Abordagem prática da dor lombar aguda na consulta

Abordagem prática da dor lombar aguda na consulta

Introdução

Você atende um paciente com dor lombar aguda que começou há dias — o que fazer na consulta agora? A maioria dos episódios melhora espontaneamente em semanas, mas a consulta deve focar em triagem rápida para sinais de gravidade, alívio da dor e retorno funcional com um plano de tratamento conservador e orientações claras.

Avaliação inicial e triagem

Classificação e história rápida

Classifique a dor como aguda (<4 semanas), subaguda (4–12 semanas) ou crônica (>12 semanas). Na anamnese foque em início súbito, mecanismo (trauma, esforço), irradiação, déficits neurológicos e impacto funcional. Pergunte sobre fatores de risco: idade avançada, uso de corticoide, histórico oncológico, osteoporose, consumo de álcool ou trauma recente.

Sinais de alerta (“red flags”) — encaminhe imediatamente

  • Perda sensorial bilateral em região perineal ou perda de esfíncteres (sugestivo de síndrome da cauda equina)
  • Déficit neurológico progressivo (fraqueza motora franca)
  • Febre, calafrios ou sinais sistêmicos (suspita-se infecção)
  • Perda de peso inexplicada, história de câncer (suspeita de metástase)
  • Trauma de alta energia ou fratura conhecida/uso de corticoterapia crônica

Se algum sinal de alerta estiver presente, solicite investigação imediata e/ou encaminhamento para emergência ou especialista.

Conduta prática na consulta — primeiro 2 a 6 dias

Orientações gerais e atividade

Reforce que o objetivo é recuperar função. Recomende manutenção das atividades dentro dos limites da dor, evitando repouso prolongado. Oriente retorno progressivo às atividades habituais e trabalho quando possível. A atividade física precoce está associada a melhor recuperação e menor risco de cronificação.

Medidas físicas e adjuvantes

  • Aplicação local de calor ou frio para alívio sintomático.
  • Analgesia escalonada: paracetamol pode ser tentada; faça juízo clínico sobre uso de anti-inflamatórios não esteroides (AINEs) — eficazes para alívio, mas considerar riscos gastrointestinais, renais e cardiovasculares.
  • Evitar opioides sempre que possível; se usados, por curto período e com plano de descontinuação.

Não é rotina pedir exame de imagem nas primeiras 6 semanas se não houver sinais de gravidade. Essas recomendações estão alinhadas com diretrizes internacionais sobre terapias não farmacológicas e uso racional de exames (ver referências).

Quando indicar fisioterapia e quais modalidades

Se dor intensa, limita funcionalidade ou não melhora em 2–6 semanas, oriente encaminhamento para fisioterapia. Técnicas úteis no contexto agudo incluem:

  • Terapia manual e mobilizações suaves
  • Exercícios de estabilidade lombar e reeducação motora
  • Programas de retorno gradual à atividade laboral
  • Tração seletiva em situações específicas (avaliar caso a caso)

Explique ao paciente o plano e combine metas de reabilitação (p. ex., caminhar X minutos/dia, retornar ao trabalho em Y semanas). Para orientações práticas sobre o manejo inicial em atenção primária, consulte nosso texto dedicado sobre manejo inicial da dor lombar aguda.

Medicamentos: escolhas e precauções

Se optar por farmacoterapia, siga princípios de prescrição segura:

  • AINEs: eficácia sintomática; usar a menor dose eficaz pelo menor tempo possível. Cuidado em idosos, doença renal, história de gastrite/úlcera ou risco cardiovascular.
  • Paracetamol: opção para dor leve a moderada; eficácia limitada em algumas séries, mas perfil de segurança melhor em doses adequadas.
  • Relaxantes musculares: podem ser considerados por curto período para espasmo intenso.
  • Opioides: evitar; considerar apenas excepcionalmente, por curto prazo e com plano de cessação e monitorização.

Explique riscos e sinais de alerta relacionados a medicamentos. Para pautas de prescrição ambulatorial e racionalização, veja nosso guia sobre prescrição segura de analgésicos.

Seguimento, critérios de progressão e encaminhamento

Programe retorno ou contato em 2 semanas se a dor não melhorar ou antes se houver piora. Indique investigação por imagem (radiografia, tomografia ou ressonância) e/ou encaminhamento a ortopedia/neurocirurgia se houver:

  • Sinais neurológicos progressivos
  • Suspeita de fratura, infecção ou neoplasia
  • Falha do tratamento conservador após 6 semanas com impacto funcional importante

Em atenção primária, um plano integrado com fisioterapia e educação reduz o risco de evolução para dor crônica. Para estratégias de reabilitação e manejo de dor crônica inespecífica, consulte manejo prático da dor lombar crônica.

Prevenção da recorrência e cuidados longitudinais

Até 30% podem ter recorrência ou evolução para cronicidade. As medidas preventivas incluem:

  • Programa de exercícios regulares (força, flexibilidade e estabilidade do core)
  • Educação postural e ergonomia no trabalho
  • Manejo do estresse e reabilitação psicossocial quando indicado

Promova adesão com metas realistas e encaminhe para intervenções multidisciplinares se houver sinais de dor crônica ou prejuízo biopsicossocial. A integração entre clínica e fisioterapia é essencial; material de apoio sobre prevenção e reabilitação pode ser útil para pacientes e equipes (veja também nosso conteúdo sobre prevenção e reabilitação).

Referências práticas e onde aprofundar

As recomendações aqui resumidas seguem evidências que privilegiam terapias não farmacológicas quando possível e o uso criterioso de fármacos. Leituras úteis:

  • Diretriz da American College of Physicians sobre tratamentos não invasivos para lombalgia — revisão de evidências e recomendações práticas: ACP / Annals of Internal Medicine.
  • Revisões Cochrane sobre atividade física e exercício para dor crônica — suporte para recomendação de programas ativos: Cochrane Library (overview de exercícios).
  • Diretrizes e protocolos nacionais e locais para manejo agudo e emergencial (considere o protocolo local de dor lombar aguda para fluxos de encaminhamento e critérios de imagem).

Fechamento e insights práticos

Na consulta, priorize triagem de red flags, alívio sintomático com plano de tratamento conservador e orientação para manutenção da atividade. Reserve fisioterapia e investigação complementar para quem não responde ao manejo inicial ou apresenta sinais de gravidade. A comunicação clara sobre expectativas e um seguimento estruturado reduzem recorrência e o risco de cronificação.

Links internos relacionados: artigos sobre abordagem prática na atenção primária, manejo inicial, manejo da dor lombar crônica e estratégias de prevenção e reabilitação.

* Alguns de nossos conteúdos podem ter sido escritos ou revisados por IA. Fotos por Pexels ou Unsplash.