O que é rastreio do HPV e do câncer do colo do útero na atenção primária: métodos, indicações e seguimento

Rastreio do HPV e do câncer do colo do útero na atenção primária

O rastreio do HPV e do câncer do colo do útero é uma prática essencial na atenção primária para identificar infecções por HPV de alto risco e lesões precursoras (neoplasia intraepitelial cervical, NIC). O objetivo é detectar alterações passíveis de tratamento antes que evoluam para câncer invasivo, reduzindo morbidade e mortalidade. Este texto traz orientações práticas sobre métodos de rastreio, indicações por idade e risco, e fluxos de seguimento aplicáveis na atenção primária brasileira.

Definição, objetivos e alcance do rastreio

O rastreio inclui a detecção do HPV de alto risco (testagem de HPV), a avaliação citológica (Papanicolaou) e, em alguns programas, o co‑teste (HPV + citologia). Na atenção primária, o foco é:

  • Reduzir a incidência de câncer cervical por detecção precoce de NIC.
  • Aferir risco individual combinando resultados (HPV, citologia) e fatores clínicos.
  • Garantir encaminhamentos rápidos e apropriados para colposcopia e intervenção quando indicado.

O rastreio não substitui a vacinação contra HPV nem o acompanhamento clínico individualizado; escolha do método depende de recursos locais, cobertura populacional e diretrizes vigentes.

Leia também sobre tomada de decisão compartilhada aplicada ao rastreio em: decisão compartilhada em rastreio.

Métodos: testagem de HPV, Papanicolaou (citologia) e co‑teste

As principais modalidades são:

  • Testagem de HPV (DNA/HPV): detecta infecção por tipos de alto risco; quando usada como rastreio primário, permite intervalos maiores entre exames e maior sensibilidade para detectar risco de NIC.
  • Papanicolaou (citologia): avaliação citológica clássica que identifica alterações celulares sugestivas de NIC; tem especificidade maior, sensibilidade menor que o teste de HPV.
  • Co‑teste (HPV + citologia): combina sensibilidade e especificidade, indicado em programas que buscam maior segurança diagnóstica, conforme disponibilidade.

Palavras-chave relacionadas usadas no rastreio: Papanicolaou, citologia, co‑teste, testagem de HPV, HPV 16/18, NIC e colposcopia.

Indicações e intervalos por faixa etária

Recomendações práticas geralmente adotadas na atenção primária:

  • Mulheres de 25 a 64 anos: rastreio com testagem de HPV como método primário, com intervalos típicos de 3 a 5 anos conforme protocolo local.
  • Mulheres de 21 a 24 anos: muitos programas privilegiam a citologia (Papanicolaou) por maior prevalência de infecções transitórias nessa faixa etária.
  • Pessoas com fatores de risco (imunossupressão, história de NIC, comportamento de risco): seguimento individualizado e intervalos reduzidos.

A escolha entre HPV isolado, citologia isolada ou co‑teste deve considerar disponibilidade de recursos, aceitação da população e risco de sobretratamento.

Seguimento, fluxos de encaminhamento e colposcopia

Fluxos comuns segundo resultados:

  • HPV negativo e citologia normal: retorno no intervalo programado (ex.: 3–5 anos conforme protocolo).
  • HPV positivo e citologia normal (NILM): reteste de HPV em 12–24 meses; persistência indica risco aumentado e encaminhamento para colposcopia.
  • HPV positivo com HPV 16/18 detectado: encaminhamento mais rápido para colposcopia devido ao maior risco de NIC de alto grau.
  • Citologia anormal de alto grau (HSIL) ou NIC suspeita: indicação imediata de colposcopia e biópsia diagnóstica.

Na atenção primária, é fundamental ter um fluxo de encaminhamento com prazos definidos, comunicação clara com a paciente e registro eletrônico que permita rastrear tempos entre resultado e seguimento.

Desafios práticos, comunicação com pacientes e equidade

Principais barreiras e estratégias:

  • Barreiras de acesso a laboratórios e serviços de colposcopia: mapear serviços locais e estabelecer prioridades de encaminhamento.
  • Comunicação: usar linguagem acessível sobre riscos, resultados e prazos; materiais educativos podem aumentar adesão.
  • Desigualdades socioeconômicas e geográficas: ações comunitárias e agendamentos flexíveis melhoram cobertura.

O profissional deve praticar a tomada de decisão compartilhada, explicando benefícios e potenciais riscos (falsos positivos, sobretratamento) e adaptando a mensagem ao nível de alfabetização em saúde da paciente.

Considerações especiais: gravidez, imunossupressão e vacinação contra HPV

Adaptações importantes:

  • Gravidez: rastreio pode ser feito; procedimentos invasivos costumam ser adiados quando seguro. Encaminhamentos para colposcopia são feitos quando indicado, com cuidados gestacionais.
  • Imunossupressão: maior probabilidade de persistência do HPV; seguimento mais próximo e baixo limiar para colposcopia.
  • Vacinação contra HPV: não substitui o rastreio, mas reduz risco por tipos vacinais e, ao longo do tempo, tende a diminuir a carga de NIC na população.

Rastreio do HPV e do câncer do colo do útero — recomendações práticas para atenção primária

Ações imediatas para implementação eficaz no serviço:

  • Definir protocolo local (testagem de HPV como primária ou co‑teste), faixas etárias e intervalos.
  • Treinar equipe sobre interpretação de resultados, uso do Papanicolaou, indicação de colposcopia e comunicação com pacientes.
  • Estabelecer fluxos de encaminhamento com prazos e registro eletrônico para monitorar tempos entre resultado e acompanhamento.
  • Oferecer materiais educativos sobre HPV, vacinação, citologia e importância do seguimento.
  • Monitorar métricas de qualidade: cobertura do rastreio, adesão ao seguimento, tempo até colposcopia e taxa de resolução de NIC.

Integrar práticas baseadas em evidências com atenção às necessidades locais aumenta a detecção precoce de NIC e reduz a mortalidade por câncer cervical. Para aprofundar aspectos de decisão clínica aplicáveis ao rastreio, veja: decisão compartilhada em rastreio.

Referências rápidas e conteúdos relacionados

  • Diretrizes locais sobre rastreamento cervical com testagem de HPV e intervalos recomendados.
  • Fluxos de encaminhamento para colposcopia na atenção primária.
  • Adaptações do rastreio na gestação e em imunossuprimidas.
  • Métricas de desempenho de programas de rastreio na APS.

Links úteis relacionados: rastreamento de câncer de pulmão com LDCT, rastreio de câncer colorretal 50-75, determinantes sociais da saúde na APS.

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