Saúde mental na clínica: triagem e manejo inicial
Introdução
Como você reconhece um Transtorno Depressivo Maior ou um Transtorno de Ansiedade Generalizada na consulta de rotina? Estratégias práticas de triagem e um plano claro de manejo inicial reduzem risco, aceleram a recuperação e melhoram adesão. Este texto resume critérios diagnósticos, ferramentas de avaliação e passos pragmáticos para intervenções psicossociais e farmacológicas em atenção primária e ambulatório.
Triagem e avaliação clínica
Quais instrumentos usar e quando
Combine anamnese dirigida com escalas validadas. Na prática clínica, além de instrumentos rápidos (PHQ‑9, GAD‑7), considere escalas clínicas como a Escala de Depressão de Hamilton e a Escala de Ansiedade de Hamilton para avaliação de gravidade quando disponível. Use critérios diagnósticos do DSM‑5 ou da CID‑11 para estabelecer diagnóstico (ver referência ao DSM‑5 abaixo).
Fatores de risco e sinais de alerta
- Fatores de risco: histórico familiar, episódios prévios, comorbidades médicas (dor crônica, doenças endocrinológicas), uso de substâncias, eventos estressores recentes.
- Sinais de gravidade: ideação suicida, perda funcional acentuada, sintomas psicóticos, recusa alimentar ou desidratação, risco de automutilação.
- Avalie riscos de suicídio sempre que houver sintomas depressivos e documente no prontuário; ferramentas estruturadas podem ajudar na rastreabilidade.
Para orientação sobre registro da história clínica e documentação, integre práticas recomendadas consultando recursos sobre história clínica e registro essencial.
Manejo inicial: passos práticos
1) Estratificação por gravidade
- Mild (leve): considerar monitoramento ativo/psicoeducação e intervenções psicossociais breves.
- Moderado a grave: iniciar tratamento ativo — psicoterapia, farmacoterapia ou ambos.
- Presença de risco suicida, psicose ou incapacidade funcional marcada: encaminhar para avaliação psiquiátrica urgente ou emergência.
2) Intervenções psicossociais
A Terapia Cognitivo‑Comportamental (TCC) é efetiva para depressão e transtornos de ansiedade e deve ser oferecida sempre que possível. Em atenção primária, programas breve‑estruturados, psicoeducação e intervenções dirigidas a enfrentamento e sono podem reduzir sintomas e facilitar adesão ao tratamento. Para estratégias de cuidado integrado e promoção da saúde mental, veja também o material sobre promoção da saúde mental na atenção primária.
3) Farmacoterapia: princípios iniciais
Para depressão moderada a grave e transtornos ansiosos incapacitantes, os Inibidores Seletivos da Recaptação de Serotonina (ISRS) são frequentemente primeira escolha pelo perfil de segurança. Princípios práticos:
- Iniciar em dose baixa e ajustar conforme tolerabilidade; orientar sobre efeitos iniciais (náuseas, insônia, agitação) e o tempo esperado para resposta (2 semanas para efeitos iniciais; 4–6 semanas para resposta significativa).
- Monitorar sinais de piora e risco suicida, especialmente nas primeiras semanas e em pacientes jovens.
- Quando optar por antidepressivo, registre rationale e considere interação farmacológica; recursos sobre farmacogenética podem ajudar em casos complexos (farmacogenética e antidepressivos).
- Evitar benzodiazepínicos como solução de longo prazo; uso curto e cauteloso pode ser considerado para ansiedade aguda, com plano claro de desmame.
Monitoramento, adesão e ajuste terapêutico
Agenda de seguimento
- Primeiro retorno: 1–2 semanas após início para tolerabilidade e segurança.
- Avaliação de eficácia: 4–6 semanas para resposta clínica.
- Após remissão: manter antidepressivo por 6–12 meses (ou mais em episódios recorrentes) para prevenção de recaídas.
Manejo de efeitos adversos e não resposta
Documente efeitos adversos e ajuste dose ou troque a classe terapêutica quando necessário. Em falta de resposta adequada após 6–8 semanas em dose terapêutica, reavaliar diagnóstico, adesão, comorbidades e considerar consulta psiquiátrica ou combinação terapêutica. Integre registros clínicos completos para decisões seguras — templates e boa documentação facilitam continuidade do cuidado (veja referência interna à triagem e fluxo na primária).
Fluxos de encaminhamento e integração de serviços
Estabeleça critérios locais de encaminhamento para psiquiatria, serviços de saúde mental comunitária e programas de psicoterapia. Em equipes integradas, a telepsicologia e programas de apoio na APS melhoram acesso e adesão; alinhe com os recursos regionais e protocolos institucionais.
Recursos práticos e referências para protocolos
Baseie decisões em diretrizes e manuais diagnósticos reconhecidos: os critérios diagnósticos e classificações do DSM‑5 orientam o quadro clínico (DSM‑5, American Psychiatric Association), enquanto diretrizes de prática clínica, como as da American Psychiatric Association, e recomendações da Organização Mundial da Saúde oferecem orientações para atenção primária e estratégias mhGAP.
Para fluxos e materiais de triagem em atenção primária, consulte o artigo institucional sobre saúde mental na atenção primária: depressão e ansiedade.
Fechamento e insights práticos
Na prática clínica, pequenas mudanças sistemáticas fazem grande diferença: incorpore uma escala de triagem rotineira, estratifique por gravidade, ofereça psicoeducação e TCC quando possível, e use ISRS com monitoramento estruturado quando indicado. Documente riscos e planos, alinhe encaminhamentos e mantenha seguimento para prevenção de recaídas. Esses passos tornam o cuidado mais seguro, eficaz e centrado no paciente.