Doença celíaca: diagnóstico e manejo nutricional

Doença celíaca: diagnóstico e manejo nutricional

Introdução

Você suspeita de doença celíaca em um adulto com anemia inexplicada, diarreia crônica ou osteopenia? Com prevalência global estimada entre 0,5% e 1%, a apresentação adulta é frequentemente atípica e exige alto índice de suspeição para garantir um diagnóstico oportuno e reduzir complicações a longo prazo.

1. Aparência clínica: sinais típicos e sinais atípicos

Na prática clínica adulta, a doença celíaca pode manifestar-se de forma clássica ou com sintomas predominantemente extraintestinais. Identificar esses padrões é essencial para não atrasar o diagnóstico.

Sintomas gastrointestinais comuns

  • Diarreia crônica ou esteatorréia
  • Distensão abdominal, dor abdominal intermitente
  • Perda ponderal e sinais de má-absorção

Sintomas extraintestinais frequentemente subdiagnosticados

  • Anemia por deficiência de ferro refratária ao tratamento convencional
  • Osteopenia/osteoporose precoce e fraturas de fragilidade
  • Fadiga, infertilidade, neuropatia periférica

Para aprofundar a abordagem diagnóstica de anemias com possível etiologia intestinal, consulte também o material do blog sobre anemia ferropriva em adultos.

2. Estratégia diagnóstica prática

O diagnóstico combina triagem sorológica, confirmação histológica e seleção criteriosa de exames auxiliares.

Testes iniciais

  • Dosagem de anticorpos anti-transglutaminase tecidual (anti-tTG IgA) — alta sensibilidade/specificidade.
  • Anticorpos anti-endomísio (EMA) para confirmar sorologias discrepantes ou de alto valor preditivo.
  • Medir IgA total para excluir deficiência de IgA; em caso de deficiência, usar anti-tTG IgG ou outros marcadores.

Confirmação e exames complementares

  • Endoscopia com biópsias do duodeno (múltiplas amostras) para demonstrar atrofia vilositária — padrão-ouro.
  • HLA-DQ2/DQ8: útil para excluir doença quando negativo (alto valor preditivo negativo), especialmente em casos duvidosos ou quando a biópsia não é conclusiva.
  • Avaliar outras causas de lesão villosa (SIBO, DII, medicamentos) e solicitar testes conforme o contexto clínico.

Recomenda-se manter o paciente consumindo glúten até o diagnóstico definitivo para evitar falso-negativo sorológico ou histológico.

3. Manejo nutricional e tratamento

O único tratamento efetivo da doença celíaca é a tratamento sem glúten vitalício. Na prática, o manejo exige coordenação multidisciplinar, com ênfase em educação e apoio nutricional.

Princípios do tratamento

  • Dieta estritamente isenta de glúten (trigo, cevada, centeio) — orientações claras sobre contaminação cruzada.
  • Encaminhar para nutricionista experiente em doença celíaca para plano alimentar individualizado.
  • Avaliar e tratar deficiências nutricionais comuns: ferro, folato, vitamina B12, vitamina D, cálcio, zinco e albumina quando indicados.

Para estratégias de prevenção de deficiências nutricionais e educação sobre suplementação, o conteúdo sobre prevenir deficiências nutricionais em adultos pode ser um complemento útil.

Casos de não resposta ao tratamento

  • Confirmar adesão dietética (anamnese detalhada, apoio do nutricionista).
  • Investigar causas de má resposta: consumo inadvertido de glúten, SIBO, doença refratária à doença celíaca, outras etiologias de má-absorção.
  • Encaminhar para centro especializado se suspeita de doença celíaca refratária.

4. Monitorização e seguimento

A monitorização deve avaliar adesão à dieta, recuperação mucosa e prevenção de complicações como osteoporose e deficiências micronutricionais.

Recomendações práticas de seguimento

  • Dosagem de anti-tTG (ou EMA) aos 6 e 12 meses após início da dieta e depois anualmente até estabilização; níveis decrescentes sugerem boa adesão.
  • Exames laboratoriais: hemograma, ferritina, ferro, folato, vitamina B12, 25(OH)D e eletrólitos conforme quadro clínico.
  • Avaliação de densidade mineral óssea (DEXA) na faixa de diagnóstico ou se fatores de risco para osteoporose estiverem presentes; repetir conforme resultados e risco.
  • Avaliar doenças autoimunes associadas (tiroidite autoimune, diabetes tipo 1) conforme histórico e sinais clínicos.

Quando reconsiderar biópsia

Se sorologia permanece positiva ou se sintomas persistem apesar de adesão aparente, considerar nova avaliação endoscópica com biópsias e investigação para doença refratária.

5. Integração na prática clínica e encaminhamentos

Na atenção primária e ambulatorial, estratégias práticas ajudam a melhorar detecção e manejo:

  • Mantenha suspeita diagnóstica diante de anemia ferropriva, perda óssea precoce ou sintomas gastrointestinais crônicos.
  • Orientar pacientes sobre leitura de rótulos e risco de contaminação cruzada; apoio dietético é central para adesão.
  • Encaminhar para gastroenterologista quando houver dúvida diagnóstica, biópsia inconclusiva, má resposta terapêutica ou suspeita de doença refratária.

Um resumo sobre diagnóstico e manejo específico para adultos está disponível no post do blog dedicado ao tema: doença celíaca em adultos: diagnóstico e manejo.

Fechamento e insights práticos

Para profissionais, reconhecer as apresentações atípicas e usar uma sequência lógica de sorologia, confirmação histológica e suporte nutricional é essencial. Testes sorológicos (anti-tTG e EMA) aliados à biópsia continuam sendo a base do diagnóstico, enquanto a intervenção principal permanece sendo a dieta sem glúten rigorosa. Monitore adesão e recuperação com sorologias e controle das deficiências nutricionais para reduzir risco de complicações como osteoporose. Para orientação prática sobre triagem e acompanhamento de comorbidades nutricionais, veja também o material do blog sobre prevenção de deficiências nutricionais e a abordagem da anemia ferropriva em adultos.

Referências externas que fundamentam este resumo clínico incluem uma revisão prática disponível na Revista Médica de Minas Gerais para caminhos diagnósticos (rmmg.org — revisão diagnóstico), um artigo clínico com enfoque em manejo nutricional e impacto da dieta (rmmg.org — manejo nutricional) e uma visão geral consolidada na Wikipédia em português para contexto epidemiológico. Use essas fontes como apoio ao raciocínio clínico e sempre alinhe condutas às diretrizes locais e ao julgamento especializado.

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