Uso racional de antibióticos em infecções respiratórias

Uso racional de antibióticos em infecções respiratórias

Introdução

As consultas por infecções respiratórias agudas (IRAs) são extremamente comuns na prática ambulatorial. Você tem certeza de que todo quadro com tosse ou coriza precisa de antibiótico? A maioria é viral — o uso indiscriminado de antimicrobianos alimenta a resistência antimicrobiana e compromete o cuidado futuro. Este texto foca em critérios de indicação, duração e monitorização de efeitos para orientar decisões seguras e baseadas em evidência.

1. Diagnóstico diferencial: viral x bacteriano

1.1 Quadro clínico e sinais de alerta

Nem sempre é trivial distinguir etiologia viral de bacteriana. Procure sinais que aumentem a probabilidade de bactérias: febre alta persistente, dor focal (ex.: dor facial intensa na sinusite), início súbito com odinofagia e exsudato faríngeo (sugerindo faringite estreptocócica), sintomas que pioram após melhora inicial (duplo pico) e sinais sistêmicos. Avalie também comorbidades que aumentam risco de complicações.

1.2 Testes point‑of‑care que auxiliam a decisão

  • Teste rápido para Streptococcus do grupo A (TRST) na faringite quando indicado.
  • CRP e outros marcadores podem reduzir prescrição desnecessária quando usados de forma protocolada.
  • Radiografia ou exames adicionais apenas quando suspeita de pneumonia ou complicação.

O uso racional de testes complementares associado à anamnese e exame físico reduz uso inadequado de antibióticos.

2. Critérios para prescrever antibióticos em IRAs ambulatoriais

2.1 Princípios gerais

  • Prescrever apenas quando há confirmação bacteriana ou forte probabilidade clínica de benefício que supere riscos (alergia, efeitos adversos, seleção de resistência).
  • Considerar fatores de risco do paciente: idade, comorbidades, imunossupressão, uso recente de antibióticos.
  • Preferir estratégias como prescrição tardia (delayed prescription) quando apropriado, para reduzir consumo.

2.2 Indicações clínicas mais frequentes

  • Faringite estreptocócica documentada (TRST positivo) — tratar para prevenir complicações e reduzir transmissão.
  • Sinusite bacteriana aguda com sinais de gravidade ou sintomas prolongados/severos conforme critérios clínicos.
  • Pneumonia adquirida na comunidade com indicação de tratamento oral ambulatorial.
  • Otite média aguda em crianças com critérios clínicos específicos (idade e severidade) — seguir guideline local.

Para orientações detalhadas sobre prescrição ambulatorial veja documentos e recomendações locais, por exemplo em prescrição racional de antibióticos e no material sobre manejo racional de antimicrobianos em IRAs.

3. Duração e escolha do tratamento

Adote a menor duração eficaz para reduzir efeitos adversos e seleção de resistência. As recomendações variam por síndrome e contexto clínico, mas princípios práticos:

  • Pneumonia ambulatorial: frequentemente pelo menos 5 dias, com avaliação clínica; interromper quando paciente estiver clinicamente estável por 48–72 horas.
  • Faringite estreptocócica: esquema com penicilina oral tradicionalmente por 10 dias; alternativas de duração encurtada (ex.: azitromicina) dependem do antibiótico escolhido e das diretrizes locais.
  • Otite média aguda: 5–7 dias em muitos casos, com ajuste segundo idade e gravidade.
  • Bronquite aguda e resfriado comum: geralmente não requerem antibiótico; tratar sintomas e reavaliar.

Consulte diretrizes locais e protocolos (ex.: sociedades brasileiras e documentos institucionais) ao definir regimes específicos.

4. Monitorização de efeitos adversos e segurança

Monitorize alergias, interações medicamentosas, função renal/hepática quando relevante e sinais de reação adversa grave. Oriente o paciente sobre:

  • Reações cutâneas, dispneia ou edema — buscar atendimento imediato.
  • Distúrbios gastrointestinais (náuseas, diarreia) — avaliar necessidade de suspensão ou troca.
  • Quando retornar para reavaliação: piora clínica, febre persistente, aparecimento de sinais de alarme.

Registre e reporte eventos adversos e avalie necessidade de ajuste de dose em insuficiência renal ou interações com outros fármacos.

5. Impacto da resistência e estratégias de stewardship

O uso inadequado de antibióticos é um dos principais motores da resistência antimicrobiana. Estratégias efetivas em ambulatório incluem:

  • Protocolos locais e programas de gerenciamento de antimicrobianos.
  • Educação de profissionais e pacientes sobre riscos e benefícios do tratamento.
  • Utilização de testes rápidos quando disponíveis e prescrição tardia quando apropriado.

Iniciativas nacionais e institucionais reforçam essas medidas — exemplos e comunicados oficiais podem ser consultados em publicações do governo e sociedades científicas (por exemplo, orientações de gov.br e posicionamentos de associações médicas).

6. Ferramentas práticas e educação contínua

Adote ferramentas simples para prática clínica:

  • Fluxogramas locais para sintomas respiratórios, integrando TRST e critérios clínicos.
  • Modelos de comunicação com pacientes para explicar a decisão de não prescrever (segurança e retorno).
  • Auditoria periódica das prescrições com feedback para profissionais.

Conteúdos úteis e guias de recomendações estão disponíveis em documentos técnicos e revisões sistemáticas; consulte, por exemplo, consensos e painéis de especialistas publicados em repositórios acadêmicos (UNIFESP) e diretrizes de sociedades médicas (AMB).

Fechamento e insights práticos

Para reduzir a resistência e melhorar desfechos, adote uma abordagem criteriosa: diagnostique com precisão, prescreva apenas quando indicado, utilize a menor duração eficaz e monitore efeitos adversos. Integre testes rápidos, comunicação eficaz com o paciente e participação em programas de stewardship. Para material prático sobre decisão ambulatorial veja também decisão para antibiótico em adultos e recursos sobre uso racional em IRAs.

Checklist rápido para a consulta:

  • Confirmar indicação clínica e/ou teste positivo antes de prescrever.
  • Escolher o antibiótico alvo, com menor espectro possível.
  • Prescrever a menor duração eficaz e instruir sobre sinais que exigem reavaliação.
  • Registrar alergias, revisar interações e monitorizar eventos adversos.

Pratique, eduque sua equipe e oriente seus pacientes: pequenas mudanças na prescrição fazem grande diferença para a saúde pública.

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