Transtornos do sono na infância: diagnóstico e manejo na atenção primária

Transtornos do sono na infância: diagnóstico e manejo na atenção primária

Transtornos do sono em crianças são frequentes e podem comprometer desenvolvimento, comportamento e saúde física. Na atenção primária, o objetivo é identificar sinais, diferenciar insônia de outros problemas (como apneia obstrutiva do sono) e aplicar estratégias práticas que reduzam impacto escolar e familiar.

Insônia infantil: como reconhecer

A insônia na infância geralmente se manifesta por dificuldade para iniciar o sono, despertares noturnos ou resistência às rotinas. Pergunte aos cuidadores sobre horários, tempo total de sono e rotina pré-sono. Observe também sintomas diurnos como irritabilidade, sonolência inadequada e queda no rendimento escolar — aspectos associados ao risco de problemas cognitivos e de atenção.

Higiene do sono e intervenções comportamentais

Medidas não farmacológicas são a base do manejo: estabelecer rotina fixa, ambiente escuro e silencioso, limite do uso de telas antes de dormir e reforço de comportamentos que sinalizam a hora do sono. Técnicas de extinção gradual e checagem mínima podem ser aplicadas na consulta com orientação aos pais. Quando há comorbidades como TDAH, ajuste das estratégias comportamentais e coordenação com o pediatra ou psiquiatra infantil são essenciais.

Apneia obstrutiva do sono: sinais e encaminhamento

Ronco frequente, respiração alternada com pausas, despertares bruscos e sonolência diurna atípica sugerem apneia obstrutiva do sono (AOS). Em crianças, AOS está associada a problemas de comportamento e déficit cognitivo; por isso, avalie crescimento, tonsilas e histórico de infecções de vias aéreas superiores. Quando houver suspeita alta, considere encaminhamento para avaliação otorrinolaringológica e polissonografia para confirmação.

Para orientação sobre rastreio e manejo da apneia na atenção primária, consulte a revisão disponível em nosso site sobre apneia obstrutiva do sono na atenção primária.

Distúrbios do ritmo circadiano e uso de melatonina

Crianças com atrasos de fase apresentam dificuldade para adormecer em horário socialmente adequado, mantendo sono adequado quando permitem horário tardio. Nesses casos, a melatonina pode ser útil para readequar o ciclo sono-vigília; doses baixas (0,5–3 mg) costumam ser iniciadas em horário pré-determinado, sempre com acompanhamento clínico. Educação em higiene do sono e exposição à luz matinal complementam a intervenção.

Polissonografia: quando pedir

Polissonografia noturna é indicada quando há suspeita de AOS moderada a grave, movimentos periódicos de membros que prejudicam sono ou casos complexos com comorbidades. Na prática primária, priorize triagem clínica e encaminhe para exames quando houver sinais de risco respiratório, atraso de crescimento ou alterações comportamentais importantes.

Parassonias, impacto escolar e triagem cognitiva

Parassonias (sonambulismo, terrores noturnos) são comuns na infância e frequentemente autolimitadas; oriente familiares sobre segurança durante episódios e quando buscar avaliação especializada. Como transtornos do sono podem prejudicar aprendizado, utilize ferramentas de triagem para avaliar desempenho e cognição. Nosso conteúdo sobre rastreio de declínio cognitivo na atenção primária traz modelos de avaliação aplicáveis ao contexto escolar e familiar.

Além disso, alterações no humor e comportamento relacionadas ao sono devem levar à integração com cuidados de saúde mental; orientações práticas sobre identificação e encaminhamento estão descritas em nosso material sobre triagem de depressão na atenção primária.

Recomendações práticas para a atenção primária

  • Realize anamnese detalhada do sono e rotina familiar em todas as consultas pediátricas.
  • Inicie intervenções de higiene do sono e técnicas comportamentais antes de considerar medicação.
  • Use melatonina com critério e sempre acompanhada; prefira orientação especializada se a resposta for inadequada.
  • Suspeite de apneia quando houver ronco habitual, pausas respiratórias ou alterações do crescimento; encaminhe para polissonografia e otorrinolaringologia.
  • Avalie impacto escolar e comportamento; articule com escola e serviços de saúde mental quando necessário.

Evidências e revisões sobre insônia e manejo na infância podem ser consultadas em publicações especializadas, como o artigo do Jornal de Pediatria (Insônia na infância e adolescência) e revisões nacionais disponíveis na SciELO (Jornal de Pediatria – SciELO). Diretrizes práticas para manejo na atenção primária também estão descritas na BVS Atenção Primária (Como deve ser o manejo da insônia na APS?).

Orientação final para clínicos

Na atenção primária, foque na identificação precoce, educação em higiene do sono, intervenções comportamentais e encaminhamentos criteriosos. A combinação de abordagem familiar, avaliação do risco de apneia obstrutiva do sono e integração com serviços especializados otimiza o desenvolvimento da criança e reduz impacto escolar e familiar.

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