Prescrição segura de AINEs em idosos: guia prático para avaliar risco renal, risco cardiovascular e alternativas eficazes

O uso de anti-inflamatórios não esteroides (AINEs) em idosos exige avaliação criteriosa: a reserva renal e cardiovascular diminui com a idade, a polifarmácia é comum e o risco de eventos gastrointestinais aumenta. Este guia pragmático, dirigido a profissionais de saúde, apresenta uma estratégia de decisão baseada em risco e opções alternativas seguras, incluindo paracetamol, analgesia tópica e intervenções não farmacológicas.

Avaliação pré-prescrição

Risco renal

Verifique creatinina e calcule eGFR antes de indicar AINEs. Pacientes com doença renal crônica (DRC), desidratação, uso de diurético ou combinação com IECA/ARA2 têm maior risco de injúria renal induzida por fármaco. Em idosos fragilizados, iniciar com dose reduzida e monitorar creatinina em 1–2 semanas.

Risco cardiovascular

Avalie histórico de insuficiência cardíaca, doença isquêmica, hipertensão não controlada e edema. AINEs podem causar retenção de sódio e piora da pressão arterial; em caso de múltiplos fatores de risco cardiovascular, prefira alternativas não anti-inflamatórias. Para orientação sobre controle pressórico na APS, consulte material sobre controle de pressão arterial e manejo da hipertensão.

Risco gastrointestinal

História de úlcera péptica, uso de anticoagulantes, inibidores seletivos da recaptação de serotonina (ISRS) ou corticoterapia aumentam o risco de sangramento GI. Considere proteção com inibidor de bomba de prótons (IBP) quando a exposição a AINEs for necessária e justificada.

Polifarmácia e fragilidade

Revise a lista de medicamentos: interações com diuréticos, IECA/ARA2, anticoagulantes e antitrombóticos são comuns. Avalie fragilidade, risco de quedas e limitações funcionais para priorizar intervenções não farmacológicas e reduzir dependência de AINEs.

Riscos específicos ao usar AINEs

Comprometimento renal e DRC

AINEs inibem a síntese de prostaglandinas, reduzindo perfusão renal em situações de dependência prostaglandínica (desidratação, diuréticos, DRC). Em idosos com eGFR < 60 mL/min/1,73 m², ponderar alternativas e monitorar função renal após início.

Eventos cardiovasculares

Uso crônico de alguns AINEs pode aumentar risco de infarto agudo do miocárdio e acidente vascular. Naproxeno tem perfil cardiovascular diferente do que se atribui a alguns outros AINEs; ainda assim, avaliar risco individual antes de prescrever.

Complicações gastrointestinais

Sangramentos, gastrite e úlceras são eventos relevantes e mais frequentes em idosos. Proteção GI com IBP deve ser considerada quando houver fatores de risco.

Opções terapêuticas e hierarquia prática

Paracetamol como primeira linha

Para dor leve a moderada, paracetamol (acetaminofeno) é escolha inicial por menor risco renal e cardiovascular. Em idosos, considerar até 3 g/dia de forma conservadora e ajustar conforme função hepática e idade.

Analgesia tópica e medidas locais

Formulações tópicas (diclofenaco tópico, capsaicina) reduzem exposição sistêmica e risco de nefrotoxicidade e eventos cardiovasculares, sendo preferíveis para dor localizada como osteoartrite de joelho ou epicondilite.

AINEs sistêmicos: quando estritamente necessários

Se for imprescindível usar AINEs, optar pela menor dose efetiva pelo menor tempo possível (dias a poucas semanas), acompanhar pressão arterial e função renal e considerar proteção GI. Em pacientes com alto risco GI e baixo risco cardiovascular, inibidores seletivos de COX-2 (por exemplo, celecoxibe) podem reduzir risco de ulceração, mas aumentam risco cardiovascular — decidir caso a caso.

Outras opções farmacológicas

Para dor neuropática ou mista, antidepressivos (duloxetina) e anticonvulsivantes (gabapentina, pregabalina) podem ser eficazes como parte de estratégia multimodal. Ópioides fracos têm indicações restritas e maior cuidado em idosos por sedação e risco de queda.

Dose, duração e ajustes em idosos

Inicie com dose reduzida (ex.: ibuprofeno 200 mg a cada 6–8 h se necessário) e reavalie em 3–7 dias. Evite uso crônico sem revisão periódica. Ajuste doses conforme eGFR, peso e presença de comorbidades (DRC, insuficiência cardíaca). Proteção gastrointestinal e monitoramento de sinais de sangramento são essenciais em uso prolongado.

Monitoramento e sinais de alerta

  • Reavaliação precoce: 1–2 semanas após início; se estável, a cada 4–8 semanas.
  • Sinais de alerta renal: oligúria, aumento da creatinina, edema e confusão.
  • Sinais cardiovasculares: piora da dispneia, edema de membros inferiores, ganho rápido de peso.
  • Sinais gastrointestinais: dor abdominal intensa, melena, hematêmese ou anemia aguda.
  • Monitore interações com anticoagulantes e ISRS pelo risco aumentado de sangramento.

Casos clínicos ilustrativos

Osteoartrite em idoso com DRC leve e hipertensão controlada

Paciente de 78 anos com dor de joelho, DRC estágio 2–3, em uso de IECA e diurético, história de úlcera há 5 anos. Estratégia: iniciar paracetamol e fisioterapia; se resposta insuficiente, usar diclofenaco tópico. Se AINE sistêmico for necessário, utilizar dose mínima e IBP protetor, com monitoramento de eGFR e pressão arterial. Para suporte no manejo da hipertensão e das comorbidades, consulte materiais sobre manejo da hipertensão e manejo da dislipidemia.

Dor lombar aguda em idoso anticoagulado e com gastrite prévia

Paciente de 82 anos, anticoagulação oral em uso e histórico de gastrite: evitar AINEs quando possível. Preferir paracetamol, analgesia tópica e técnicas não farmacológicas; se imprescindível, discutir risco com equipe e garantir proteção GI estrita e monitoramento próximo por 48–72 horas.

Para prevenção de quedas e reabilitação, que auxiliam na redução de dor crônica e dependência de analgésicos, incorpore intervenções descritas em prevenção de quedas.

Prescrição prática: priorize paracetamol e analgesia tópica; quando AINEs forem indispensáveis, use a menor dose por tempo limitado, avalie risco renal, cardiovascular e GI, envolva equipe multiprofissional (farmacêuticos, fisioterapeutas) e programe reavaliação precoce. A comunicação com o paciente e família sobre sinais de alerta e metas terapêuticas é fundamental para reduzir eventos adversos e manter qualidade de vida.

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