Abordagem inicial da febre em adultos na atenção primária
Abordagem inicial da febre em adultos
A febre é um sinal clínico frequente na prática da atenção primária e costuma representar uma resposta do organismo frente a infecções e processos inflamatórios. Saber diferenciar sinais de alerta, conduzir uma anamnese dirigida e solicitar exames selecionados é essencial para orientar tratamento, evitar complicações e reduzir o uso inadequado de antimicrobianos.
A definição e a fisiologia
Considera-se febre quando a temperatura oral excede cerca de 37,5°C. A elevação térmica resulta de alteração do ponto de regulação hipotalâmico por pirógenos endógenos (citocinas) ou exógenos (toxinas, microrganismos). Além do papel protetor na resposta imune, a febre pode causar desconforto, desidratação e risco em pacientes com comorbidades cardiovasculares ou neurológicas.
Causas comuns e foco diagnóstico
A etiologia é ampla, mas na atenção primária as causas mais frequentes são infecções do trato respiratório superior e inferior, infecções do trato urinário e processos infecciosos localizados (como otite média e faringoamigdalite). Em adultos com fator de risco ou curso atípico, devem-se considerar causas não infecciosas como doenças autoimunes, neoplasias e reações medicamentosas.
- Infecções respiratórias: desde resfriado viral até pneumonia; oriente avaliação dirigida por dispneia, taquipneia e foco auscultatório.
- Infecções do trato urinário: geralmente febre com disúria, alteração do estado geral e sinais sistêmicos.
- Infecções otorrinolaringológicas: otite média e faringoamigdalite são causas comuns em adultos jovens — revise diretrizes locais para condutas específicas.
Para aprofundar condutas em infecções de ouvido e garganta, veja as recomendações sobre otite média aguda e faringoamigdalite, incluindo indicações de antibioticoterapia e critérios de encaminhamento.
Avaliação clínica da febre
A avaliação deve priorizar:
- Anamnese: início e padrão da febre, sintomas acompanhantes (tosse, dispneia, disúria, dor local), uso de medicamentos recentes, imunizações, viagens e exposição epidemiológica.
- Exame físico completo: sinais de foco infeccioso (ausculta pulmonar, inspeção orofaríngea, palpar abdome, exame neurológico), sinais de gravidade (hipotensão, taquipneia, confusão).
- Critérios de gravidade: sinais de sepse, dessaturação, sinais neurológicos ou falência de órgãos exigem avaliação e manejo hospitalar.
Exames laboratoriais e imagem
Os exames orientam a conduta quando a suspeita clínica persiste ou há sinais de gravidade. Hemograma, proteína C-reativa (PCR) e procalcitonina podem auxiliar na distinção entre causas bacterianas e virais; urinálise e urocultura são essenciais quando há suspeita de infecção urinária. Radiografia de tórax é indicada se houver suspeita de pneumonia.
Em atenção primária, evite exames indiscriminados: solicite de acordo com o quadro clínico e risco do paciente. Para orientações práticas sobre posologia antimicrobiana em infecções comuns, consulte o material sobre amoxicilina-clavulanato, sempre considerando resistência antimicrobiana local.
Manejo inicial: tratamentos dirigidos e suporte sintomático
O tratamento deve visar a causa identificada. Em infecções bacterianas com indicação, iniciar antibioticoterapia empírica conforme guias locais e ajustar após resultados microbiológicos. Em casos sem foco claro ou suspeita viral, conduta expectante com reavaliação e orientação ao paciente é adequada na maioria das vezes.
Antipiréticos e medidas gerais
O uso de antipiréticos (paracetamol ou AINEs como ibuprofeno) é indicado para alívio do mal-estar e controle da febre, respeitando contraindicações e doses. Medidas não farmacológicas incluem hidratação adequada e controle do ambiente (ventilação, roupas leves). Explique ao paciente que a febre isoladamente não determina sempre a necessidade de antibiótico.
Aspectos especiais: idosos e uso racional de antimicrobianos
Em idosos a apresentação pode ser atípica, com menor elevação térmica ou confusão aguda como sinal predominante; a avaliação para infecção do trato urinário e pneumonia é prioritária. Em todos os pacientes, é fundamental a prevenção do uso inadequado de antibióticos para reduzir resistência antimicrobiana e efeitos adversos.
Diretrizes de manejo e prevenção, incluindo vacinação e educação sobre automedicação, contribuem para reduzir episódios febris evitáveis. Para atualização sobre condutas em atención primária e manejo de infecções respiratórias e otológicas, reveja materiais de referência e guias especializados.
Recursos externos com orientação complementar: Manual MSD – Febre em adultos, o consenso do Oxford Brazil EBM Alliance sobre manejo em atenção primária (incluindo contexto de COVID-19) e atualizações em clínica médica no Guia TdC.
Síntese prática
Na atenção primária, priorize identificação de sinais de gravidade, pesquisa orientada do foco infeccioso (respiratório, urinário, otorrinolaringológico) e uso seletivo de exames. Trate causas identificadas com antimicrobianos quando indicados e ofereça suporte sintomático com antipiréticos e hidratação. Eduque sobre vacinação, higiene e risco de automedicação para reduzir complicações e resistência antimicrobiana. Reavalie pacientes com piora clínica ou sem resposta em 48–72 horas.