O que é demência com corpos Lewy: sinais precoces e manejo prático

O que é demência com corpos Lewy?

A demência com corpos Lewy (DCL) é uma doença neurodegenerativa caracterizada pelo acúmulo de alfa-sinucleína formando corpos de Lewy nos neurônios. Essas alterações acometem estruturas subcorticais e corticais e produzem um quadro clínico que combina declínio cognitivo, flutuações da atenção, sintomas motores do tipo parkinsonismo e distúrbios comportamentais. Funções autonômicas, sono e percepção visual costumam ser afetados precocemente, aumentando o risco de quedas, desidratação e eventos adversos relacionados a medicamentos.

Sinais precoces: alucinações visuais, flutuações e parkinsonismo

Os sinais que mais orientam o diagnóstico inicial são:

  • Flutuações da atenção: variações marcantes na vigília e na clareza cognitiva ao longo do dia, com episódios de sonolência ou confusão intercalados com períodos relativamente melhores.
  • Alucinações visuais: percepções visuais vívidas e detalhadas (pessoas, animais, objetos) que ocorrem sem estímulos externos e costumam gerar ansiedade nos familiares.
  • Parkinsonismo: rigidez, bradicinesia, tremor e instabilidade postural, que podem ter resposta variável à terapia dopaminérgica.
  • Distúrbios do sono REM: comportamento motor durante o sono REM (agitação, fala, movimentos que representam o sonho) frequentemente precede ou acompanha a DCL.
  • Sinais autonômicos: hipotensão ortostática, constipação persistente e alterações na regulação autonômica.

Reconhecer esses sinais precoces melhora a detecção e orienta decisões terapêuticas que priorizam segurança e qualidade de vida. Para estratégias de detecção em atenção primária, veja o post sobre deteção precoce de demência.

Diagnóstico: como confirmar a hipótese de demência com corpos Lewy

O diagnóstico é clínico, apoiado por exames complementares quando necessário. Avaliações longitudinais e relatos de cuidadores são essenciais.

Exames que ajudam: DaT-SPECT, RM e cintilografia miocárdica

  • DaT-SPECT: demonstra redução da captação de dopamina na via nigroestriatal e é útil quando o parkinsonismo é incerto.
  • Ressonância magnética (RM) ou tomografia (TC): excluem causas estruturais ou vasculares e mostram padrões de atrofia que podem ajudar no diagnóstico diferencial.
  • Cintilografia miocárdica com MIBG: redução da captação sugere comprometimento autonômico característico em alguns casos de DCL.
  • Avaliação neuropsicológica: mapeia déficits em atenção, funções executivas e memória, diferenciando DCL de doença de Alzheimer.

Manejo prático da demência com corpos Lewy

O tratamento exige abordagem multidisciplinar (neurologia, geriatria, fisioterapia, fonoaudiologia, enfermagem, psicologia e assistência social) e equilíbrio entre controle sintomático e minimização de efeitos adversos.

Tratamento farmacológico: rivastigmina, levodopa e cautela com antipsicóticos

  • Inibidores da acetilcolinesterase: a rivastigmina tem evidência robusta para melhora de cognição e flutuações; donepezil pode ser alternativa dependendo da tolerância. Monitorar náuseas, vômitos e bradicardia.
  • Parkinsonismo: levodopa pode aliviar rigidez e bradicinesia, mas pode exacerbar alucinações; ajustar dose de forma individualizada.
  • Sintomas psicóticos: antipsicóticos devem ser usados com extremo cuidado pela sensibilidade da DCL. Preferir quetiapina ou, em centros especializados, clozapina, sempre com monitoramento próximo. Evitar agentes de alta potência como haloperidol.
  • Distúrbios do sono: melatonina e higiene do sono são medidas iniciais; casos de comportamento REM persistente podem exigir avaliação especializada.
  • Evitar fármacos anticolinérgicos e sedativos fortes, que aumentam confusão e pioram a função cognitiva.

Intervenções não farmacológicas: prevenção de quedas, reserva cognitiva e reabilitação

  • Rotina estruturada: horários regulares de sono, alimentação e atividades reduzem flutuações atencionais.
  • Exercício adaptado: programas de força, equilíbrio e aeróbicos ajudam a reduzir quedas e preservam funcionalidade.
  • Estimulação cognitiva: atividades orientadas para funções executivas e memória; estimular a reserva cognitiva por meio de atividades sociais e cognitivas regulares.
  • Segurança domiciliar: iluminação, remoção de obstáculos, uso de barras e dispositivos de apoio para minimizar risco de quedas.
  • Nutrição e hidratação: atenção a disfagia e adequação da consistência alimentar quando necessário.

Para estratégias de suporte cognitivo e funcional, veja o material sobre reserva cognitiva e para prevenção de quedas consulte o post sobre prevenção de quedas em idosos.

Orientações práticas para cuidadores e equipe

  • Educação contínua: explicar sinais de alerta (piora súbita da cognição, delírio, quedas) e ensinar estratégias de manejo de alucinações com técnicas de validação e reorientação.
  • Suporte ao cuidador: acesso a redes de apoio, grupos e recursos comunitários para reduzir sobrecarga e desgaste emocional.
  • Planejamento antecipado: discutir diretivas antecipadas, opções de cuidado e recursos financeiros enquanto o paciente mantém capacidade para decidir.
  • Coordenação multiprofissional: comunicação clara entre equipe, registro organizado de medicações e monitoramento de efeitos adversos.

Materiais práticos sobre adesão terapêutica podem ajudar na organização do regime medicamentoso: adesão terapêutica de doenças crônicas.

Desafios no consultório e sinais que exigem reavaliação

  • Avaliar longitudinalmente a evolução cognitiva, motora e do sono.
  • Rever medicações que possam precipitar confusão (anticolinérgicos, sedativos, opioides quando possível).
  • Investigar quedas recorrentes, síncopes ou piora súbita do quadro cognitivo.
  • Solicitar exames complementares (DaT-SPECT, MIBG, imagem cerebral) quando o diagnóstico for incerto.

A demência com corpos Lewy exige uma abordagem prática, individualizada e orientada para a segurança do paciente. Com reconhecimento precoce das alucinações visuais, flutuações atencionais e sinais de parkinsonismo, é possível planejar intervenções farmacológicas e não farmacológicas que preservem a função e reduzam complicações. O suporte ao cuidador e o planejamento de longo prazo são componentes essenciais do cuidado exitoso.

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