Bexiga neurogênica: diagnóstico e manejo prático
A bexiga neurogênica é a perda ou alteração do controle vesical causada por doença ou lesão do sistema nervoso central ou periférico. Pode manifestar-se por incontinência urinária de esforço ou de urgência, frequência aumentada, urgência miccional ou retenção urinária crônica. O objetivo deste texto é orientar profissionais de saúde e pacientes sobre diagnóstico, abordagens terapêuticas e condutas práticas, com base em evidências e boas práticas clínicas.
Bexiga neurogênica: sinais e sintomas
Os sintomas variam conforme o nível e a extensão da lesão neurológica. Em linhas gerais, identificam-se:
- Incontinência urinária por urgência ou perda contínua de urina;
- Polaciúria (micção frequente) e urgência;
- Retenção urinária parcial ou completa, com esvaziamento ineficaz;
- Comprometimento sexual associado, em alguns casos;
- Risco aumentado de infecções do trato urinário e de lesão renal em disfunções com alta pressão vesical.
Entre as causas mais comuns estão lesão medular traumática, esclerose múltipla, acidente vascular cerebral, doença de Parkinson, neuropatia diabética e malformações congênitas. A história clínica deve priorizar o início dos sintomas, presença de doenças neurológicas e uso de medicamentos que possam alterar a função vesical.
Diagnóstico: urodinâmica, ultrassonografia e exames complementares
O diagnóstico exige avaliação multidimensional:
- Anamnese e exame físico: avaliação neurológica e exame do períneo e abdome;
- Diário miccional: registro de volumes e episódios de urgência/incontinência;
- Exames laboratoriais: urina tipo I, urocultura quando houver suspeita de infecção;
- Urodinâmica: estudo fundamental para caracterizar hiperatividade detrusora, contratilidade e hipotonia esfincteriana — informa a estratégia terapêutica;
- Imagem: ultrassonografia do trato urinário para avaliar residuo pós‑miccional, hidronefrose ou alterações anatômicas; veja orientações práticas sobre ultrassonografia do trato urinário.
Para atualização e protocolos de referência, consulte as diretrizes de neuro-urologia da European Association of Urology (EAU): uroweb.org/guideline/neuro-urology, e revisões disponíveis em bases como PubMed: PubMed. Um resumo clínico também pode ser encontrado no Manual MSD: MSD Manual.
Abordagens terapêuticas
O tratamento deve ser individualizado e orientado pelo tipo de disfunção urodinâmica, objetivos do paciente e risco de complicações renais.
Medidas comportamentais e reabilitação
- Educação do paciente e cuidadores sobre hábitos miccionais e sinais de complicação;
- Treinamento vesical e ajuste de ingestão hídrica;
- Fisioterapia do assoalho pélvico quando possível, com biofeedback em centros especializados;
Tratamento farmacológico
- Anticolinérgicos e agonistas beta-3 para reduzir a hiperatividade detrusora e melhorar a continência;
- Alfa‑bloqueadores para facilitar o esvaziamento em pacientes com obstrução funcional ou resistência esfincteriana;
- Escolha e ajuste de medicação devem considerar efeitos colaterais (sedação, retenção) e comorbidades do paciente.
Cateterismo intermitente limpo
O cateterismo vesical intermitente é a técnica de escolha para pacientes com retenção crônica ou esvaziamento inadequado, reduzindo riscos de infecção e conservando função renal quando realizado corretamente. A instrução adequada do paciente e fornecimento de material são essenciais.
Intervenções cirúrgicas e neuromodulação
- Neuromodulação sacral pode ser considerada em pacientes com disfunção refratária, especialmente quando há urgência/imperiosidade predominante;
- Implante de esfíncter urinário artificial ou aumento vesical são opções para casos selecionados com falha de terapias conservadoras;
Discussão multidisciplinar e seleção criteriosa do candidato são fundamentais, assim como o acompanhamento urológico por equipe experiente.
Prevenção e manejo das infecções do trato urinário
Pacientes com bexiga neurogênica têm risco aumentado de infecções do trato urinário (ITU). A abordagem inclui higiene adequada, esvaziamento eficaz e avaliação de fatores contribuintes. Para orientação sobre condutas em ITU feminina e critérios de tratamento, consulte o material prático disponível em manejo de infecções do trato urinário. A prescrição racional de antibióticos é importante para reduzir resistência; confira recomendações sobre uso seguro de antimicrobianos em ambiente ambulatorial: prescrição segura de antibióticos.
Manejo integrado e orientações finais
O manejo eficaz da bexiga neurogênica combina diagnóstico urodinâmico preciso, medidas comportamentais, reabilitação, terapias farmacológicas apropriadas e, quando indicado, neuromodulação ou cirurgia. Equipe multidisciplinar (urologia, neurologia, fisioterapia pélvica, enfermagem e apoio psicológico) otimiza resultados e qualidade de vida.
Encaminhe para avaliação urológica se houver suspeita de disfunção com risco de dano renal, residuo pós‑miccional elevado ou episódios recorrentes de ITU. Para aprofundamento clínico e referências, consulte as diretrizes da EAU, a literatura indexada no PubMed e o resumo do MSD Manuals.