Perda auditiva em idosos: sinais e manejo com aparelhos

Este texto é destinado a pacientes e profissionais de saúde. A perda auditiva em idosos é frequente e o atraso no diagnóstico pode prejudicar a comunicação, a segurança e a saúde mental. Aqui apresentamos sinais precoces, estratégias práticas de triagem no consultório e orientações de manejo com aparelhos auditivos, com foco em aplicabilidade clínica e evidências atuais.

Perda auditiva em idosos: sinais precoces

Identificar sinais iniciais permite intervenção precoce e redução de impactos. Os sinais mais comuns incluem:

  • Dificuldade em ambientes com ruído: dificuldade para acompanhar conversas em restaurantes ou reuniões, pedir repetição frequente e solicitar que falem mais devagar.
  • Aumento do volume da televisão, rádio ou telefone, percebido por familiares.
  • Isolamento social: evitar eventos sociais por dificuldade de compreensão.
  • Zumbido (tinnitus): percepção de som sem fonte externa, frequentemente coexistente com perda auditiva.
  • Relutância ao uso de dispositivos: medo de parecer diferente ou de depender de aparelhos auditivos.

A presbiacusia (perda auditiva relacionada à idade) é a causa mais comum, mas devemos considerar também exposição ocupacional a ruídos, otite crônica, cerúmen impactado e ototoxicidade medicamentosa (por exemplo, alguns aminoglicosídeos e quimioterápicos). Condições clínicas como diabetes e hipertensão elevam o risco por alterações vasculares que afetam a cóclea.

Triagem auditiva no consultório

Na atenção primária, a triagem é simples e objetiva: perguntas direcionadas, observação e exames rápidos que indicam necessidade de encaminhamento para audiometria.

Abordagem prática para triagem

  • Entrevista breve: questione sobre compreensão em conversas, uso de telefone, volume de dispositivos e presença de zumbido.
  • Observação clínica: sinais não verbais de esforço para entender a fala, necessidade de proximidade e evitamento de ambientes barulhentos.
  • Otoscopia: verifique cerúmen impactado, otite externa ou outras alterações do canal auditivo que possam ser reversíveis.
  • Testes rápidos: teste de voz em tom baixo, diapasão (Rinne/Weber) ou triagens com aparelhos portáteis, reconhecendo que a audiometria tonal e verbal é o padrão-ouro.

Quando a triagem sugere perda funcional, encaminhe para avaliação audiológica formal (audiometria) e considere avaliar visão e equilíbrio, pois déficits sensoriais combinados agravam o comprometimento funcional. Para integrar cuidados ao idoso, recursos sobre triagem de demência na atenção primária e intervenções de prevenção de quedas em idosos podem ser úteis.

Manejo com aparelhos auditivos

O manejo efetivo combina seleção adequada do aparelho, ajuste técnico, reabilitação auditiva e suporte ao paciente e cuidador.

Tipos de aparelhos auditivos e escolha

  • Modelos comuns: BTE (behind‑the‑ear), RIC (receiver‑in‑canal), ITC e CIC. A escolha depende da gravidade da perda, anatomia do canal, preferências estéticas e custo.
  • Ajuste e calibração: adaptação realizada por audiologista com programação do ganho por faixa de frequência; a adaptação gradual (acclimation) e visitas de retorno são essenciais.
  • Aspectos práticos para idosos: considerar destreza manual, presença de osteoartrite, visão reduzida e facilidade de manuseio de baterias ou recarregadores.

Recursos como microfones direcionais, conectividade Bluetooth e acessórios de TV podem ampliar o benefício. A adesão ao uso diário é determinante: educação e acompanhamento reduzem o abandono.

Reabilitação auditiva e adesão

  • Treinamento auditivo: exercícios de percepção de fala, discriminação sonora e práticas em ambientes com ruído aumentam o benefício funcional dos aparelhos.
  • Equipe multiprofissional: fonoaudiólogo, audiologista, terapeuta ocupacional e serviço social otimizam reabilitação e inclusão social.
  • Orientação ao cuidador: instruções sobre higienização, troca de filtros, manutenção, uso de recarregadores e procedimentos em caso de falhas técnicas.

Nem todos os pacientes com demência avançada são candidatos ao uso eficaz de aparelhos auditivos; nesses casos, ofereça alternativas como sistemas de amplificação ambiental, legendas em TV e estratégias de comunicação direcionadas.

Impactos na saúde e qualidade de vida

A perda auditiva não tratada aumenta risco de isolamento, depressão, diminuição da participação social e pode estar associada a declínio cognitivo. Há também associação com maior risco de quedas, possivelmente por comprometimento da orientação espacial. Integrar o manejo auditivo a um plano global do idoso, incluindo controle de diabetes e hipertensão, melhora resultados funcionais.

Implicações para o cuidado multiprofissional

O cuidado ideal envolve médico de família ou geriatra, audiologista/fonoaudiólogo, enfermeiro, terapeuta ocupacional e psicólogo quando necessário. Estabeleça protocolo claro de encaminhamento: triagem inicial, otoscopia, encaminhamento para audiometria e planejamento de reabilitação auditiva.

Para uma abordagem integrada do idoso, considere também referências sobre triagem ocular na atenção primária e avaliações de mobilidade.

Dicas práticas para pacientes e cuidadores

  • Avaliações periódicas: mesmo sem queixas, rastreios regulares permitem detecção precoce da presbiacusia.
  • Procure avaliação especializada: audiometria tonal e verbal confirma tipo e grau da perda auditiva.
  • Considere aparelhos auditivos quando indicados: com ajuste e reabilitação, há melhora significativa na comunicação.
  • Adote estratégias de comunicação: contato visual, falar de frente, reduzir ruídos de fundo e ativar legendas na TV.
  • Cuide das comorbidades: controle de diabetes, hipertensão e cessação do tabagismo ajudam a preservar a audição.

Ações práticas e próximos passos

Medidas imediatas que podem ser implementadas em consultório ou em casa:

  • Inicie triagem auditiva em pacientes com mais de 65 anos ou que apresentem queixas de compreensão.
  • Realize otoscopia para excluir causas reversíveis, como cerúmen impactado.
  • Encaminhe para audiometria quando houver suspeita de perda que afete a funcionalidade.
  • Discuta opções de manejo (aparelhos auditivos, reabilitação auditiva e adaptações ambientais) considerando preferências do paciente.
  • Integre a equipe multiprofissional para abordar comorbidades e fatores que influenciam a audição.

Uma abordagem proativa à perda auditiva em idosos melhora comunicação, reduz isolamento e contribui para manutenção da autonomia. A colaboração entre profissionais de saúde, pacientes e cuidadores é essencial para garantir adesão e resultados clínicos efetivos.

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