O que é insuficiência cardíaca preservada: sinais e manejo
Este texto foi elaborado por profissional de saúde para orientar médicos e oferecer explicações acessíveis a pacientes quando necessário. A insuficiência cardíaca com fração de ejeção preservada (ICFEP, também conhecida por HFpEF) corresponde a uma parcela crescente dos atendimentos em cardiologia e requer diagnóstico cuidadoso e manejo integrado das comorbidades, como hipertensão arterial, obesidade, diabetes e doença arterial coronariana.
insuficiência cardíaca preservada (ICFEP): definição e fisiopatologia
A ICFEP é uma síndrome clínica caracterizada por sintomas e sinais de insuficiência cardíaca com fração de ejeção do ventrículo esquerdo preservada (tipicamente ≥ 50%). A alteração fundamental costuma ser a disfunção diastólica: o ventrículo tem contratilidade relativamente preservada, mas apresenta baixa complacência e enchimento inadequado, resultando em elevação das pressões de enchimento e congestão pulmonar e sistêmica.
- Definição clínica: sintomas de insuficiência cardíaca (dispneia, fadiga, edema) associados a EF preservada e evidência de elevação das pressões de enchimento.
- Fisiopatologia: disfunção diastólica, rigidez ventricular, remodelamento intersticial, disfunção endotelial e microcirculação, além da contribuição de comorbidades sistêmicas.
- Diferenciais: doença valvar, doença pulmonar (asma, DPOC), anemia e outras causas de dispneia.
sinais de insuficiência cardíaca preservada
Os sinais e sintomas não diferem estritamente dos observados em outras formas de insuficiência cardíaca, mas o contexto clínico e os achados de exames complementares orientam o diagnóstico:
- Dispneia de esforço progressiva, ortopneia, edema periférico e fadiga.
- Crepitações bibasais e sinais de congestão venosa em exame físico.
- Ecocardiografia com EF ≥ 50%, aumento do volume atrial esquerdo, E/e’ elevado e sinais de hipertrofia ou aumento da massa ventricular esquerda.
- BNP ou NT-proBNP frequentemente elevados em presença de congestão, auxiliando na estratificação de risco.
avaliação complementar: ecocardiografia e biomarcadores
A ecocardiografia é a primeira ferramenta de imagem para confirmar alterações estruturais e funcionais. Parâmetros diastólicos (E/e’, velocidade do anel mitral, volume atrial esquerdo) e medidas de massa ventricular são fundamentais. Os peptídeos natriuréticos (BNP/NT-proBNP) ajudam a confirmar sobrecarga hemodinâmica e a diferenciar causas não cardíacas de dispneia.
fatores de risco e comorbidades relacionadas
A ICFEP é mais frequente em pacientes idosos, com predominância em mulheres, e em indivíduos com múltiplas comorbidades que contribuem para o fenótipo:
- Hipertensão arterial de longa evolução
- Obesidade, especialmente obesidade central
- Diabetes mellitus tipo 2
- Doença arterial coronariana e história de síndrome isquêmica
- Fibrilação atrial e outras arritmias
- Doenças valvares degenerativas e insuficiência renal crônica
Para entender nuances de apresentação em mulheres, consulte material adicional sobre doenças cardiovasculares em mulheres, que traz aspectos relevantes para ICFEP.
como confirmar o diagnóstico na prática clínica
O diagnóstico integra história clínica, exame físico, biomarcadores e imagem. Ferramentas de estratificação como os escores HFA‑PEFF e H2FPEF auxiliam na probabilidade clínica e indicam quando prosseguir para investigação invasiva.
- Suspeita clínica com sintomas típicos e EF preservada na ecocardiografia.
- Elevação de BNP/NT-proBNP corrobora congestão e indica maior probabilidade de insuficiência cardíaca.
- Em casos dúbios, teste de esforço com avaliação hemodinâmica ou cateterismo com mensuração de pressões de enchimento durante esforço podem esclarecer o diagnóstico.
Se houver dúvida sobre dor torácica concomitante, considere avaliação para causas isquêmicas e siga processos de triagem apropriados, como na abordagem da dor torácica.
manejo da insuficiência cardíaca preservada: medidas com evidência
O tratamento da ICFEP é multifatorial, com foco em alívio da congestão, controle de comorbidades e melhora da capacidade funcional:
alívio da congestão e diuréticos
Diuréticos (tiazídicos ou de alça conforme necessidade) são a base para controle de sintomas por redução de sobrecarga volêmica. Ajuste cuidadoso é necessário para evitar hipovolemia e deterioração da função renal.
terapias farmacológicas com impacto clínico
- SGLT2 inibidores: estudos recentes, incluindo EMPEROR‑Preserved, mostram redução de hospitalizações por insuficiência cardíaca com empagliflozina e dapagliflozina, mesmo em pacientes sem diabetes, e têm sido incorporados nas recomendações para muitos pacientes com HFpEF.
- ARNI (sacubitril/valsartana): evidências indicam benefício sintomático e em alguns desfechos em subgrupos; considerar conforme perfil clínico e tolerância.
- Antagonistas dos receptores mineralocorticoides (espironolactona): resultados heterogêneos, mas podem ser úteis em pacientes selecionados com retenção de volume persistente e hipertrofia/RAA elevada, com monitorização de K+ e função renal.
controle de comorbidades e intervenções não farmacológicas
- Controle rigoroso da hipertensão — controle pressórico reduz progressão da disfunção diastólica; para orientação prática, as diretrizes de hipertensão são recurso útil.
- Perda de peso e manejo metabólico em pacientes com obesidade e diabetes.
- Reabilitação e programas de exercício melhora capacidade funcional, sintomatologia e qualidade de vida.
- Tratamento de apneia do sono, controle de fibrilação atrial (ritmo/frequência) e correção de lesões valvares quando indicadas.
ações práticas para insuficiência cardíaca preservada
Na prática clínica diária, foque em:
- Suspeitar ICFEP em pacientes com dispneia de esforço e EF preservada, especialmente se tiverem hipertensão, obesidade, diabetes ou fibrilação atrial.
- Confirmar com ecocardiografia e BNP/NT-proBNP; usar escores (HFA‑PEFF, H2FPEF) para estratificar e indicar investigação invasiva quando necessário.
- Iniciar diuréticos para alívio de congestão e otimizar o controle de comorbidades (pressão arterial, glicemia, peso).
- Considerar SGLT2 inibidores conforme indicação e monitorar função renal e eletrólitos; avaliar ARNI/MRA conforme perfil individual.
- Encaminhar para reabilitação cardiopulmonar, programa de perda de peso quando indicado, e educação terapêutica para melhorar adesão e detecção precoce de descompensação.
Para contextos clínicos específicos e populações com risco diferenciado, é útil revisar material sobre risco cardiovascular em sobreviventes de câncer, que aborda monitorização em pacientes com história oncológica.
Resumo rápido para consulta
- Palavras-chave clínicas: ecocardiografia, BNP/NT-proBNP, SGLT2, hipertensão, obesidade, diabetes, diuréticos, reabilitação.
- Diagnóstico baseado em suspeita clínica + imagem + biomarcadores; investigação invasiva em casos ambíguos.
- Manejo individualizado: alívio de congestão, controle de comorbidades e programas de reabilitação para melhorar função e qualidade de vida.
Este conteúdo busca concisão e aplicabilidade imediata para a prática clínica brasileira, mantendo linguagem técnica quando necessária e clareza para orientação ao paciente. Para aprofundamento em temas correlatos, consulte as diretrizes e artigos indicados nos links incorporados no texto.