Atualização terapêutica do diabetes tipo 2 na atenção primária
O diabetes mellitus tipo 2 (DM2) permanece como uma das principais causas de morbidade global e desafia constantemente a prática na atenção primária. Este texto apresenta, em linguagem direta e baseada em evidência, as estratégias terapêuticas atuais que todo profissional de saúde na atenção primária deve conhecer: desde intervenções no estilo de vida até escolhas farmacológicas que reduzem risco cardiovascular e nefropatia.
Metformina: base inicial e considerações práticas
A metformina continua indicada como primeira linha em pacientes com DM2, quando não há contra-indicação clínica. Seus benefícios incluem redução de glicemia, efeito neutro ou favorável sobre peso e baixo custo. Na prática, começar em dose baixa e aumentar progressivamente reduz efeitos gastrointestinais. Em pacientes com queda de função renal, ajuste de dose e avaliação do risco devem ser feitos conforme diretrizes locais e internacionais, como as publicadas pela Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD 2024) e pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
Inibidores SGLT-2 e proteção cardiovascular/renal
Para pacientes com doença cardiovascular estabelecida, insuficiência cardíaca ou doença renal crônica, os inibidores de SGLT-2 demonstraram reduzir hospitalizações por insuficiência cardíaca e desacelerar declínio da função renal. A seleção entre SGLT-2, agonistas de GLP-1 e outras classes deve considerar risco cardiovascular, estado renal, necessidades de perda de peso e custo. Leia recomendações práticas e comparativos em nosso guia sobre inibidores SGLT-2 e agonistas de GLP-1 para aprofundamento clínico.
Indicações e monitorização
Antes de iniciar SGLT-2, avalie função renal (eGFR), risco de infecções genitais e risco de desidratação. Durante o tratamento, monitorar glicemia capilar, função renal e sinais de efeitos adversos é essencial. Protocolos de ajuste em doença renal aguda devem ser conhecidos pela equipe da atenção primária.
Agonistas de GLP-1 e gestão do peso
Os agonistas do receptor de GLP-1 são indicados em pacientes que precisam de redução ponderal adicional e apresentam risco cardiovascular elevado. Além do impacto glicêmico, promovem perda de peso significativa e redução de risco cardiovascular em estudos recentes. A escolha entre classes deve ser individualizada.
Monitorização glicêmica e tecnologia
O controle glicêmico eficaz baseia-se em metas personalizadas e monitorização regular. A hemoglobina glicada (HbA1c) orienta metas de longo prazo, enquanto glicemias capilares e o uso de monitorização contínua de glicose (CGM) podem melhorar segurança em pacientes com hipoglicemia ou variabilidade glicêmica significativa. Para orientações práticas sobre CGM na atenção primária e uso de dados para ajuste terapêutico, consulte nosso texto sobre monitorização contínua da glicose.
Intervenções não farmacológicas e adesão
Modificações no estilo de vida — alimentação com baixo índice glicêmico, atividade física regular e intervenções para perda de peso — são fundamentais e frequentemente potencializam o efeito de fármacos como metformina e agonistas de GLP-1. Estratégias de educação em diabetes, apoio nutricional e programas estruturados aumentam adesão e resultados. A atenção primária deve facilitar encaminhamentos para equipes multidisciplinares sempre que possível.
Risco cardiovascular e manejo integrado
O manejo do DM2 exige atenção ao risco cardiovascular global: controle da pressão arterial, dislipidemia, cessação do tabagismo e terapia antitrombótica quando indicada. A avaliação e tratamento dos fatores de risco reduzem eventos maiores e devem ser parte do plano terapêutico integrado. Para revisão sobre prevenção cardiovascular e dislipidemia em pacientes com risco metabólico, veja nosso artigo sobre dislipidemia e prevenção cardiovascular.
Pontos essenciais para a prática clínica
- Individualize metas de HbA1c e escolha terapêutica considerando idade, comorbidades e risco de hipoglicemia.
- Inicie metformina salvo contraindicação; adicione inibidores de SGLT-2 ou agonistas de GLP-1 quando houver indicação clínica (proteção cardiovascular/renal ou necessidade de perda de peso).
- Monitore função renal e segurança durante iniciar/incrementar terapias modernas.
- Invista em educação em diabetes, programas de perda de peso e suporte multidisciplinar para melhorar adesão.
- Utilize tecnologias (CGM, apps de autocontrole) quando disponíveis para reduzir variabilidade glicêmica e hipoglicemias.
As recomendações nacionais e internacionais (SBD, ADA e OMS) oferecem bases atualizadas para decisões clínicas; porém, a contextualização local — disponibilidade de medicamentos, custos e suporte da equipe — orienta a melhor escolha para cada paciente. Para uma leitura complementar com foco em prevenção, diagnóstico e tratamento amplo do diabetes tipo 2, sugerimos também nosso conteúdo sobre prevenção e tratamento do DM2.
Fontes externas selecionadas para prática clínica e atualização: Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD 2024), Organização Mundial da Saúde (OMS) e American Diabetes Association (ADA).
Aplicar essas estratégias na atenção primária melhora desfechos clínicos e qualidade de vida dos pacientes com diabetes tipo 2. A decisão terapêutica deve ser compartilhada, baseada em evidência e adaptada às circunstâncias de cada paciente.