Prescrição racional de antibióticos em ambulatório
Introdução
Como reduzir prescrições desnecessárias e preservar a eficácia dos antimicrobianos? Em atenção ambulatorial, a prescrição de antimicrobianos equivocada alimenta a resistência antimicrobiana e compromete resultados clínicos. Dados de unidades de saúde da família no Sul do Brasil mostram excesso de prescrições para vias aéreas superiores não especificadas e amigdalites, muitas vezes de etiologia viral, ilustrando o problema na prática diária (estudo regional).
O problema e suas consequências
Impacto clínico e populacional
O uso inadequado de antibióticos aumenta a seleção de bactérias resistentes, eleva taxas de falha terapêutica, custos e eventos adversos. Em ambulatório, isso se traduz em recidivas, necessidade de terapias mais tóxicas e maior pressão sobre serviços de saúde.
Fatores que levam a prescrições inadequadas
- Diagnóstico impreciso (difícil distinguir infecção viral vs bacteriana)
- Pressão do paciente por antibiótico
- Falta de adesão a diretrizes e variabilidade regional de resistência
- Ausência de protocolos locais ou de Programas de Gerenciamento
Diretrizes práticas e ferramentas
Classificação AWaRe e escolhas empíricas
A Classificação AWaRe da OMS categoriza antibióticos em Acesso, Observação e Exceção para orientar prescrições seguras e sustentáveis. A meta proposta é que >60% dos antibióticos usados pertençam ao grupo Acesso, destinado a infecções comuns e de fácil tratamento. Consulte a referência da OMS/AWaRe e materiais explicativos (AWaRe — resumo), lembrando que recomendações locais podem adaptar as escolhas conforme perfil de resistência.
Programas de Gerenciamento de Antimicrobianos (PGA)
Os Programas de Gerenciamento de Antimicrobianos (stewardship) em unidades de saúde promovem monitorização, feedback e educação, reduzindo uso inadequado. Iniciativas governamentais e hospitalares têm documentado impacto positivo na taxa de prescrições e na resistência (exemplo institucional).
Prescrição prática em infecções comuns (orientações rápidas)
Vias aéreas superiores e faringoamigdalite
Nem toda tosse ou rinorreia exige antibiótico. Para faringoamigdalite, use critérios clínicos (p.ex. critérios de Centor/modified Centor) e, quando disponível, testes rápidos para estreptococo. Nas indicações bacterianas, a amoxicilina/penicilina mantém-se como primeira linha na maioria dos cenários. Para revisão prática, consulte protocolos locais e materiais sobre tratamento de faringoamigdalite e o conteúdo sobre uso racional em infecções respiratórias.
Otite média aguda e sinusite
Em crianças e adultos, adie a antibioticoterapia quando adequada (observação por 48–72h) se sintomas forem leves; iniciar antibiótico quando sinais de gravidade, evolução prolongada ou piora. Priorize agentes do grupo Acesso e doses/duuração baseada em diretrizes locais.
Infecções do trato urinário não complicada
Para cistite em mulheres não grávidas, opções de primeira linha incluem nitrofurantoína ou fosfomicina (onde disponível) com duração curta conforme indicação. Evite quinolonas como primeira escolha quando alternativas eficazes do grupo Acesso existirem. Para mais detalhes práticos, veja manejo de infecções urinárias em mulheres.
Estratégias de prática clínica para reduzir uso inadequado
Ferramentas e condutas
- Delaying strategy: considerar receita atrasada com reavaliação programada.
- Uso de testes point-of-care (quando disponíveis) para diferenciar causas virais e bacterianas.
- Ajustar posologia e duração ao mínimo eficaz; documentar indicação e data de revisão.
- Educação do paciente sobre sinais de agravamento e quando retornar.
Formação e adesão a protocolos
Capacitação de equipes e checklists reduz variação de conduta. Integre medidas de stewardship ao fluxo ambulatorial, com auditoria e feedback. Material local sobre prescrição segura pode ser consultado em prescrição segura em ambulatório.
Checklist rápido para a consulta
- Confirmar suspeita bacteriana (exame físico, critérios clínicos, testes rápidos quando possível).
- Escolher antibiótico do grupo Acesso sempre que apropriado (AWaRe).
- Registrar indicação, dose, via e duração; prever revisão clínica.
- Considerar alternativas não antibióticas e medidas sintomáticas.
- Orientar paciente sobre sinais de alarme e retorno.
Fechamento e insights práticos
O combate à resistência antimicrobiana na atenção ambulatorial depende da implementação consistente do uso racional de antibióticos: aplicar ferramentas como a Classificação AWaRe, integrar Programas de Gerenciamento de Antimicrobianos e adotar práticas simples (critério clínico, testes rápidos, prescrição curta e feedback). Para aprofundar, recorra a estudos regionais que demonstram padrões de prescrição e materiais de educação profissional (estudo citado, AWaRe — orientação, exemplo de programa institucional). Integre essas práticas ao fluxo do consultório e promova educação contínua para a equipe e para o paciente — pequenas mudanças na rotina têm grande impacto na preservação da eficácia antimicrobiana.