Polifarmácia em idosos: estratégias de desprescrição e segurança terapêutica

Polifarmácia em idosos: estratégias de desprescrição e segurança terapêutica

A polifarmácia — comumente definida como o uso de cinco ou mais medicamentos simultaneamente — é frequente entre pessoas idosas e aumenta o risco de interações medicamentosas, reações adversas e redução da funcionalidade. Este texto apresenta recomendações práticas, baseadas em evidências, para a revisão medicamentosa e a desprescrição segura, com foco na segurança terapêutica e na melhora da qualidade de vida.

Polifarmácia em idosos

O envelhecimento e a presença de multimorbidade fazem com que muitos idosos recebam vários fármacos para controlar doenças crônicas. Embora alguns esquemas sejam necessários, a polifarmácia desnecessária pode causar problemas como perda de independência, quedas e hospitalizações. Entre os pontos críticos estão:

  • Interações medicamentosas: efeitos farmacocinéticos e farmacodinâmicos que potencializam toxicidade ou reduzem eficácia.
  • Efeitos adversos e iatrogenia: sedação, hipotensão ortostática, hipoglicemia e alterações cognitivas, por exemplo.
  • Baixa adesão: esquemas complexos dificultam a adesão, comprometendo o controle das condições crônicas.

Fatores que favorecem risco farmacológico

Função renal e hepática reduzidas, polimorbidade, uso de benzodiazepínicos, anticolinérgicos e polifarmácia cumulativa são determinantes que aumentam o risco de reações adversas na geriatria. A avaliação periódica da medicação é essencial para mitigar esses riscos.

Desprescrição: quando e como

Desprescrição é o processo clínico de reduzir ou interromper medicamentos quando os riscos superam os benefícios ou quando a indicação original não é mais válida. O processo deve ser individualizado e compartilhado com o paciente e cuidadores.

Passos práticos para a desprescrição

  • Revisão medicamentosa completa: listar todos os medicamentos (prescrição, fitoterápicos e suplementos), indicar finalidade, duração e prescriptor.
  • Priorizar candidatos à descontinuação: fármacos sem indicação atual, duplicidades, medicamentos potencialmente inapropriados e aqueles associados a quedas.
  • Plano gradual e monitorado: quando necessário, retirar por fases (tapering), com critérios claros de reinício e seguimento clínico.
  • Envolver o paciente: discutir objetivos, expectativas e riscos; melhorar a literacia em saúde aumenta adesão ao plano. Consulte materiais sobre adesão terapêutica para estratégias práticas: adesão terapêutica.

Em pacientes com polipatologia, a desprescrição costuma exigir abordagem multidisciplinar; a integração com equipes de enfermagem, farmacêuticos e fisioterapia reduz eventos adversos e previne quedas — tema complementado em artigos sobre gestão de pacientes idosos: gestão da polipatologia em idosos.

Ferramentas e diretrizes relevantes

Algumas ferramentas auxiliam a identificar medicamentos potencialmente inapropriados e orientar decisões:

  • Critérios de Beers: lista amplamente utilizada para evitar medicamentos de risco em idosos (leitura útil em revisão brasileira: SciELO – Critérios de Beers).
  • STOPP/START: algoritmo que aponta medicamentos a suspender (STOPP) e a considerar iniciar (START), com forte aplicação clínica: STOPP/START – SciELO Portugal.
  • Iniciativas de segurança medicamentosa: recomendações internacionais para práticas seguras de prescrição e revisão medicamentosa (ver boas práticas da OMS: WHO – Medication Safety).

Estratégias para reduzir eventos adversos e quedas

Alguns medicamentos aumentam o risco de quedas e fragilidade — antipsicóticos, benzodiazepínicos, opioides e politerapia com agentes que causam hipotensão ou sedação. A redução ou substituição desses fármacos deve ser prioridade em idosos com história de quedas. Protocolos práticos de prevenção de quedas e avaliação funcional ajudam a combinar intervenções medicamentosas e não farmacológicas: prevenção de quedas na atenção primária.

Segurança terapêutica: práticas recomendadas

Para garantir segurança durante e após a desprescrição, recomenda-se:

  • Realizar reconciliacão medicamentosa em cada transição de cuidado.
  • Avaliar função renal e hepática antes de reduzir doses ou interromper fármacos com eliminação alterada.
  • Documentar claramente o motivo da descontinuação e os sinais de alerta para reiniciar o medicamento.
  • Programar retornos e exames laboratoriais para monitoramento de descompensação clínica.
  • Educar família e cuidadores quanto a sinais adversos, adesão e manejo de sintomas de abstinência.

Próximos passos para equipes de saúde

Profissionais devem incorporar revisões periódicas da medicação à rotina clínica, utilizar ferramentas como STOPP/START e Critérios de Beers, e articular cuidados multidisciplinares para reduzir polifarmácia prejudicial. A educação continuada e protocolos locais de desprescrição aumentam a segurança do tratamento e a autonomia do idoso.

Para aprofundar abordagens clínicas correlatas e protocolos práticos, consulte também conteúdos do nosso blog sobre gestão da polipatologia, adesão terapêutica e prevenção de quedas. A adoção sistemática dessas medidas contribui para terapias mais seguras e centradas no objetivo principal: melhorar a funcionalidade e a qualidade de vida das pessoas idosas.

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