Sepse na atenção primária: guia com biomarcadores

Sepse na atenção primária: guia com biomarcadores

A detecção precoce de sepse na atenção primária é essencial para reduzir mortalidade e complicações. Este guia prático explica como integrar biomarcadores, scores de risco e alertas em prontuário eletrônico para apoiar a decisão clínica no consultório ou na unidade de urgência. Apresentamos critérios diagnósticos objetivos, interpretação clínica de biomarcadores como Proteína C Reativa (CRP) e lactato, uso de scores de risco como qSOFA e NEWS2, estratégias de triagem e fluxos de encaminhamento.

Sepse na atenção primária: conceitos e objetivos

Sepse é a resposta desregulada do organismo a uma infecção que provoca disfunção orgânica. Na atenção primária, o objetivo é reconhecer rapidamente sinais de gravidade, iniciar medidas básicas de suporte e encaminhar o paciente quando indicado. A confirmação microbiológica pode não estar disponível no momento inicial; por isso, a combinação de avaliação clínica, sinais vitais, biomarcadores e scores de risco melhora a precisão diagnóstica e o tempo para intervenção.

A detecção precoce depende de vigilância contínua de frequência cardíaca, pressão arterial, frequência respiratória, saturação e temperatura, além de sinais de alerta como confusão, oligúria ou palpação fria. O tempo para antibioticoterapia adequada é crítico em casos de sepse grave; atrasos aumentam risco de desfecho adverso. Em atenção primária, priorize estratificação de risco e encaminhamento oportuno.

Biomarcadores na sepse na atenção primária

Biomarcadores complementam a avaliação clínica e devem ser interpretados no contexto do quadro. Abaixo, os principais marcadores com aplicação prática na atenção primária, incluindo limitações e integração com scores como qSOFA e sistemas de alarme (NEWS2).

Proteína C Reativa (CRP)

A Proteína C Reativa (CRP) é um marcador inespecífico de inflamação que eleva-se rapidamente em infecções bacterianas e processos inflamatórios agudos. Na suspeita de sepse, valores altos reforçam a preocupação quando associados a sinais de disfunção orgânica. A CRP não diagnostica sepse isoladamente, mas auxilia na estratificação de risco e no monitoramento da resposta ao tratamento.

  • CRP isolada não confirma sepse; sempre interprete com sinais vitais, comorbidades e evolução clínica.
  • Uso serial da CRP permite acompanhar tendência (queda com resposta ao tratamento ou persistência/elevação que sugere piora).
  • Integrar CRP com lactato e scores melhora a acurácia na triagem e na decisão de encaminhamento.

Para referência prática sobre interpretação da CRP, consulte o material sobre Proteína C Reativa.

Lactato

O lactato é um marcador de perfusão tecidual e disfunção metabólica; níveis elevados associam-se a maior mortalidade em infecções graves. Em atenção primária, pode ser utilizado como ponto de cuidado (POCT) quando disponível para triagem de gravidade ou para orientar encaminhamento imediato. A tendência (clearance do lactato) costuma ser mais informativa que um valor isolado.

  • Lactato basal > 2 mmol/L deve acender alerta para avaliar disfunção orgânica e considerar encaminhamento.
  • Repetir lactato em curto intervalo pode identificar deterioração ou melhora.
  • Condições não infecciosas e fármacos podem elevar lactato; avalie contexto clínico.

Outros marcadores: procalcitonina e limitações

Procalcitonina tem maior especificidade para infecção bacteriana grave e pode ajudar a diferenciar etiologias, mas nem sempre está disponível na atenção primária. Ferritina, dímero-D e marcadores de disfunção orgânica podem complementar a avaliação em cenários específicos. Lembre-se: nenhum biomarcador substitui o exame clínico. Ao interpretar resultados, considere imuno-supressão, idade avançada e condições crônicas que alteram respostas inflamatórias.

Leituras adicionais sobre testes diagnósticos incluem o uso de teste multiplex PCR para infecções respiratórias, útil quando a etiologia respiratória é ambígua.

Scores de risco, triagem e apoio em prontuário eletrônico

Scores de risco padronizam a avaliação em serviços com grande demanda. Use qSOFA para triagem rápida (alteração do estado mental, FR ≥ 22/min, hipotensão PAS ≤ 100 mmHg); escore ≥ 2 indica maior risco e necessidade de avaliação aprofundada. O NEWS2 oferece maior sensibilidade para deterioração e pode ser integrado ao prontuário eletrônico para gerar alertas automáticos.

Alertas em EMR devem ser calibrados ao fluxo local para evitar alarm fatigue. Exemplos de ações ao disparo de alerta: solicitar lactato e CRP, monitorização contínua de sinais vitais, preparar encaminhamento e registrar dados essenciais para transferência. A integração entre CRP, lactato, qSOFA e NEWS2 facilita decisões sobre observação, antibioticoterapia inicial (quando indicada) e encaminhamento.

Fluxo pragmático de manejo e encaminhamento

  • Triagem inicial: avaliar sinais vitais, estado mental, diurese, perfusão capilar. Identifique sinais de alerta para encaminhamento imediato (hipotensão persistente, confusão, dispneia significativa).
  • Biomarcadores: coletar CRP e lactato quando disponíveis; usar POCT de lactato para decisão mais rápida.
  • Score e decisão: aplicar qSOFA ou NEWS2. Escore alto ou deterioração clínica justifica encaminhamento urgente com prontuário e exames disponíveis.
  • Manejo inicial: suporte de via aérea e oxigenação conforme necessário, reposição volêmica guiada por avaliação clínica, evitar adiar transferência; antibioticoterapia empírica no cenário de sepse grave pode ser iniciada conforme protocolo local.
  • Comunicação: informe paciente e família sobre sinais de piora e medidas até a chegada ao hospital.

Adapte o fluxo à disponibilidade local de exames e à rede de encaminhamento. Em locais com recursos limitados, a avaliação clínica e o uso de scores tornam-se ainda mais centrais.

Considerações especiais

Idosos e comorbidades

Idosos e pacientes com doenças crônicas podem ter apresentações atípicas; ausência de febre não exclui sepse. Tenha limiar baixo para encaminhar nessa população.

Crianças e adolescentes

Na pediatria, observe perfusão capilar, choro/irritabilidade, frequência respiratória e diurese. Quando disponível, use instrumentos pediátricos adaptados e considere consulta especializada.

Gravidez e imunossuprimidos

Na gravidez, alterações fisiológicas podem modificar marcadores inflamatórios; priorize avaliação clínica e encaminhamento rápido quando houver suspeita de gravidade. Imunossuprimidos podem apresentar respostas atípicas; um limiar mais conservador para encaminhamento é prudente.

Perguntas frequentes

  • O que distingue sepse de uma infecção comum? Sepse é infecção com disfunção orgânica e resposta inflamatória desregulada; nem toda infecção evolui para sepse.
  • CRP alta indica sepse? Não isoladamente; CRP é inespecífica e deve ser combinada com sinais clínicos e lactato.
  • Quando encaminhar imediatamente? Em suspeita de sepse com disfunção orgânica (hipotensão persistente, confusão, taquipneia grave) ou deterioração rápida dos sinais vitais.

Ações práticas rápidas para profissionais de saúde

Adote avaliação clínica criteriosa, use CRP e lactato de forma integrada, aplique qSOFA ou NEWS2 para triagem e configure alertas no prontuário eletrônico para acelerar respostas. Treine a equipe em protocolos locais, reveja fluxos de encaminhamento e garanta comunicação eficaz com serviços hospitalares. A implementação de POCT para lactato e a utilização racional de marcadores como procalcitonina quando disponível podem reduzir atrasos e melhorar desfechos.

Para aprofundar: consulte recursos sobre Proteína C Reativa, teste multiplex PCR para etiologias respiratórias e coagulação intravascular disseminada quando houver suspeita de complicações sistêmicas.

Notas técnicas

  • URLs internas usadas para referências: Proteína C Reativa, PCR respiratória, DIC e infecções respiratórias pediátricas. Estes links foram mantidos apenas nos termos relevantes e inseridos no contexto clínico adequado.

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