O que é biofilme em dispositivos médicos: sinais e tratamento

O que é biofilme em dispositivos médicos

Biofilme é uma comunidade microbiana organizada (bactérias, fungos e, ocasionalmente, leveduras) embebida em uma matriz extracelular que adere a superfícies, incluindo cateteres, próteses ortopédicas, implantes cardíacos e outros dispositivos médicos. Em prática clínica, o biofilme tem grande relevância porque reduz a eficácia de antibióticos, protege microrganismos da resposta imune e pode causar falha funcional do dispositivo.

Definição e fisiologia do biofilme

O biofilme é composto por componentes celulares (por exemplo, Staphylococcus epidermidis, Staphylococcus aureus, Pseudomonas aeruginosa, Candida spp.), uma matriz EPS (polissacarídeos, proteínas e DNA extracelular) e moléculas que modulam a resposta inflamatória local. A formação ocorre por fases — adesão inicial, adesão estável, maturação e dispersão — que explicam por que infecções associadas a dispositivos podem ser crônicas e de difícil erradicação.

Como o biofilme se forma em dispositivos

  • Atração e adesão: partículas e proteínas plasmáticas depositam-se na superfície do material, facilitando a aproximação microbiana.
  • Adesão estável: microrganismos produzem estruturas de adesão (fímbrias, proteínas) e iniciam a síntese de EPS.
  • Maturação: a comunidade cresce e forma uma matriz tridimensional que diminui a penetração de fármacos.
  • Dispersão: células livres podem se desprender e causar infecções secundárias em outros sítios.

Sinais clínicos de infecção por biofilme

Em pacientes com dispositivos, os sinais podem ser sutis. Febre recorrente, inflamação no sítio de inserção, dor localizada, disfunção do dispositivo (fluxo reduzido em cateteres, mobilidade reduzida em próteses) e episódios de bacteremia são indícios que aumentam a suspeita de infecção por biofilme. Em muitos casos, a resposta inflamatória local é desproporcional à aparência externa do sítio.

Diagnóstico: sonicação, culturas e PCR

O diagnóstico combina avaliação clínica, cultura microbiológica e, quando disponível, técnicas moleculares. A sonicação de dispositivos removidos melhora a recuperação de microrganismos aderidos e aumenta a sensibilidade das culturas. Técnicas de PCR e sequenciamento ajudam a identificar microrganismos quando culturas são negativas ou quando há múltiplas espécies.

Abordagens laboratoriais e interpretação

  • Coleta adequada: hemoculturas, amostras de fluido e, quando possível, envio do dispositivo para sonicação e cultura.
  • Culturas convencionais: continuam sendo o pilar diagnóstico, mas podem subestimar organismos em estado de baixa atividade metabólica.
  • Testes moleculares: PCR e metagenômica aumentam a detecção em quadros de baixa carga microbiana.
  • Imagens: ultrassom e tomografia auxiliam na detecção de abscessos ou envolvimento tecidual, mas não confirmam biofilme isoladamente.

Prevenção: práticas clínicas e revestimentos antimicrobianos

A prevenção exige práticas assépticas rigorosas, escolha adequada do dispositivo e redução do tempo de permanência sempre que possível. Revestimentos com prata, agentes antimicrobianos incorporados ou superfícies de baixa adesão podem reduzir a colonização inicial; a indicação deve considerar risco de resistência e custo-benefício.

Boas práticas no manejo de cateteres e próteses

  • Higiene das mãos e técnica asséptica na inserção e manuseio;
  • Avaliar diariamente a necessidade de manutenção do dispositivo e remover quando não indicado;
  • Trocas e curativos realizados conforme protocolo institucional;
  • Em cateteres de longa permanência, considerar estratégias como antibiotic lock sob indicação especializada.

Para decisões sobre uso de antimicrobianos em prevenção ou no tratamento empírico, incorporar princípios de prescrição segura de antibióticos de alto risco e de uso racional. Em pacientes com dor crônica associada a procedimentos, o manejo apropriado da dor pode influenciar a reabilitação — consulte conteúdos sobre manejo da dor crônica quando pertinente.

Tratamento do biofilme: remoção, antibioticoterapia e terapias locais

O manejo costuma exigir decisão multidisciplinar: em muitos casos, a remoção do dispositivo é necessária para erradicar a fonte do biofilme. Quando a preservação é tentada, combinações de antibioticoterapia sistêmica e terapias locais (por exemplo, dispositivos com liberação controlada de antimicrobianos) podem ser empregadas, com monitoramento rigoroso.

Estratégias específicas e monitoramento

  • Antibioticoterapia empírica: iniciar com cobertura baseada no perfil epidemiológico (Staphylococcus spp., Pseudomonas e Gram-negativos), ajustando conforme culturas e testes de sensibilidade.
  • Combinações antimicrobianas: podem melhorar penetração e sinergismo em biofilme, dependendo da espécie isolada.
  • Antibiotic lock: indicado em algumas infecções de cateter quando a retirada não é possível; decisão deve ser tomada por infectologista.
  • Controle de complicações: drenagem de coleções, desbridamento e tratamento de osteomielite ou endocardite quando presentes.

Em pacientes que necessitam de suporte nutricional durante tratamento prolongado, planeje suporte integrado; informações sobre alimentação enteral domiciliar podem ser úteis: alimentação enteral domiciliar.

Implicações para a decisão clínica

Para escolher entre preservação e remoção do dispositivo considere: tempo de permanência, gravidade da infecção, patógeno identificado, resposta inicial à terapia e o risco de complicações como sepse ou envolvimento osteoarticular. A discussão multidisciplinar (cirurgia, infectologia, microbiologia, radiologia) é essencial para resultados seguros.

Resumo prático sobre biofilme em dispositivos médicos

  • Mantenha alta suspeita de biofilme em pacientes com cateteres, próteses ou implantes que apresentem febre recorrente, dor local ou disfunção do dispositivo.
  • Priorize coleta adequada (hemoculturas, sonicação do dispositivo removido, PCR quando disponível) para orientar terapia dirigida.
  • Considere remoção do dispositivo quando houver falha terapêutica ou comprometimento funcional; quando não for possível, estratégias como antibiotic lock podem ser discutidas.
  • Adote medidas preventivas: técnica asséptica, avaliação diária da necessidade do dispositivo e, quando indicado, revestimentos antimicrobianos.
  • Trabalhe em equipe multidisciplinar e use princípios de uso racional de antibióticos (veja também orientações sobre uso racional de antibióticos) para minimizar risco de resistência.

Este texto foi redigido para uso clínico e para pacientes que buscam entender melhor o papel do biofilme em infecções associadas a dispositivos. Em caso de suspeita, converse com a equipe de saúde responsável para avaliação, exames e plano terapêutico individualizado.

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