Dislipidemia na atenção primária: tratamento e adesão
Introdução
Como reduzir o risco cardiovascular na prática diária da Atenção Primária à Saúde? A dislipidemia é um dos principais fatores de risco modificáveis para eventos cardiovasculares e, em casos de triglicerídeos muito elevados, para pancreatite. Neste artigo voltado a profissionais de saúde apresentamos classificação, metas, terapias e estratégias práticas para melhorar a adesão ao tratamento em serviços de atenção primária.
Classificação, diagnóstico e estratificação de risco
Achados laboratoriais e definições básicas
A avaliação inicial deve incluir perfil lipídico em jejum (ou não jejum conforme protocolos locais), com atenção especial a LDL-c, HDL-c, triglicerídeos e colesterol total. Classificações comuns incluem hipercolesterolemia isolada, hipertrigliceridemia e dislipidemia mista. Triglicerídeos >500 mg/dL elevam o risco de pancreatite aguda e demandam abordagem imediata.
Estratificação do risco cardiovascular e metas
As metas terapêuticas devem ser individualizadas conforme o risco cardiovascular global (baixo, moderado, alto, muito alto). Em pacientes de alto risco e muito alto risco o alvo primário é a redução do LDL-c com metas mais rígidas, seguindo diretrizes locais e internacionais. Consulte protocolos nacionais para fluxos de atenção primária e prevenção de eventos cardiovasculares para detalhes aplicáveis ao seu serviço.
Tratamento farmacológico: quando e como intensificar
Estatinas: primeira linha
As estatinas são a base do tratamento para redução de LDL-c. Use intensidade de estatina (baixa, moderada, alta) conforme a meta de LDL-c e tolerância. Monitorize transaminases e sintomas musculares; siga protocolos para diagnóstico de intolerância e estratégias de reintrodução.
Para revisão prática sobre intolerância e miopatias relacionadas a estatinas, o time pode consultar material do blog sobre intolerância às estatinas.
Ezetimiba, inibidores de PCSK9 e fibratos
- Ezetimiba: opção add-on quando a estatina isolada não atinge a meta de LDL-c.
- Inibidores de PCSK9: indicados para pacientes com risco muito alto ou hipercolesterolemia familiar sem controle com estatina + ezetimiba.
- Fibratos: considerados em hipertrigliceridemia significativa e para reduzir risco de pancreatite quando TG >500 mg/dL; avaliar benefício individual em redução de eventos ateroscleróticos.
Sequência prática na APS
Inicie com estatina em alta/moderada intensidade quando indicado; reavalie LDL-c 6–12 semanas após início ou ajuste. Se meta não atingida, adicionar ezetimiba; considerar PCSK9 conforme risco e acesso. Em casos de triglicerídeos muito elevados adotar medidas para redução rápida do risco de pancreatite.
Modificações no estilo de vida e ações não farmacológicas
Intervenções sobre dieta, atividade física, cessação do tabagismo, redução do consumo de álcool e controle do peso são essenciais e frequentemente subestimadas. Planeje aconselhamento breve durante consultas, encaminhamentos para grupos de atividade física e apoio nutricional.
Materiais e fluxos sobre ações de nutrição para prevenção cardiovascular podem ser integrados ao cuidado por meio do recurso disponível em: nutrição prática para prevenção cardiovascular.
Estratégias para melhorar a adesão ao tratamento
Intervenções em equipe multiprofissional
A adesão ao tratamento na atenção primária melhora com intervenções dirigidas por farmacêuticos, agentes comunitários de saúde e equipe de enfermagem. A reconciliação medicamentosa, consultas de acompanhamento estruturadas e educação terapêutica aumentam persistência e adesão.
Veja abordagens práticas de educação terapêutica e adesão que podem ser adaptadas no consultório: educação terapêutica para adesão.
Uso de tecnologias e programas de apoio
- Mensagens SMS e aplicativos móveis para lembretes e reforço educacional.
- Programas de subsídio para aquisição de medicamentos, que demonstraram impacto positivo na adesão.
- Telemonitoramento e ensaios de intervenções digitais como complemento ao cuidado presencial.
Intervenções combinadas — educação, facilitação de acesso ao medicamento e uso de tecnologia — apresentam melhores resultados do que ações isoladas.
Implementação na prática da atenção primária
Recomendações práticas para rotina em APS:
- Rotina de triagem de risco cardiovascular com registro estruturado e acompanhamento longitudinal.
- Fluxo para atingir metas de LDL-c: iniciar estatina → reavaliar 6–12 semanas → adicionar ezetimiba ou escalar terapia conforme necessidade.
- Protocolos locais para manejo de triglicerídeos altos e prevenção de pancreatite.
- Integração com farmacêuticos clínicos e agentes comunitários para reforço de adesão e suporte ao paciente.
Material complementar e guias locais (protocolos clínicos) devem ser consultados para adequação às políticas de cada serviço. Um recurso útil para alinhamento com diretrizes brasileiras encontra-se no Protocolo Clínico estadual disponível online.
Referências e leituras recomendadas
Para fundamentar decisões clínicas, consulte o Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas da Dislipidemia e as recomendações internacionais adaptadas pela American Heart Association, que oferecem algoritmos de prevenção primária. Evidências sobre estratégias de adesão na Atenção Primária estão sumarizadas em revisões sistemáticas e bases de dados como a BVS.
Leituras de referência complementares:
- Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas da Dislipidemia (BR)
- Diretrizes da American Heart Association (algoritmo adaptado)
- Estratégias de adesão ao tratamento na Atenção Primária (BVS)
Fechamento e orientações práticas
Na Atenção Primária, o manejo eficaz da dislipidemia exige combinação de estratégias de tratamento farmacológicas e não farmacológicas, com ênfase em metas baseadas no risco cardiovascular. Priorize a identificação precoce, use estatinas como primeira linha e escale terapias quando necessário. Para otimizar resultados, implemente intervenções de adesão envolvendo farmacêuticos, enfermagem e agentes comunitários, apoiadas por ferramentas digitais e políticas que facilitem o acesso a medicamentos.
Integre esses fluxos ao prontuário e às consultas de seguimento; pequenas mudanças sistemáticas no fluxo assistencial tendem a gerar grande impacto na prevenção cardiovascular populacional. Para materiais práticos e protocolos locais, consulte também posts do nosso blog sobre manejo prático e metas terapêuticas da dislipidemia: manejo prático na APS, metas e terapias e ações nutricionais.