Doença de Lyme: diagnóstico e manejo para profissionais de saúde
A Doença de Lyme é uma infecção transmitida por carrapatos do gênero Ixodes, causada principalmente por Borrelia burgdorferi. Seu reconhecimento precoce e o manejo baseado em evidência reduzem complicações articulares, neurológicas e cardíacas. Este texto resume pontos essenciais para a prática clínica, com orientações diagnósticas, opções terapêuticas e medidas de prevenção aplicáveis na atenção primária e especializada.
Doença de Lyme: diagnóstico
O diagnóstico combina anamnese, exame físico e exames laboratoriais. A presença de eritema migratório é altamente sugestiva e, quando presente, permite iniciar tratamento sem necessidade de confirmação sorológica imediata. Em outros casos, solicite sorologia em duas etapas: ELISA seguido de Western blot para confirmação em amostras apropriadas. Para manifestações neurológicas ou cardiológicas graves, a PCR em líquido cefalorraquidiano ou em biópsia de tecido pode auxiliar na detecção direta do agente.
Ao avaliar pacientes com sintomas inespecíficos (fadiga, mialgia, cefaleia) investigue histórico de exposição a áreas com vegetação e presença de carrapatos. Diferencie de outras condições que simulam Lyme, como doenças autoimunes, viroses e síndromes neurológicas inflamatórias.
Exames complementares e interpretação
- ELISA: teste de triagem; alta sensibilidade nas fases mais tardias.
- Western blot: confirmação, interpretado conforme critérios laboratoriais válidos.
- PCR: indicado em líquido cefalorraquidiano, sinovial ou biópsia quando suspeita de comprometimento neurológico ou articular persistente.
Doença de Lyme: manejo e tratamento
O tratamento é antimicrobiano e deve ser individualizado pelo estágio clínico e pelas manifestações:
- Fase localizada precoce (eritema migratório): doxiciclina 100 mg VO 12/12h por 10–14 dias (em adultos), amoxicilina 500 mg VO 8/8h por 14 dias ou cefuroxima axetil 500 mg VO 12/12h por 14 dias.
- Fase disseminada precoce com acometimento neurológico: ceftriaxona 2 g IV 24/24h por 14–21 dias; alternativas incluem cefotaxima ou penicilina G IV conforme quadro clínico.
- Artrite de Lyme (fase tardia): cursos mais prolongados de antibiótico oral (por exemplo, doxiciclina ou amoxicilina por 28 dias) ou antibioticoterapia IV se refratário ou com sinais de envolvimento sistêmico.
Ao prescrever antibióticos, considere princípios de uso racional e duração apropriada para minimizar efeitos adversos e resistência; para orientação prática sobre estratégias de prescrição e adesão, consulte materiais sobre prescrição racional de antibióticos e uso ambulatorial em infecções comuns uso racional de antibióticos.
Para casos com sintomas cardíacos (por exemplo, bloqueios de condução), monitorize o ritmo e encaminhe quando houver instabilidade hemodinâmica; orientações práticas sobre abordagem de dor torácica e triagem no pronto-socorro podem ser úteis em decisões de encaminhamento abordagem prática da dor torácica.
Seguimento e complicações
Monitorize resposta clínica dentro de semanas após o início da terapia. Artrite persistente pode responder a reavaliação e, raramente, a antibioticoterapia adicional. Sintomas somáticos prolongados sem evidência de infecção ativa devem ser avaliados de forma multidisciplinar, evitando ciclos repetidos de antibiótico sem indicação. Em casos neurológicos, coordene investigação com neurologia e considere exame de imagem e monitorização neurofisiológica conforme o quadro.
Prevenção e orientação ao paciente
Eduque sobre medidas práticas: evitar áreas com alta vegetação, uso de roupas protetoras, repelentes à base de DEET ou permetrina (em tecidos) e inspeção corporal após exposição. A remoção precoce do carrapato reduz o risco de transmissão. Para informações atualizadas sobre prevenção e vigilância consulte as diretrizes internacionais e fontes públicas confiáveis, como CDC (CDC – Lyme disease), as recomendações da IDSA (IDSA 2020) e orientações da American Academy of Neurology (AAN).
Ao orientar pacientes, destaque sinais de alarme que exigem avaliação urgente: febre alta persistente, sinais de meningite, bloqueio cardíaco (tontura, síncope) ou artrite com limitação funcional. Registre exposição e evolução clínica para facilitar rastreio e eventual necessidade de investigação adicional.
Em resumo, o reconhecimento do eritema migratório e a estratificação clínica são centrais para a decisão terapêutica. Empregue sorologia de forma criteriosa, adote esquemas antibióticos conforme estágio e manifeste cautela com reexposições a antimicrobianos sem indicação. Integre prevenção e educação ao paciente na prática diária para reduzir incidência e complicações da Doença de Lyme.
Referências e leituras recomendadas: CDC — página sobre Doença de Lyme; IDSA guideline 2020; AAN guideline para manifestações neurológicas. Atualize condutas conforme novas evidências e protocolos locais.