facial, sensibilidade trigeminal, reflexos corneano e faríngeo, e audição. Achados assimétricos sugerem lesões do tronco encefálico ou vias aferentes/eferentes específicas.
Força, tônus e reflexos
Documente força em escala 0–5, observe alterações do tônus (espasticidade ou flacidez) e teste reflexos profundos (patelar, aquileu) e superficiais (plantar). Padrões topográficos (hemiparesia, paraparesia) orientam topografia da lesão.
Coordenação e marcha
Realize testes cerebelares (dedo–nariz, calcanhar–joelho) e observe marcha — ataxia, claudicação neurogênica, passos curtos, instabilidade postural. Investigue queixas de tontura com abordagem específica (história temporal, sintomas vegetativos) e, quando indicado, consulte protocolos de avaliação de tontura e síncope.
Para orientação prática sobre tontura e síncope, considere este recurso clínico: avaliação inicial de tontura e síncope.
Sensibilidade
Avalie sensibilidade superficial (tátil, dolorosa, térmica) e profunda (vibratória, propriocepção). Distribuições em nível ou dermatomal sugerem comprometimento medular ou radicular.
Avaliação cognitiva: triagem e instrumentos rápidos
Inclua testes breves de memória, linguagem, atenção e funções executivas. Ferramentas como Mini-Exame do Estado Mental (MEEM) ou testes rápidos de rastreio ajudam a detectar comprometimento cognitivo inicial. Em pacientes com suspeita de declínio cognitivo, direcione para avaliação e acompanhamento específicos.
Para aprofundar a prática na detecção e manejo de demência na atenção primária, veja materiais sobre detecção precoce de demência e triagem e manejo da demência na atenção primária.
Diagnóstico diferencial e exames complementares
Formule hipóteses topográficas (córtex, subcortical, tronco, medula) e etiológicas (vascular, inflamatória, infecciosa, degenerativa, tóxica/metabólica, neoplásica). Indique exames conforme hipótese: tomografia computadorizada e ressonância magnética para alterações estruturais, eletroencefalograma para suspeita de epilepsia, punção lombar para investigação de meningite/encefalite, e exames laboratoriais básicos (glicemia, eletrólitos, função renal e hepática, hemograma).
Para orientação global sobre transtornos neurológicos e carga epidemiológica, consulte dados da Organização Mundial da Saúde: WHO — Neurological disorders. Para um resumo prático do exame neurológico, este material de referência do MedlinePlus é útil: MedlinePlus — Neurologic examination. Uma revisão técnica sobre abordagem do exame neurológico pode ser consultada em publicações indexadas: artigo de revisão (PubMed Central).
Sinais de alarme que exigem ação imediata
- Déficit neurológico focal de início súbito (suspeitar AVC).
- Alteração aguda do nível de consciência ou convulsões persistentes.
- Febre com rigidez cervical ou sinais meníngeos.
- Progressão rápida de déficit motor ou sensorial.
Síntese para a prática clínica
Uma anamnese estruturada e um exame neurológico dirigido permitem priorizar exames e encaminhamentos. Registre claramente a cronologia, padrão dos déficits e sinais vitais; use instrumentos padronizados (Glasgow, MEEM) e atente para sinais de emergência. Integre recursos locais e protocolos de atenção primária para acompanhamento longitudinal do paciente.
Para referências sobre seguimento e programas de abordagem cognitiva na APS, veja também os guias disponíveis sobre detecção precoce e manejo da demência nos materiais do centro: detecção precoce de demência e triagem e manejo da demência na atenção primária. Para queixas vestibulares e alterações de marcha, utilize o fluxo de avaliação em: avaliação inicial de tontura e síncope.
Leve em conta sempre o contexto clínico, as comorbidades e as preferências do paciente ao planejar exames e encaminhamentos.