Doenças respiratórias ocupacionais: guia prático
Introdução
Quais práticas salvam pulmões no trabalho? As doenças respiratórias ocupacionais (DROs) continuam sendo causa importante de incapacidades e morte em trabalhadores expostos a poeiras, fumos, gases e vapores. Este guia, direcionado a profissionais de saúde, sintetiza prevenção, diagnóstico e manejo básico no ambiente laboral, com foco em ações viáveis imediatamente no consultório e na empresa.
1. Panorama e agentes de risco
Definição e classificação
As DROs englobam tanto as pneumoconioses (ex.: silicose, asbestose) quanto doenças não pneumocônicas como a asma ocupacional e bronquiolites. Identificar o agente etiológico (sílica, amianto, poeiras orgânicas, fumos metálicos, isocianatos etc.) é essencial para direcionar medidas preventivas e notificação.
Fatores de risco e epidemiologia
- Exposição crônica a partículas respiráveis (sílica, fibras de amianto).
- Exposição a gases e vapores irritantes ou sensibilizantes (isocianatos, anidrido ftálico).
- Condições de trabalho: ventilação insuficiente, processos secos, altas temperaturas que aumentam emissões.
Notificações e monitoramento populacional (ex.: dados do SINAN) ajudam a mapear riscos e priorizar intervenções.
2. Diagnóstico: anamnese, exames e vigilância
Importância da anamnese ocupacional
A anamnese ocupacional orienta toda a investigação. Pergunte sobre exposição atual e passada, tarefas, processos (jateamento, corte, perfuração), uso de EPIs, duração e intensidade da exposição, roupas de trabalho e hábitos (tabagismo). Para um roteiro prático, veja nosso material sobre anamnese do aparelho respiratório.
Exames essenciais
- Espirometria com pré e pós-broncodilatador quando há suspeita de obstrução ou asma ocupacional.
- Gasometria arterial quando há suspeita de alteração da troca gasosa ou doença intersticial avançada.
- Radiografia de tórax e, se indicado, TC de alta resolução para pneumoconioses.
- Avaliação por pneumologista quando necessário; testes de provocação ocupacional em centros especializados para confirmar asma ocupacional.
Programas de vigilância ocupacional como o PCMSO (NR-7) definem periodicidade de exames e rastreamento. Consulte orientações práticas sobre diagnóstico e manejo ambulatorial em diagnóstico e manejo de doenças respiratórias.
3. Prevenção no local de trabalho: níveis e medidas práticas
Hierarquia de controle
A prevenção segue três níveis:
- Primária — controle na fonte: substituição de materiais, processos úmidos, contenção e ventilação local (ex.: exaustores) conforme NR-9 e gestão do risco.
- Secundária — vigilância: exames periódicos (espirometria), monitorização ambiental e biomonitorização quando aplicável, integrados ao PCMSO (NR-7).
- Terciária — reabilitação: readequação de função, reabilitação profissional e programas de suporte para reintegração.
Equipamentos de proteção individual (EPIs) e treinamento
Fornecer e fiscalizar o uso de EPIs é obrigação do empregador (NR-6). Tipos recomendados:
- Respiradores descartáveis P2/P3 para poeiras e aerossóis.
- Respiradores com filtros adequados (respiradores elastoméricos) ou PAPR em ambientes com concentrações mais altas ou exposição prolongada.
- Treinamento contínuo sobre seleção, ajuste e conservação dos EPIs.
Medidas administrativas (rodízio de trabalhadores, redução do tempo de exposição) complementam os controles de engenharia.
4. Manejo básico e encaminhamentos
Condutas imediatas no local de trabalho
- Suspender exposição ao agente suspeito e avaliar necessidade de afastamento temporário.
- Registrar e notificar casos suspeitos conforme legislação e fluxos locais; notificação e dados auxiliam políticas (veja estudo epidemiológico em Revista Brasileira de Medicina do Trabalho).
- Rever controles ambientais e exigir ações corretivas ao empregador (medidas de engenharia, fornecimento de EPIs).
Plano clínico e reabilitação
- Tratamento sintomático e específico conforme diagnóstico (ex.: corticoterapia para crises asmáticas, reabilitação pulmonar em doenças crônicas).
- Encaminhar para pneumologia, fisioterapia respiratória e serviços de reabilitação ocupacional quando indicado.
- Considerar avaliação para fins de aposentadoria especial ou benefício conforme insalubridade e legislação vigente (NR-15).
5. Monitoramento, registro e referências práticas
Implementar programas integrados: PGR (NR-1), avaliação de riscos (NR-9) e PCMSO (NR-7). Ações de educação continuada e auditorias internas garantem adesão. Para orientações técnicas e posicionamentos científicos, consulte a comissão de doenças respiratórias ocupacionais da SBPT. Dados de vigilância e notificações do SINAN são fundamentais para resposta pública e planejamento.
Checklists rápidos para a consulta ocupacional
- Registro da exposição: agente, tempo, intensidade, tarefas específicas.
- Sintomas respiratórios: tosse, dispneia, chiado, evolução temporal e relação com trabalho.
- Exames: espirometria basal, radiografia/TC quando indicado, gasometria se necessidade.
- Ações administrativas: notificação, afastamento temporário, comunicação ao SESMT/NR responsável.
Fechamento
O controle efetivo das DROs exige integração clínica, vigilância ocupacional e medidas de controle no ambiente de trabalho. Priorize a anamnese ocupacional sistemática, use espirometria como ferramenta de rastreio e insista na hierarquia de controles e no uso adequado de EPIs. Para ferramentas práticas e materiais de consulta clínica sobre doenças respiratórias no ambulatório, acesse nosso guia sobre doenças respiratórias ocupacionais e o conteúdo sobre diagnóstico e manejo ambulatorial. Consultas regulares em ambientes de alto risco e a notificação sistemática (SINAN) fortalecem políticas preventivas e protegem trabalhadores.
Referências selecionadas: orientações da SBPT, artigo epidemiológico na Revista Brasileira de Medicina do Trabalho (Sinan/Campinas) e materiais do sistema de informação SINAN.