O uso prolongado de corticosteroides aumenta substancialmente o risco de osteoporose e de fraturas. Em pacientes em tratamento crônico com glicocorticoides, a densidade mineral óssea pode diminuir rapidamente, elevando a chance de fraturas vertebrais e de quadril e afetando a qualidade de vida. Este texto, dirigido a profissionais de saúde, oferece um guia prático sobre rastreio com DEXA, estratificação de risco com FRAX, prevenção de fraturas e opções terapêuticas na osteoporose induzida por corticoides.
Osteoporose induzida por corticoides: por que os corticoides afetam o osso
Glicocorticoides reduzem a formação óssea e aumentam a reabsorção por vários mecanismos: inibição de osteoblastos, aumento da apoptose de osteócitos, redução da absorção intestinal de cálcio e alterações no equilíbrio hormonal. Além disso, promovem sarcopenia e comprometem a força muscular, elevando o risco de quedas. O resultado é uma osteoporose acelerada em relação à população geral, especialmente quando a dose diária de corticosteroide (prednisone-equivalente) é ≥ 5 mg/dia por meses ou anos.
Rastreio da osteoporose induzida por corticoides: DEXA, FRAX e sinais de alerta
Definição e diagnóstico
Osteoporose induzida por corticoides (GIOP) é a perda de densidade mineral óssea e o aumento do risco de fraturas associadas ao uso de corticosteroides. O diagnóstico combina exame de densidade óssea (DEXA) e avaliação clínica dos fatores de risco; a gravidade do manejo costuma refletir a dose cumulativa e a duração da corticoterapia.
Indicações para DEXA
- Uso de corticosteroides ≥ 5 mg/dia de prednisone (ou equivalente) por ≥ 3 meses.
- Histórico de fratura prévia, baixa massa corporal ou sinais clínicos de fragilidade óssea.
- Mulheres pós‑menopáusicas e homens idosos com osteopenia/osteoporose ou com fatores que aumentam risco de queda.
Quando repetir DEXA e usar FRAX
Realizar DEXA preferencialmente no início do tratamento em pacientes de alto risco e repetir a cada 1–2 anos conforme evolução clínica e resposta terapêutica. Use FRAX ajustado para glicocorticoides para estratificar o risco de fratura quando a DEXA indicar osteopenia, guiando a decisão entre medidas conservadoras e terapia farmacológica.
Prevenção e manejo na osteoporose induzida por corticoides: medidas não farmacológicas e suplementação
Suplementação nutricional
- Cálcio: 1.000–1.200 mg/dia por via dietética, ajustando conforme função renal.
- Vitamina D: 800–1.000 UI/dia, com monitoramento de 25‑hidroxivitamina D (25[OH]D) para manter níveis adequados (geralmente > 30 ng/mL).
Para orientação sobre interpretação de exames relacionados, veja o post sobre vitamina D.
Exercício e prevenção de quedas
Programas de exercícios com carga, treino de equilíbrio e fortalecimento muscular são essenciais para estimular massa óssea e reduzir risco de quedas. Em casos com dor ou limitação funcional, encaminhar para fisioterapia especializada é indicado. Medidas ambientais e revisão de medicamentos que aumentam o risco de queda também fazem parte da prevenção integral; para estratégias práticas, consulte o texto sobre prevenção de quedas em idosos.
Manejo farmacológico na osteoporose induzida por corticoides: bisfosfonatos, denosumab e terapias anabólicas
A escolha farmacológica depende do risco de fratura, da densidade mineral óssea, da função renal e da tolerância do paciente.
Anti‑reabsorventes
- Bisfosfonatos orais: alendronato 70 mg/semana ou risedronato 35 mg/semana; instruir quanto à administração (jejum, água, permanecer ereto após tomar) para reduzir eventos gastrointestinais.
- Zoledronato IV 5 mg anualmente: opção quando adesão a terapias orais é difícil ou quando há perda óssea rápida.
- Denosumab 60 mg SC a cada 6 meses: eficaz em pacientes com intolerância a bisfosfonatos; atenção ao risco de hipocalcemia e à perda óssea rápida após interrupção — planejar sequência terapêutica.
Terapias anabólicas
Teriparatida 20 mcg/dia SC pode ser indicada em osteoporose grave ou fraturas recorrentes; uso geralmente limitado por tempo e custo. A escolha entre anabolizantes e anti‑reabsorventes deve ser individualizada.
Monitorar adesão, efeitos adversos e a resposta terapêutica com novas avaliações de DEXA quando indicado. Em insuficiência renal, ajustar a estratégia (por exemplo, cautela com bisfosfonatos) e considerar denosumab com monitoramento rigoroso de cálcio sérico.
Considerações práticas no consultório para pacientes com corticoterapia
- Não interromper corticoterapia abruptamente sem orientação; sempre planejar ajustes e integrar medidas de proteção óssea.
- Avaliar creatinina, função renal e níveis de cálcio antes de iniciar anti‑reabsorventes.
- Atentar para interações medicamentosas (por exemplo, anticonvulsivantes que alteram metabolismo de vitamina D) e ajustar acompanhamento conforme necessário.
Para exemplos de manejo de fragilidade e fraturas em idosos, consulte o material sobre fratura fragilidade e as orientações práticas sobre quedas.
Osteoporose induzida por corticoides: orientações práticas e resumo de ações
- Identificar pacientes em risco: corticoterapia ≥ 5 mg/dia por ≥ 3 meses.
- Solicitar DEXA no início do tratamento em pacientes de alto risco e repetir a cada 1–2 anos conforme necessidade.
- Usar FRAX ajustado para glicocorticoides para estratificar risco quando houver osteopenia.
- Iniciar suplementação de cálcio e vitamina D conforme contexto clínico e função renal.
- Considerar bisfosfonatos, zoledronato IV ou denosumab conforme perfil do paciente; avaliar teriparatida em casos severos.
- Implementar medidas de prevenção de quedas: revisão de medicamentos, exercícios de equilíbrio e adaptações ambientais.
A gestão eficaz da osteoporose induzida por corticoides exige abordagem multiprofissional (endocrinologia, reumatologia, pneumologia, nefrologia e medicina interna), comunicação clara com o paciente e educação terapêutica para melhorar adesão. Para estratégias de adesão em doenças crônicas, veja o conteúdo sobre adesão terapêutica.
Nota: as recomendações acima seguem princípios das diretrizes locais de manejo de GIOP. A escolha terapêutica deve ser individualizada considerando comorbidades, tolerância e custo‑benefício.