Diagnóstico e manejo da anemia ferropriva em adultos
A anemia ferropriva é a causa mais comum de anemia em adultos e exige abordagem sistemática: investigar a etiologia, repor ferro de forma segura e acompanhar a resposta terapêutica. Este texto, dirigido a profissionais da saúde e leitores leigos interessados, traz orientações práticas baseadas em evidência para diagnóstico, tratamento e seguimento.
Anemia ferropriva: panorama e quando suspeitar
Sintomas típicos incluem fadiga, palidez, intolerância ao esforço e, em casos mais intensos, taquicardia ou dispneia. Deve-se suspeitar de deficiência de ferro sempre que houver hemoglobina baixa associada a microcitose e hipocromia. Em mulheres em idade reprodutiva, menorragia é causa frequente; em adultos mais velhos, perda sanguínea gastrointestinal deve ser investigada.
Anemia ferropriva: diagnóstico laboratorial
O diagnóstico combina exame clínico e exames laboratoriais. O painel básico recomendado inclui hemograma completo (hemoglobina, VCM, HCM), ferritina sérica e saturação de transferrina. Valores orientativos:
- Hemoglobina: < 13,0 g/dL em homens e < 12,0 g/dL em mulheres.
- VCM reduzido (microcitose) e HCM baixo (hipocromia).
- Ferritina sérica baixa indica depleção de estoques (note que é reactante de fase aguda e pode estar falsamente normal em inflamação).
- Saturação de transferrina baixa reforça o diagnóstico.
Em situações com inflamação crônica ou doenças associadas, pode ser necessário medir proteína C-reativa e considerar testes adicionais (por exemplo, eletroforese de hemoglobina ou estudos gastrointestinais). Para orientação sobre investigação diferencial e investigação clínica detalhada da anemia no adulto, consulte a revisão prática interna que aborda causas e estratégias diagnósticas: investigação e diagnóstico diferencial da anemia em adultos.
Exames complementares e quando encaminhar
Perdas gastrointestinais devem ser pesquisadas por endoscopia digestiva alta e colonoscopia conforme suspeita clínica; para orientações sobre rastreio e colonoscopia na atenção primária, veja o protocolo local: rastreio do câncer colorretal e indicação de colonoscopia. Encaminhamento para hematologia é indicado quando houver anemia refratária ao tratamento de reposição ou sinais de causa hematológica.
Reposição de ferro: opções e condutas
Reposição oral de ferro
É a primeira linha na maioria dos casos. Recomendações práticas:
- Dosagem: 150–200 mg de ferro elementar por dia (dividido em 1–3 doses) é comumente utilizado; regimes cotidianos e dose única diária podem ser ajustados conforme tolerabilidade.
- Formulações: sulfato ferroso é acessível e eficaz; preparações como ferripolimaltose ou ferro bisglicinato podem ser alternativas em casos de intolerância gastrointestinal.
- Administração: melhor absorção em jejum; evitar concomitância com café, chá, leite, antiácidos ou cálcio. Inibidores da bomba de prótons podem reduzir absorção — avaliar necessidade de terapia concomitante.
- Duração: manter por pelo menos 3 meses após normalização da hemoglobina, idealmente 6 meses, para repor estoques (ferritina).
Uma resposta terapêutica inicial esperada é o aumento do número de reticulócitos em 5–7 dias e incremento da hemoglobina de ~1 g/dL a cada 2–4 semanas.
Reposição intravenosa de ferro
Indicada quando há intolerância ou má absorção ao ferro oral, anemia grave que necessita correção urgente, perda sanguínea contínua significativa ou quando se planeja cirurgia. Preparações modernas permitem doses maiores em infusão única ou poucas sessões; a administração deve ser feita em ambiente com monitorização e protocolo para reação anafilactoide. Em pacientes com doença inflamatória intestinal ativa ou doença renal crônica, a via IV frequentemente apresenta melhor eficácia.
Transfusão sanguínea
Indicada apenas em casos de instabilidade hemodinâmica ou anemia severa sintomática que exija correção imediata. Preferir reposição de ferro para correção eletiva sempre que possível.
Investigação e tratamento da causa
Tratar a causa subjacente é essencial para prevenir recidiva. Entre as causas mais comuns estão:
- Perda sanguínea crônica: menorragia, úlceras pépticas, neoplasia gastrointestinal. Investigar conforme história e exame físico; endoscopia e colonoscopia conforme indicado.
- Má absorção: doença celíaca, gastrectomia, síndrome do intestino curto, uso prolongado de inibidores de bomba de prótons.
- Aumento das necessidades: gravidez, lactação, crescimento acelerado em adolescentes.
Recursos adicionais e recomendações práticas sobre manejo específico da anemia ferropriva podem ser consultados em revisões nacionais e guias clínicos: Anemia ferropênica no adulto: causas, diagnóstico e tratamento (SciELO) e Prevenção e tratamento da anemia nutricional ferropriva (SciELO). Um guia prático disponível online também descreve opções de tratamento: Guia clínico sobre anemia ferropriva.
Monitoramento e seguimento
Recomendações de acompanhamento:
- Hemoglobina: avaliar a cada 2–4 semanas até normalização.
- Reticulócitos: aumento esperado 5–7 dias após início da terapia, sinal de resposta adequada.
- Ferritina sérica: reavaliar aos 3 meses para confirmar reposição de estoques; manter terapia por pelo menos 3–6 meses adicionais se necessário.
Para protocolos detalhados e ferramentas clínicas que auxiliam no manejo e no seguimento da anemia ferropriva, consulte também a página de referência interna: manejo clínico da anemia ferropriva.
Manejo e seguimento na prática clínica: recomendações práticas
- Confirme o diagnóstico com hemograma e ferritina antes de iniciar reposição.
- Escolha ferro oral como primeira opção, ajustando dose e formulação à tolerância.
- Investigue causas de perda de sangue (ginecológica e gastrointestinal) e trate a etiologia; use colonoscopia quando indicado para exclusão de neoplasia.
- Considere ferro intravenoso em falha ou necessidade de correção rápida; assegure monitorização para reações.
- Acompanhe hemoglobina e ferritina até recuperação completa e mantenha terapia protetora quando indicado.
A conduta adequada combina reposição segura de ferro, investigação da causa e seguimento sistemático para prevenir recorrência. Integrar recomendações nacionais e revisões científicas ao cuidado clínico melhora desfechos e segurança do paciente.
Referências externas e leituras recomendadas estão incorporadas nos trechos anteriores para facilitar consulta rápida durante a prática clínica.