Principais causas de síncope no consultório: diagnóstico e manejo
A síncope — ou desmaio — é uma perda transitória da consciência causada por hipoperfusão cerebral aguda. No consultório, diferenciar rapidamente as causas é essencial para reduzir riscos, orientar investigações e decidir entre seguimento ambulatorial ou encaminhamento urgente.
Classificação das causas de síncope
As causas mais frequentes no atendimento primário e ambulatorial agrupam-se em três grandes mecanismos: síncope reflexa (vasovagal), síncope de origem cardíaca e síncope ortostática. A abordagem clínica inicial baseia-se em história dirigida, exame físico e eletrocardiograma. Para revisão didática, consulte material de referência clínica disponível online.
Síncope reflexa (vasovagal)
A síncope vasovagal é a forma mais comum e resulta de uma resposta vagal exagerada a gatilhos como estresse emocional, dor intensa, calor ou prolongado ortostatismo. Frequentemente há sinais prodrômicos (náuseas, sudorese, tontura) antes do desmaio.
Fatores predisponentes
- Ambientes quentes ou lotados;
- Jejum ou desidratação;
- Longos períodos em pé;
- História prévia de episódios semelhantes na família.
Sintomas prodrômicos
- Tontura e visão turva;
- Náusea e palidez;
- Sensação de calor e sudorese fria.
Diagnóstico
O diagnóstico é clínico. Em casos duvidosos, o teste de inclinação (tilt-test) pode reproduzir a resposta vasovagal e orientar o manejo; orientações práticas sobre avaliação estão descritas em guias e revisões especializadas.
Leitura complementar: síncope vasovagal — revisão clínica e como avaliar pacientes com síncope.
Manejo
- Educar o paciente para identificação e evitação de gatilhos;
- Manobras de contrapressão (aperto de punho, cruzar pernas) para abortar episódio;
- Hidratação e salina dietética quando indicado;
- Uso de meias elásticas em casos com componente de pooling venoso;
- Considerar terapêutica farmacológica (ex.: beta-bloqueador) apenas em casos selecionados e refratários.
Síncope cardíaca
A síncope de origem cardíaca exige atenção imediata: decorre de arritmias (taqui ou bradiarritmias), disfunção ventricular, estenose aórtica grave ou outras causas que reduzem abruptamente o débito cardíaco. Geralmente há menor pródromo ou o evento ocorre durante esforço, com risco aumentado de morte súbita.
Fatores de risco e sinais de alarme
- Idade avançada e história de cardiopatia isquêmica;
- Sopro novo, insuficiência cardíaca ou síncope durante esforço;
- ECG anormal (bloqueios, prolongamento do QT, sinais de isquemia).
Diagnóstico
A investigação inclui eletrocardiograma de 12 derivações, ecocardiograma, monitoramento ambulatorial (Holter/telemetria) e, se indicado, estudo eletrofisiológico. Para rastreamento de arritmias subclínicas, avanços em detecção por dispositivos vestíveis têm papel crescente.
Referência clínica: síncope de origem cardíaca e material sobre detecção de arritmias por dispositivos vestíveis.
Manejo
- Tratar a causa subjacente (revascularização, correção valvar, otimização de insuficiência cardíaca);
- Dispositivos implantáveis: marcapasso para bradiarritmias ou cardiodesfibrilador para prevenção de morte súbita, quando indicados;
- Ablação de arritmias em centros especializados;
- Ajuste de medicação que predispõe a síncope (antiarrítmicos, diuréticos em excesso).
Para detalhes sobre terapia com marcapasso e ressincronização: marcapasso e CRT — prática clínica.
Síncope ortostática
A síncope ortostática resulta da queda da pressão arterial ao assumir a posição ereta — definida pela redução de ≥20 mmHg na pressão arterial sistólica ou ≥10 mmHg na diastólica nos primeiros três minutos em pé. É frequente em idosos e em pacientes com polifarmácia ou disfunção autonômica.
Fatores precipitantes
- Desidratação e perda de volume;
- Antihipertensivos em doses elevadas;
- Doenças neurológicas com neuropatia autonômica.
Diagnóstico
Medir a pressão arterial em decúbito, sentado e em pé, correlacionando com sintomas. Em pacientes de risco, o monitoramento domiciliar da pressão arterial e exames adicionais ajudam a confirmar o diagnóstico.
Sugestão de leitura sobre monitorização: monitoramento da pressão arterial em idosos.
Manejo
- Rever e ajustar medicações hipotensoras;
- Hidratação e aumento de sal na dieta, quando indicado;
- Uso de meias compressivas e exercícios isométricos de pernas;
- Agentes farmacológicos (midodrina, fludrocortisona) em casos selecionados sob supervisão.
Avaliação prática no consultório
Passos essenciais para triagem e decisão imediata:
- Avaliar via ABC e estabilizar se necessário.
- Colher história dirigida: contexto do episódio (em repouso ou esforço), presença de pródromos, uso de medicamentos, comorbidades cardiovasculares.
- Realizar ECG de 12 derivações sempre que houver síncope.
- Identificar sinais de alarme que exigem encaminhamento urgente: síncope durante esforço, ausência de pródromos, ECG anormal, história de cardiopatia estrutural ou familiares com morte súbita.
- Planejar exames complementares conforme suspeita: Holter, ecocardiograma, teste de esforço, tilt-test ou estudo eletrofisiológico.
Quando houver suspeita de isquemia ou indicação de manejo cardiológico agressivo, protocolos de emergência e diretrizes de infarto devem ser consultados e o paciente encaminhado prontamente para atendimento especializado.
Referência prática: manejo do infarto agudo do miocárdio e descrição clínica geral sobre síncope.
Orientações práticas para o acompanhamento
Para reduzir recorrência e risco:
- Eduque o paciente e familiares sobre sinais de alerta e manobras abortivas;
- Revise medicações e otimize esquema terapêutico para evitar hipotensão excessiva;
- Solicite exames direcionados quando houver sinais de gravidade (ECG anormal, cardiopatia conhecida);
- Encaminhe para cardiologia ou emergência conforme critérios de alto risco; para arritmias detectadas, considere avaliação para terapia eletrofisiológica ou dispositivo implantável;
- Registre e acompanhe episódios em prontuário, com indicação clara de seguimento e educação sobre prevenção de quedas.
Conteúdos de apoio e revisão adicional sobre causas e manejo podem ser consultados em fontes especializadas: artigo clínico sobre síncope, recursos sobre síncope cardíaca e revisão prática sobre avaliação inicial em Artmed.
Resumo rápido: distinguir entre síncope reflexa, cardíaca e ortostática reduz riscos e guia a investigação. Sinais como ausência de pródromos, evento durante esforço ou ECG alterado aumentam a probabilidade de origem cardíaca e justificam investigação urgente. Para além do diagnóstico, estratégias simples — hidratação, revisão de medicamentos e meias elásticas — podem reduzir recorrência e melhorar a segurança do paciente.