Crupe: sintomas, causas e tratamentos essenciais para profissionais de saúde
O crupe, ou laringotraqueobronquite, é uma síndrome respiratória aguda que acomete principalmente lactentes e pré-escolares. Neste texto, apresento um resumo prático, baseado em evidências, para auxiliar a avaliação clínica, o manejo agudo e as orientações familiares na atenção primária e hospitalar.
Causas do crupe
Na maioria das vezes o crupe é de origem viral, com inflamação da laringe e traqueia levando ao estreitamento subglótico e ao quadro característico de tosse em latido. Os agentes mais frequentemente envolvidos são:
- Vírus parainfluenza (tipos 1 e 2): responsáveis pela maior parte dos casos.
- Vírus sincicial respiratório (VSR): associado a formas mais graves em lactentes; para revisão clínica e condutas específicas veja o material sobre infecções por vírus sincicial respiratório na pediatria.
- Influenza e outros vírus respiratórios (adenovírus, coronavírus): podem ocasionar apresentações mais severas.
A transmissão ocorre por gotículas respiratórias e contato com secreções; o período de incubação costuma variar entre 1 e 3 dias.
Quadro clínico e diagnóstico
O diagnóstico é majoritariamente clínico. As características típicas incluem:
- Tosse rouca, estridente e em latido.
- Estridor inspiratório, que pode indicar obstrução subglótica.
- Rouquidão e sinais de desconforto respiratório.
- Febre de intensidade variável e congestão nasal.
Sinais de alerta
- Taquipneia, uso de musculatura acessória, intolerância à alimentação e episódeos de cianose.
- Progressão rápida do estridor em repouso ou fadiga respiratória.
Exames complementares são raramente necessários para o diagnóstico inicial, mas podem ser úteis se houver dúvida diagnóstica ou suspeita de complicação: radiografia de pescoço em foco expiratório (sinal subglótico pode ser observado), testes virológicos para vigilância epidemiológica ou diferenciação etiológica. Para recomendações clínicas gerais veja a revisão no Manual MSD.
Tratamento e condutas práticas
O objetivo do tratamento é aliviar a obstrução das vias aéreas superiores e reduzir a inflamação. As medidas podem ser divididas em suporte ambulatorial e intervenções hospitalares, conforme a gravidade.
Medidas de suporte (ambulatorial e domiciliar)
- Manter hidratação adequada e repouso. Crianças que recusam líquidos ou mostram sinais de desidratação requerem avaliação imediata.
- Umidificação do ambiente pode aliviar sintomas; a exposição breve ao ar frio (janela aberta, ar-condicionado em ambiente seguro) é uma medida tradicionalmente empregada e descrita em revisões clínicas (ex.: conteúdo de referência sobre cuidados básicos).
- Educar os cuidadores sobre sinais de piora, como estridor em repouso, respiração rápida ou cianose.
Terapêutica farmacológica
- Corticosteroides: a administração de corticosteroide em dose única reduz a gravidade e a duração dos sintomas. A dexametasona por via oral, intramuscular ou intravenosa é a opção mais usada; doses relatadas na literatura variam entre 0,15 a 0,6 mg/kg (dose única), conforme protocolo local e avaliação clínica. A indicação de corticosteroide independe da gravidade inicial quando o diagnóstico é consistente.
- Epinefrina/ adrenalina nebulizada: recomendada em casos moderados a graves com estridor persistente ou dispneia significativa; a resposta é frequentemente transitória, requerendo monitorização e possível repetição em ambiente hospitalar.
- Antibióticos: não de rotina. Indicados apenas se houver suspeita ou confirmação de infecção bacteriana associada (ex.: epiglote bacteriana, pneumonia) ou em contextos específicos como difteria — lembrar prevenção vacinal.
Em casos com piora respiratória ou resposta insuficiente às medidas iniciais, a criança deve ser encaminhada para unidade com suporte de oxigênio e equipe pediátrica. Para abordagem de crise respiratória e prioridades do atendimento hospitalar, recomenda-se integrar protocolos locais e referências sobre manejo de crises respiratórias, como as publicações sobre manejo de crises asmáticas em ambiente hospitalar, que descrevem princípios de triagem, monitorização e suporte ventilatório aplicáveis também ao paciente pediátrico com insuficiência ventilatória.
Prevenção e orientações aos familiares
A prevenção foca na redução da transmissão viral e na proteção contra causas bacterianas evitáveis:
- Cobertura vacinal adequada: manter calendário vacinal em dia é fundamental — a vacina DTP (difteria, tétano, pertussis) previne formas bacterianas que mimetizam o crupe; orientações sobre vacinação em populações especiais estão descritas em guias como o material sobre vacinação em pacientes transplantados, que também reforça a importância da verificação da cobertura imunológica nas famílias.
- Higiene de mãos, etiqueta respiratória e evitar exposição ao fumo ou poluentes domésticos.
- Isolamento de casos sintomáticos até melhora clínica para reduzir circulação viral em creches e escolas.
Para informações de referência pública e material de suporte à comunicação com familiares, recomendações acessíveis estão disponíveis em portais de saúde reconhecidos, como Tua Saúde e textos informativos do Drauzio Varella, que podem complementar a educação dos cuidadores.
Manejo prático do crupe na atenção primária
Na atenção primária, priorize triagem rápida para identificar sinais de gravidade, administração precoce de corticosteroide quando indicado e orientação aos cuidadores. Crianças com estridor em repouso, desidratação ou sinal de exaustão respiratória devem ser transferidas para nível de atenção superior. Documente o estado vacinal e oriente medidas preventivas no domicílio.
Por fim, a comunicação clara com os pais sobre como reconhecer piora e quando retornar ao serviço de saúde é tão importante quanto as intervenções clínicas iniciais. Manter-se atualizado com guias e protocolos locais melhora a segurança do atendimento e os desfechos das crianças com crupe.
Referências selecionadas (leitura complementar): Manual MSD (revisão clínica sobre crupe), Tua Saúde (material informativo para cuidadores) e conteúdo informativo sobre difteria e prevenção vacinal no Portal Drauzio Varella.