Manejo de crises asmáticas no hospital: guia prático para profissionais
A asma é uma doença inflamatória crônica das vias aéreas cujo agravamento pode levar a crises respiratórias com risco de vida. Este guia prático destina-se a profissionais de saúde e apresenta uma abordagem objetiva para avaliação, tratamento e prevenção de crises asmáticas em ambiente hospitalar, integrando conceitos de oxigenoterapia, broncodilatação e monitoramento funcional.
Avaliação inicial da crise asmática
Anamnese direcionada
Coletar dados sobre história prévia de asma, padrão de uso de medicação de controle e resgate, episódios prévios de hospitalização ou intubação, adesão ao tratamento e possíveis desencadeantes (alérgenos, infecções, fármacos, exposição ocupacional ou exercício). Perguntas rápidas sobre início e progressão dos sintomas ajudam a diferenciar broncoespasmo agudo de outra etiologia de dispneia.
Exame físico e sinais de gravidade
Avalie presença de sibilância, uso de musculatura acessória, retrações intercostais, frequência respiratória, taquicardia e nível de consciência. Verifique saturação de oxigênio em ar ambiente; valores < 92% indicam hypoxemia e justificam oxigenoterapia. Sinais de fadiga respiratória, deterioração da consciência ou ausência de sibilância em paciente muito dispnéico podem indicar risco de insuficiência respiratória e hipercapnia.
Exames complementares
Realize gasometria arterial quando houver suspeita de hipoxemia ou hipercapnia. Radiografia de tórax é útil para excluir complicações (pneumotórax, pneumonia). Quando possível e seguro, mensurar pico de fluxo expiratório ou realizar espirometria para documentar obstrução e resposta ao tratamento.
Classificação da gravidade e estratificação de risco
Classifique a crise como leve, moderada ou grave com base em sintomas, fluxo expiratório, necessidade de oxigênio e resposta inicial ao tratamento. Pacientes com sinais de insuficiência respiratória, queda no pico de fluxo ou gasometria alterada devem ser considerados de alto risco e monitorizados em ambiente hospitalar com suporte avançado.
Tratamento imediato da crise asmática
Medidas iniciais essenciais
- Oxigenoterapia: administrar O2 suplementar para manter SpO2 entre 94–98% (ajustar quando comorbidades cardíacas).
- Broncodilatadores de ação rápida: beta-2 agonistas inalados (salbutamol) via nebulização ou inalador com espaçador; doses repetidas a cada 20 minutos conforme resposta.
- Corticosteroides sistêmicos: prednisona oral ou metilprednisolona IV devem ser iniciados precocemente para reduzir inflamação e prevenir recaída.
Quando pensar em terapia adicional
Em crises graves, considerar aminofilina ou beta-2 agonistas IV em centros com experiência. O uso de anticolinérgicos inalatórios (ipratropio) como adjuvante pode melhorar resposta em alguns casos. Avalie necessidade de ventilação não invasiva ou intubação e ventilação mecânica se houver fadiga respiratória, hipercapnia crescente ou queda da consciência.
Monitoramento: como acompanhar a resposta
Monitore frequência respiratória, esforço respiratório, frequência cardíaca, saturação e, se possível, pico de fluxo expiratório. Repita gasometria arterial em casos graves ou se houver piora clínica. O acompanhamento próximo nas primeiras horas é determinante para decidir alta, observação prolongada ou internação.
Plano de transição e tratamento de manutenção
Após estabilização, revise o plano de tratamento de manutenção: otimizar corticosteroides inalatórios, avaliar necessidade de associações (long-acting beta-agonists, antagonistas dos leucotrienos) e considerar terapias biológicas em pacientes com asma grave eosinofílica conforme critérios. Reforçar técnica inalatória e adesão — muitos eventos são evitáveis com educação adequada.
Indicações de hospitalização e atenção às comorbidades
Considere internação quando houver resposta inadequada após tratamento inicial, necessidade de oxigenoterapia contínua, comorbidades importantes (por exemplo, insuficiência cardíaca) ou risco social que impeça seguimento. Em pacientes com doenças cardiovasculares associadas, coordene cuidado com cardiologia; veja recomendações sobre manejo integrado em Insuficiência Cardíaca e Suas Implicações no Manejo da Asma.
Prevenção de novas crises e reabilitação
Programas de educação sobre identificação precoce de sinais de alerta, plano de ação por escrito e ajuste de medicação são fundamentais. Avalie fatores desencadeantes ambientais e comorbidades como apneia do sono. Em pacientes com limitação funcional persistente, a reabilitação respiratória domiciliar pode acelerar recuperação e reduzir reinternações — confira estratégias de reabilitação remota em Reabilitação respiratória domiciliar e telemedicina.
Referências clínicas e recursos complementares
Para protocolos e diretrizes internacionais, consulte as recomendações atualizadas da Global Initiative for Asthma (GINA): ginasthma.org. A Organização Mundial da Saúde oferece visão geral epidemiológica e aspectos de saúde pública sobre asma: WHO – Asthma fact sheet. Orientações brasileiras e materiais de educação podem ser obtidos na Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia: SBPT. Para integração entre diretrizes locais e práticas hospitalares, consulte também as Diretrizes GINA 2025 disponíveis em nosso site: Diretrizes GINA 2025.
Resumo prático sobre manejo de crises asmáticas
Na abordagem hospitalar, priorize avaliação rápida, oxigenoterapia quando indicada, broncodilatação repetida e corticosteroides sistêmicos precoces. Monitore função ventilatória e sinais de fadiga respiratória; decida internação com base na resposta clínica e nas comorbidades. Invista em educação do paciente e planos de ação para reduzir recorrências. Para aprofundar o cuidado integrado a comorbidades e seguimento, confira também materiais correlacionados no site: impacto de comorbidades metabólicas no manejo e estratégias de reabilitação remota acima citadas.
Este guia resume práticas baseadas em evidências para orientar decisões clínicas rápidas e seguras no manejo de crises asmáticas em ambiente hospitalar. Mantenha protocolos locais alinhados às diretrizes e atualize treinamentos da equipe para otimizar resultados.