Manejo de infecção urinária em mulheres na atenção primária
A infecção do trato urinário (ITU) é uma das queixas infecciosas mais comuns entre mulheres. No contexto da atenção primária, o objetivo é diagnosticar com precisão, tratar de forma segura e reduzir recidivas, minimizando uso inadequado de antibióticos e resistência bacteriana. Este texto orienta o raciocínio clínico, as condutas iniciais e medidas preventivas, com foco em cistite e pielonefrite em mulheres adultas.
Sintomas de cistite e critérios diagnósticos
Na prática, o diagnóstico de cistite não complicada é essencialmente clínico. Os principais sinais e sintomas são disúria, polaciúria, urgência miccional e dor suprapúbica. Em mulheres sem sinais de complicação, a probabilidade pré-teste de ITU é alta quando há disúria combinada com urgência miccional.
Urocultura e análise de urina
A coleta de urina para análise e urocultura orienta o tratamento em casos atípicos, recorrentes ou quando há falha terapêutica. A presença de piúria ou leucocituria na análise indica inflamação; a urocultura confirma o agente e a sensibilidade, fundamental diante de suspeita de resistência bacteriana. Para detalhes sobre investigação e manejo inicial, consulte orientações práticas sobre manejo inicial da infecção urinária.
Antibioticoterapia: nitrofurantoína, fosfomicina e alternativas
A escolha empírica do antimicrobiano deve considerar o perfil clínico da paciente e os padrões locais de resistência. Para cistite não complicada, opções bem estabelecidas são:
- Nitrofurantoína (5 dias): eficácia comprovada para infecções vesicais sem suspeita de pielonefrite.
- Fosfomicina trometamol (dose única): conveniente e útil quando adequada ao perfil clínico.
- Trimetoprima-sulfametoxazol (3 dias): escolha válida se a resistência local for baixa.
Em infecções mais graves ou complicadas (suspeita de pielonefrite, presença de cateter, uropatia obstructiva), indica-se terapia mais abrangente, frequentemente com cefalosporinas de terceira geração ou, em casos selecionados, fluoroquinolonas, sempre avaliando riscos e benefícios. Para discussão sobre prescrição responsável e estratégias para reduzir uso inadequado de antimicrobianos, veja material sobre prescrição responsável de antibióticos na atenção primária.
Duração do tratamento
Para cistite não complicada: 3–5 dias, dependendo do fármaco. Para pielonefrite não complicada: geralmente 7–14 dias, conforme resposta clínica e escolha terapêutica. Em todas as situações, reavalie sinais sistêmicos e cultura quando disponível.
Prevenção de recorrências e adesão terapêutica
Reduzir recorrências exige medidas comportamentais e atenção à adesão ao tratamento. Recomendações práticas incluem aumento da ingestão hídrica, higiene íntima adequada (da frente para trás), evitar retenção urinária e revisar métodos contraceptivos que possam aumentar risco, como espermicidas.
A educação da paciente sobre completar o esquema antibiótico e reconhecer sinais de agravamento (febre, dor lombar intensa, vômitos) é crucial. Estratégias de adesão e acompanhamento podem ser complementadas por recursos da atenção primária sobre adesão terapêutica e medidas preventivas específicas para mulheres jovens e sexualmente ativas, descritas em protocolos locais de prevenção e manejo.
Quando encaminhar e sinais de alarme
Encaminhe para atenção especializada ou emergência diante de sinais de pielonefrite grave (febre alta, calafrios, dor lombar marcada), sepse, suspeita de uropatia obstrutiva ou em gestantes. Pacientes com episódios recorrentes (≥3 no ano) devem ser avaliadas para fatores predisponentes e, quando indicado, investigação urológica ou ginecológica.
Resumo e recomendações práticas
Na atenção primária, priorize diagnóstico clínico rápido para cistite não complicada, use antimicrobianos de primeira linha conforme protocolos e padrões locais, e reserve urocultura para casos atípicos, falha terapêutica ou recorrência. Eduque sobre medidas preventivas, avalie adesão e revise práticas contraceptivas quando relevante. Para atualizações de diretrizes e revisões, consulte fontes especializadas como BMJ Best Practice (Infecções do trato urinário – BMJ), análises clínicas atualizadas (Medscape: orientações sobre tratamento) e revisões de diretrizes europeias (atualizações EAU).
Aplicando essas diretrizes de forma contextualizada à realidade local e aos padrões de sensibilidade bacteriana, é possível reduzir complicações, limitar a emergência de resistência e melhorar a qualidade de vida das pacientes.
Referências selecionadas e leitura adicional: artigos e diretrizes clínicas citadas acima, além de revisões sobre prevenção de recorrência e estratégias de prescrição segura.