Triagem e manejo prático de distúrbios do sono

Triagem e manejo prático de distúrbios do sono

Introdução

Quais pacientes com queixa de sono exigem investigação imediata? Distúrbios do sono como insônia, apneia obstrutiva do sono e sono não reparador são comuns na prática clínica e impactam função diária, risco cardiovascular e adesão a tratamentos. Estatísticas apontam prevalência significativa de insônia crônica (5–10%) e alta frequência de AOS em população adulta. A triagem eficaz e o manejo não farmacológico oportuno permitem reduzir danos e otimizar encaminhamento para Medicina do Sono.

Triagem clínica e instrumentos úteis

Anamnese dirigida (o que não pode faltar)

  • Avaliar padrão do sono: duração, latência, despertares, sensação ao acordar (sono reparador?).
  • Sintomas sugestivos de AOS: ronco alto, pausas respiratórias relatadas, sufocação noturna, sonolência diurna excessiva.
  • Fatores precipitantes/ perpetuantes da insônia: estresse, mudança de rotina, má higiene do sono, uso de álcool/sedativos.
  • Comorbidades que influenciam sono: obesidade, hipertensão, doença cardiovascular, depressão/anxiety, dor crônica, uso de medicamentos.
  • Sinais de alerta (encaminhar urgente): sonolência diurna incapacitante, eventos de parada respiratória observados, provável transtorno respiratório do sono com comorbidade cardiometabólica instável, suspeita de transtorno neurológico.

Questionários e exames complementares

Use instrumentos validados para priorizar investigação e monitorar resposta: Epworth Sleepiness Scale para sonolência, Insomnia Severity Index para insônia, e STOP‑BANG para suspeita de AOS. A polissonografia completa em laboratório é o padrão-ouro para diagnóstico de AOS, porém, em pacientes com alta suspeita clínica e sem comorbidades complexas, o registro simplificado domiciliar pode ser alternativa prática — veja orientações sobre polissonografia domiciliar portátil. Para uma revisão prática da abordagem diagnóstica, o Manual MSD oferece orientação clínica consolidada sobre avaliação de transtornos do sono (Manual MSD).

Abordagem não farmacológica por condição

Insônia

A Terapia Cognitivo‑Comportamental para Insônia (TCC‑I) é tratamento de primeira linha: inclui controle de estímulos, restrição do sono, higiene do sono, técnicas de relaxamento e reestruturação cognitiva. A TCC‑I é eficaz tanto para insônia crônica quanto para facilitar a retirada de hipnóticos; integrar estratégia de desprescrição quando necessário (veja material sobre desprescrição de benzodiazepinas na prática ambulatorial). Intervenções digitais e programas breves supervisionados podem ampliar acesso quando psicoterapia presencial não está disponível.

Apneia obstrutiva do sono (AOS)

No manejo inicial foque em medidas comportamentais: perda de peso, evitar álcool e sedativos antes de dormir, cessação tabágica e otimização da posição ao dormir. Para AOS confirmado, a CPAP continua sendo o tratamento de escolha para AOS moderada a grave. Em casos leves ou intolerância ao CPAP, considere aparelhos intraorais (dispositivos de avanço mandibular) e terapias posicionais. Diretrizes de pneumologia e revisão integrativa descrevem indicações e limitações do diagnóstico e tratamento de AOS (Jornal Brasileiro de Pneumologia).

Sono não reparador

Sinta‑se alerta para causas multifatoriais: qualidade fragmentada do sono, distúrbios respiratórios do sono, transtornos do humor, dor crônica e doenças sistêmicas. O manejo começa com identificação e tratamento das causas subjacentes, medidas de higiene do sono e reavaliação após intervenção. Quando o sono não reparador persiste sem causa óbvia, encaminhar para avaliação especializada é recomendado.

Indicações e limitações da polissonografia

Indique polissonografia completa quando há dúvida diagnóstica, suspeita de apneia grave com comorbidade ou suspeita de distúrbio do movimento/parasônia. Testes domiciliares (home sleep apnea testing) são adequados para pacientes com alta probabilidade clínica de AOS sem comorbidades significativas; contudo, esses testes podem subestimar eventos e não avaliam arquitetura do sono nem distúrbios concomitantes como narcolepsia. Para orientação prática sobre registros domiciliares e limitações técnicas consulte guias e revisões recentes (ex.: revisão integrativa disponível em Brazilian Journal of Implantology and Health Sciences).

Encaminhamento e integração com especialistas

Estabeleça critérios claros para encaminhamento para Medicina do Sono:

  • Suspeita de AOS moderada a grave, especialmente com comorbidades cardiovasculares ou neurológicas.
  • Falha de tratamento inicial não farmacológico (ex.: TCC‑I não disponível ou inepta / intolerância a CPAP).
  • Quadros complexos: sonolência diurna incapacitante, eventos parassonícolas atípicos, suspeita de narcolepsia, apneia central do sono.
  • Necessidade de avaliação multidisciplinar (otorrinolaringologia, cardiologia, odontologia do sono).

O impacto dos distúrbios do sono em doenças cardiovasculares é bem documentado; considere avaliação cardiológica quando houver fatores de risco ou sintomas sugerindo acometimento cardíaco (Posicionamento SBC).

No âmbito da atenção primária, protocolos pragmáticos de seguimento e reciclagem dos esforços não farmacológicos melhoram resolução de queixas e evitam uso crônico de hipnóticos — estratégias úteis estão compiladas em materiais sobre gestão dos distúrbios do sono na APS (gestão em APS).

Monitorização, adesão e aspectos práticos

  • Monitore adesão ao CPAP e sintomas residuais; intervenções de suporte (educação, ajuste de máscara, dessensibilização) aumentam adesão.
  • Documente resposta à TCC‑I com instrumentos (Insomnia Severity Index) e planeje checkpoints para retirada de medicação quando indicado.
  • Use registros de sono e, quando disponíveis, dados de dispositivos domiciliares com cautela — são úteis para tendência, mas não substituem testes diagnósticos confirmatórios.

Fecho clínico e orientações práticas

Na prática clínica diária priorize triagem estruturada: história dirigida, uso de questionários e identificação de sinais de alerta que exijam polissonografia ou encaminhamento. A Terapia Cognitivo‑Comportamental deve ser oferecida como primeira linha para insônia; para AOS, combine medidas comportamentais com CPAP quando indicado, e considere dispositivos orais em casos selecionados. Encaminhe para Medicina do Sono em situações de gravidade, complexidade diagnóstica ou falha terapêutica. Integrar abordagem de sono na avaliação de comorbidades (especialmente doenças cardiovasculares) melhora desfechos a médio e longo prazo.

Leve‑se embora: distúrbios do sono são comuns e tratáveis — um protocolo de triagem simples, intervenções não farmacológicas bem aplicadas e encaminhamento oportuno otimizam cuidado e reduzem riscos associados.

Referências selecionadas no texto: Manual MSD sobre abordagem ao transtorno do sono, revisão integrativa disponível em bjihs.emnuvens e artigos do Jornal Brasileiro de Pneumologia sobre SAOS.

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