O que é síndrome de lise tumoral: sinais e manejo emergencial

O que é síndrome de lise tumoral: sinais e manejo emergencial

Este texto explica, de forma direta e prática, o que é a síndrome de lise tumoral (SLT), quais são os sinais de alerta, como prevenir e como conduzir o manejo emergencial. A SLT é uma emergência oncológica caracterizada pela liberação maciça de conteúdos intracelulares (ácido úrico, potássio, fósforo) na circulação após lise celular rápida, frequentemente associada a quimioterapia ou resposta tumoral intensa. As principais complicações são hiperuricemia, hiperpotassemia, hiperfosfatemia, hipocalcemia e insuficiência renal aguda. O reconhecimento precoce e a intervenção multidisciplinar reduzem morbidade e mortalidade.

O que é síndrome de lise tumoral

A síndrome de lise tumoral resulta da destruição rápida de grande número de células tumorais, com libertação de nucleotídeos que aumentam o ácido úrico, eletrólitos intracelulares (potássio) e fósforo. O aumento de fósforo pode levar à precipitação de fosfato de cálcio e à hipocalcemia secundária. Entre as consequências, destacam-se alterações eletrolíticas graves, arritmias, convulsões e insuficiência renal aguda.

Fatores de risco e populações em maior risco

  • Doenças hematológicas de alto turnover: leucemias agudas e linfomas agressivos.
  • Alto volume tumoral e resposta rápida à terapêutica (quimioterapia, terapia alvo ou imunoterapia).
  • Função renal prévia comprometida, desidratação ou uso de nefrotóxicos.
  • Hiperuricemia pré-existente ou valores elevados de lactato desidrogenase (LDH).

Sinais e sintomas que devem acender o alerta

sinais de alerta: oligúria, arritmia e confusão

Sintomas podem ser inespecíficos, mas sinais de alarme incluem mudança no débito urinário (oligúria ou anúria), fraqueza súbita, palpitações ou arritmias, náuseas e vômitos persistentes, dor abdominal, confusão, convulsões ou edema. Alterações no eletrocardiograma (ondas T apiculadas, alargamento do QRS) sugerem hiperpotassemia e exigem intervenção imediata.

Diagnóstico: critérios e interpretação clínica

O diagnóstico combina avaliação clínica e laboratorial. Os critérios de Cairo-Bishop são utilizados para padronizar o diagnóstico e distinguem:

  • Lise metabólica – alterações laboratoriais: aumento do ácido úrico, potássio e fósforo, ou queda do cálcio, dentro de período definido em torno do tratamento.
  • Lise clínica – presença de insuficiência renal aguda, arritmias clinicamente significativas ou convulsões atribuíveis às alterações metabólicas.

Monitorização laboratorial frequente (uricemia, potássio, fósforo, cálcio, creatinina) é essencial, especialmente nas primeiras 24–72 horas após a terapia. Recomenda-se avaliar com periodicidade de 6–12 horas em pacientes de alto risco.

Prevenção: hidratação, allopurinol e rasburicase

A prevenção é a principal estratégia para reduzir o risco de SLT e deve incluir:

  • Hidratação agressiva (oral e/ou IV) para manter diurese adequada e facilitar excreção de uratos e eletrólitos.
  • Allopurinol profilático em risco baixo a intermediário; previne formação de novo ácido úrico.
  • Rasburicase profilática ou terapêutica para pacientes de alto risco ou com hiperuricemia importante; converte ácido úrico em alantoína, mais solúvel.
  • Correção e monitoramento precoces de eletrólitos (potássio, fósforo, cálcio).

Em centros com protocolos, a decisão por rasburicase deve ser discutida entre oncologia, nefrologia e farmácia clínica, considerando contraindicações (por exemplo, deficiência de G6PD) e impacto na interpretação da uricemia.

Tratamento de emergência: medidas imediatas

manejo emergencial: estabilização e remoção de toxinas

  • Restabelecer volume com soluções isotônicas e garantir diurese.
  • Tratar hiperuricemia: rasburicase quando indicada; allopurinol para prevenção ou quando rasburicase não é disponível.
  • Tratar hiperpotassemia: proteção cardíaca com cloreto/cálcio gluconato se alterações no ECG, seguida de insulina + glicose, nebulização com beta-2 agonista e, quando indicado, bicarbonato para acidose.
  • Controlar hiperfosfatemia com restrição dietética e quelantes de fósforo; corrigir hipocalcemia apenas se sintomática.
  • Considerar diálise (hemodiálise) quando há insuficiência renal refratária, hipercalemia grave ou acidose persistente.

Monitorização contínua do ritmo cardíaco, débito urinário e eletrólitos é obrigatória. A decisão por diálise deve ser tomada precocemente quando indicada, para remover potássio, fósforo e uratos.

Farmacologia e decisões terapêuticas

As principais opções farmacológicas são allopurinol e rasburicase. Allopurinol inibe xantina oxidase e reduz produção de ácido úrico; rasburicase degrada ácido úrico já formado. No manejo da hiperpotassemia, combine medidas farmacológicas de emergência com monitorização do ECG. A estratégia deve ser individualizada por equipe multidisciplinar (oncologia, nefrologia, terapia intensiva e farmácia clínica).

Monitorização e seguimento clínico

  • Registro rigoroso de ingestão e saída (diurese) e peso.
  • Monitorização laboratorial frequente de uricemia, potássio, fósforo, cálcio e função renal (creatinina, TFGe estimada).
  • Avaliação contínua do estado cardíaco (ECG) se houver risco de arritmia.

Nos primeiros 24–48 horas após início de terapia antitumoral, a vigilância deve ser intensiva. Alguns pacientes de risco muito alto são manejados em unidades de terapia intensiva até estabilização.

SLT em tumores hematológicos e sólidos

A SLT é mais frequente em hematologia (leucemias e linfomas), mas também pode ocorrer em tumores sólidos com rápida resposta terapêutica. A estratificação de risco e a prevenção antecipada são essenciais em ambos os cenários.

Ações práticas para reduzir o impacto da síndrome de lise tumoral

Para equipes: identificar pacientes de alto risco antes do tratamento, instituir hidratação e terapias redutoras de urato conforme protocolo e monitorizar eletrólitos e função renal rigorosamente. Para pacientes e familiares: hidratar conforme orientação, relatar imediatamente alterações no volume urinário, fraqueza súbita, palpitações, confusão ou vômitos persistentes.

Para aprofundar aspectos clínicos relacionados, consulte materiais sobre anemia ferropriva prática ambulatorial e sobre insuficiência renal leve: detecção, monitorização e encaminhamento, que ajudam a entender manejo de comorbidades renais. Em situações de suspeita de infecção concomitante ou sepse, protocolos locais de sepse em adultos devem ser considerados; já para comorbidades cardiometabólicas, ver cardiometabolismo e prevenção.

Resumo final: prioridades no manejo da SLT

  • Reconhecer precocemente pacientes de alto risco antes da quimioterapia.
  • Implementar hidratação adequada e terapia redutora de urato (allopurinol ou rasburicase) conforme risco.
  • Monitorar eletrólitos e função renal com alta frequência nas fases iniciais do tratamento.
  • Tratar emergencialmente hiperpotassemia, hiperuricemia e hiperfosfatemia; considerar diálise quando indicado.
  • Integrar oncologia, nefrologia, UTi, enfermagem e farmácia para decisões rápidas e seguras.

Entender o que é a síndrome de lise tumoral e agir rapidamente — com prevenção, monitorização e respostas terapêuticas adequadas — é essencial para reduzir complicações e melhorar os desfechos dos pacientes oncológicos.

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