Manejo prático da anemia ferropriva na atenção primária

Manejo prático da anemia ferropriva na atenção primária

Público-alvo: profissionais de saúde. Este texto traz orientações práticas, baseadas em evidências, para o diagnóstico, tratamento e prevenção da anemia ferropriva em mulheres em idade fértil na atenção primária.

Introdução rápida e relevância clínica

A anemia por deficiência de ferro é uma das carências nutricionais mais frequentes entre mulheres em idade reprodutiva e tem impacto direto sobre desempenho laboral, cognição e desfechos obstétricos. Identificar e tratar precocemente na atenção primária reduz morbimortalidade materna e melhora qualidade de vida — como destacado em relatórios do Ministério da Saúde e revisões clínicas. Para aprofundar a importância de ações na atenção básica, veja o material do Ministério da Saúde e da SECAD integrados a práticas ambulatoriais.

1. Identificação e diagnóstico (fase prática)

Quando suspeitar

  • Sintomas: fadiga progressiva, fraqueza, tontura, intolerância ao exercício, palpitações, queixas cognitivas ou queda de rendimento.
  • Fatores de risco: menstruação abundante, gestação, dietas restritivas, cirurgia gastrointestinal, doenças inflamatórias ou uso crônico de AINEs/anticoagulantes.

Exames laboratoriais úteis e interpretação

Na prática, solicite:

  • Hemograma completo: Hb como primeiro corte (em mulheres não grávidas, Hb < 12 g/dL sugere anemia); avaliar VCM e reticulócitos.
  • Ferritina sérica: marcador de depósito — valores < 15 µg/L são muito sugestivos de deficiência; valores entre 15–30 µg/L podem indicar deficiência em contexto clínico compatível.
  • Quando houver inflamação ou suspeita de doença crônica, interpretar ferritina com cautela (aumenta como reagente de fase aguda). Nestes casos, considerar TSAT (saturação de transferrina) ou PCR para contextualizar.

Para orientações práticas detalhadas sobre rastreio e manejo na APS, confira nosso artigo técnico sobre rastreamento e manejo da anemia ferropriva na atenção primária.

2. Tratamento inicial e monitorização

Ferro oral — quando e como prescrever

  • Primeira escolha na maioria dos casos: terapia oral com ferro elementar (ferro sulfato, gluconato ou fumarato). Doses usuais: 60–100 mg de ferro elementar por dia. Uma formulação comum: sulfato ferroso 325 mg (≈65 mg de ferro elementar) uma vez ao dia ou em esquema dividido, conforme tolerância.
  • Esquemas alternativos: estudos recentes sugerem que doses diárias menores ou em dias alternados podem reduzir efeitos adversos e melhorar adesão; adaptar ao paciente e aos sintomas gastrointestinais.
  • Duração: manter até normalização da Hb e, adicionalmente, por 3 meses para repleção de estoques (total ≈ 3 meses após normalização do Hb).

Monitorização prática

  • Avaliar resposta clínica em 2–4 semanas; espera-se aumento de Hb ≈ 1 g/dL em 2–4 semanas.
  • Repetir hemograma em 4 semanas; se sem resposta (Hb não aumentou ≥1 g/dL), reavaliar adesão, absorção, causas de sangramento e considerar ferro IV.

Indicações e considerações para ferro intravenoso

Indicar ferro IV quando houver: intolerância significativa ao ferro oral, falha terapêutica comprovada, anemia grave que exige correção rápida, má-absorção (ex.: doença inflamatória intestinal, cirurgia bariátrica) ou perda sanguínea contínua. A decisão deve considerar disponibilidade local, logística e riscos; protocolos locais/utilização de preparações seguras devem ser seguidos.

3. Investigação das causas e seguimento na atenção primária

Tratar só a deficiência sem investigar causa pode levar a recorrência. Em mulheres em idade fértil, priorize:

  • Avaliação ginecológica para sangramento uterino anormal (encaminhar conforme protocolos locais).
  • Investigação de perdas gastrointestinais em presença de sinais de alerta (sangue oculto, emagrecimento, dor abdominal) com testes direcionados ou encaminhamento para endoscopia quando indicado.
  • Avaliação nutricional e orientação sobre dieta rica em ferro.

Conte com a equipe multiprofissional (enfermagem, nutrição, ginecologia) para abordagem integral — veja práticas de educação terapêutica e adesão em atenção primária para estratégias eficazes.

4. Prevenção, educação nutricional e atenção comunitária

Prevenção primária na atenção básica envolve:

  • Educação nutricional: incentivar consumo de alimentos ricos em ferro (carnes vermelhas, vísceras, aves, peixes, hortaliças verde‑escuras) e de vitamina C no mesmo alimento ou refeição para aumentar absorção.
  • Orientar a evitar inibidores de absorção (café, chá, leite e alguns antiácidos) nas refeições ricas em ferro.
  • Programas de acompanhamento pré-natal e consulta de planejamento reprodutivo para identificação precoce em gestantes e mulheres com ciclos menstruais abundantes.

Materiais de referência do Ministério da Saúde enfatizam o impacto materno perinatal da deficiência de ferro; integrar essas recomendações na rotina da APS melhora desfechos.

5. Comunicação, adesão e práticas de workflow

Sugestões práticas para otimizar a adesão e resultados:

  • Explicar ao paciente que a melhora de sintomas pode demorar semanas, mas que é esperado aumento de Hb em 2–4 semanas; combinar explicações verbais com folhetos ou mensagens de lembrança.
  • Usar ficha de seguimento com datas de retorno e exames; enfermeiros e agentes comunitários podem reforçar adesão e sinais de alerta.
  • Registrar condutas e resultados no prontuário para facilitar continuidade entre equipes.

Fechamento e insights práticos

Na atenção primária, a abordagem eficaz da anemia ferropriva em mulheres em idade fértil combina diagnóstico laboratorial direcionado, tratamento oral adequado com monitorização, investigação das causas e ações preventivas centradas na educação nutricional e na adesão. Em casos de falha terapêutica ou indicação clínica, a reposição intravenosa é opção segura quando bem indicada. Integrar essas ações ao fluxo da APS e usar materiais de referência nacionais (como os informes do Ministério da Saúde) e guias práticos (por exemplo, a abordagem da SECAD e revisões disponíveis na literatura) ajuda a reduzir a prevalência e melhorar desfechos maternos e neonatais.

Leituras complementares no nosso blog: Anemia ferropriva: prática ambulatorial, Rastreamento e manejo na APS, Diagnóstico e manejo inicial e Abordagem em mulheres adultas.

Referências externas citadas no texto: relatório do Ministério da Saúde, o artigo de abordagem na atenção primária pela SECAD e revisão sobre ações na atenção básica da NESCON/UFMPG (NESCON).

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